sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

A BAZÓFIA (II)

 

O egoísta é derrotado, na maioria das vezes,

 por si mesmo e pela sua própria vaidade.

(David Saleeby)

 

 

A BAZÓFIA (II)

(Seguimento)

 


Um dos meus cuidados é não saturar o leitor - para isso já lhe bastam as agruras da vida.

Observei, no entanto, que o tema em questão foi bastante “reverenciado”, talvez por ir ao encontro de uma das realidades dos nossos dias - apesar de muito ter ficado por dizer. Por tal causa, optei por mais uma “lambuzadela” articular, na dimensão do juízo que faço sobre a matéria. A VAIDADE.

 

Sempre considerei a vaidade um dos condimentos necessários para a formação personalidade humana. Não deixo de dizer, contudo, que assemelho esse tempero ao sal - deve ser usada com parcimónia. Se assim não for, acaba por “salgar” em demasia a espírito das pessoas que não se sabem servir dela, criando-lhes grave desordem emocional, da qual resultam complicações próprias, que, por sua vez, se alargam ao mundo colectivo. É nesse mundo comunitário, que as criaturas excessivamente presunçosas, são motivo de caçoada ou acidificados comentários, cujos esporos rebentam com pujança noticiosa no canteiro do ridículo, sem que elas, disso dêem conta.

A presunção cega, não lhes permite terem uma reflexão nítida de que os outros se apercebem dessa fraqueza. Por isso, fazem do fingimento uma montada de tal relevância, que acabam por acreditar na sua própria ficção como sendo uma realidade. Desta fantasia resulta a criação de um coliseu emocional, onde a contradição e a coerência se digladiam, e as fazem essas pessoas, mártires de si próprias.  

São tidas como “magníficas” actrizes e simultaneamente “orgulhosas” observadoras numa plateia imaginária, que batem palmas em sinal de bajulação ao espectáculo caricato da luta entre suas próprias contradições e a lógica. Mas são assim. O mesmo que dizer: “armam-se em cavalo, quando a albarda foi talhada para o burro”.

Pode ser entendido o orgulho, como sinónimo de vaidade. Eu não o entendo desse modo. Vejo como orgulho, uma criatura desejar encantar a si mesma. Sentir-se confortável com o seu íntimo; estar feliz consigo própria. Isso sim, acredito ser orgulho.

Mas, aquele desejo vazio e doentio de querer ser o centro das atenções, com recurso ao exibicionismo e à jactância, confirmam a vaidade. A bazófia. Característica própria da reproductiva esperteza salóia.

O gato, quando enfrenta o perigo, arca o seu corpo e levanta o rabo, por acreditar que fica maior, para amedrontar o seu adversário – mas, aaai! Pobre felino!

A vaidade humana assemelha-se, sem quaisquer reservas, à manigância do gato; é o ardente e incontrolável desejo de algumas pessoas se mostrarem mais do que na realidade são, na mira de granjearem aplausos, mesmo que sejam tramas de pura dissimulação, para lhes presentear essa vaidade insalubre com alguma satisfação momentânea, os quais, sabem perfeitamente que não passam de cintilante falácia.

O excesso de vaidade, não contribui para a afirmação das pessoas como líderes, mas como seres tirânicos e implacáveis carrascos. Não sentem necessidade de amigos, mas de bajuladores; não querem empregados ou colaboradores, mas escravos de submissão incondicional.

As pessoas vaidosas em excesso, não incentivam, escravizam; não toleram, subjugam; nunca assumem a delito dos seus erros, carregam os outros com eles. São doentes sociais, mas em estado grave e de difícil recuperação – ou mesmo irrecuperáveis.

O que desejam no fundo, é a jubilação (falsa) do seu ego, constantemente depauperado por um desprazer frustrado, que uma ambição ilimitada excita e inflama, cujas consequências (sempre perniciosas), podem dissolver a estabilidade familiar e social ao cindir a pureza afecto e quebrar as correntes de união entre as verdadeiras amizades.

Já é demasiado serôdio, quando certificam que a sua atitude presunçosa, não fez mais do que garimpar hipocrisia no seio da sociedade que as circunda. A sensatez, nessas pessoas não teve “acento parlamentar” e inexistência dessa singularidade, quando o momento surge, invariavelmente configura um franco convite a acções corruptivas - aí as temos em franco progresso.

É pelo impulso da ostentação que muitas criaturas constroem castelos de cartas que se derrubam à mais delicada “ventania”. Não têm base de sustentação e são estructuramente mal equilibradas.

Compreendo que essa exibição anormal configure o Éden da sua satisfação. Porém, esse Olimpo, é o terreno mais favorável à germinação do desconhecimento e da ingratidão.

Guiados pela mão da vaidade, com abundante frequência são levadas a tomar decisões erradas e a investirem o que têm e o que não têm, para viverem o sonho de uma “opulência” balofa, que por norma, acaba em derrocada e deducional fracasso.

Aí chegados, inicia-se o segundo e mais arrefecido cenário: começam a ver que a sua própria família inaugura o seu afastamento; os “amigos”, paulatinamente, começam a desertar e o seu crédito na respeitabilidade a deflacionar. É o catre que construíram.

Depois, resta-lhes um mundo cheio de gente, no qual elas permanecem como desprezíveis sombras de um passado oniricamente “flauteado”, e vão existindo como seres errantes, sem qualquer valor dignificante, e, remetidas para a “estrumeira” social, o último refúgio para a sua necessitada existência, não como ser vivente, porém, chafurdam como criatura vegetante, à espera do epitáfio. O seu último símbolo de ostentação.

Acabei. Daqui p’rá frente não há mais sobre este tema.

António Figueiredo e Silva

 

Coimbra, 08/02/2021

 

http://antoniofsilva.blogspot.com/

Nota:

Faço por não usar o AO90

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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