segunda-feira, 17 de agosto de 2020

TECNOLOGIA AERONÁUTICA

 

A TECNOLOGIA AERONÁUTICA

 

Desde que o homem pensou em voar, começando na mitologia grega com a figura de Ícaro, o constructor de umas asas feitas de penas coladas a cerume, que, - pensava – lhe garantiriam, voando, a sua fuga de Creta - voou tão alto que o calor do astro-rei lhe derreteu a cera, vindo ele a cair e perecer nas águas do Mar Egeu – até ao grande Leonardo da Vinci que fantasiou e esboçou o seu hornitóptero, passando ao padre Bartolomeu de Gusmão, que idealizou e desenhou uma “máquina voadora” - cujo sonho nunca se materializou - a que chamou de Passarola, até ao francês Alberto Santos Dumont, considerado o pai da aviação, e os americanos irmãos Wright (aqui existe uma polémica, sobre quem foram os primeiros a elevar-se no ar, dentro de uma máquina voadora traccionada por um motor). O sonho do Homem era voar.

A determinação de cavalgar nos céus, tem-no forçado afincadamente a puxar pelos seus neurónios e fazer uso da heurística e da hermenêutica, com vista a descobrir, estudar e aperfeiçoar os materiais usados na construção aeronáutica, que devem primar pela leveza, flexibilidade e dureza.

Em princípio começaram a ser usadas estruturas de madeira, (balsa), cobertas de tela de linho; depois, armações híbridas, combinadas com madeira e alumínio e tela; posteriormente alumínio ensanduichado, titulado dural (duro alumínio), que era mais resistente, leve e flexível.

Porém, à medida que a ciência investigatória foi progredindo, assim o estudo da constituição molecular dos materiais a aplicar foi evoluindo, e novas estruturas moleculares foram criadas, para resistirem às forças de tracção, compressão e torção, a que uma aeronave está sujeita, com vista a resistir à fadiga do material, um dos principais inimigos da construcção aeronáutica, decorrentes da sua sujeição a vibrações, seguido da oxidação, alguma provocada pela da circulação de correntes estáticas geradas pela fricção do ar e também pela variação de temperaturas a que estes materiais são sujeitos, que não excluem a promoção da oxidação galvânica, uma vez que os constituintes metálicos de uma a estuctura, não têm a mesma composição, geram entre si diferenças de potencial eléctrico, que originam a circulação micro-correntes, que gradativamente vão transformando os metais em óxidos metálicos, afectando as suas características primárias, constituindo deste modo, riscos para a segurança estructural.

As variações de temperatura têm um grande efeito na causa da fadiga do material, porque provocam contracções e dilatações que se repercutem muito abaixo do nível molecular, e afectam, a chamada, *força de interacção forte, que é a força que mantém a estabilidade e a coesão nuclear nos átomos de um material, fragilizando deste modo a sua estrutura compactante. É daqui que resulta grande parte da tal fraqueza do físico metálico, o “papão” que mais dores de cabeça tem provocado nos estudos científicos e nos cálculos matemáticos para que a construcção de aeronaves e seus derivados, seja uma realidade na segurança que hoje podemos constatar.

Um dos metais habitualmente utilizados nos aparelhos de voo, é o titânio. Devido à sua resistência ao trabalho, às variações térmicas e de tensão, e pela sua densidade, granjearam uma aplicação bastante activa na aeronáutica – se bem que, mais pesado do que o alumínio, está determinado também, que é duas vezes mais resistente.

Após titãnica (não tem nada a ver com o titânio) contenda, os experts nesta matéria, conceberam os materiais compósitos, que vieram, não digo debelar, todavia, atenuar-lhes parte das dores de cabeça. Foram criadas as fibras de carbono. São de elevada resistência à fadiga, ultraleves e de extraordinária flexibilidade - particularidades que têm conquistado a construção de tudo aquilo que voa, e não só.

Actualmente existem aeronaves, em que a totalidade da sua fuselagem e toda a parte alar, são fabricadas com essas ditas fibras de carbono.

A aeronáutica é um mundo à parte de tudo. É um universo onde criatividade e invenção se completam e germinam, mas que a maioria das pessoas desconhece – até eu.

A primeira vez que ouvi falar e depois constatei, o que eram ondas ultrassónicas, foi na aeronáutica. Era um dos métodos de detecção de fracturas ou defeitos internos, em acessórios destinados construção de aviões. Actualmente, qualquer pessoa sabe o que é uma ecografia.

A primeira vez que utilizei um aparelho chamado boroscópio, foi para detectar possíveis defeitos nas alhêtas das turbinas dos reacatores dos Boeing 737. Agora, quase toda a gente sabe o que é uma endoscopia ou uma retossigmoidoscopia.

A aplicação de fibras ópticas aplicadas na aeronáutica, foram depois direccionadas para os caminhos da medicina convencional.

Presentemente, no fabrico automóvel, vem embutida muita tecnologia “importada” da aviação.

As centralinas – que são o cérebro das viaturas e do funcionamento das máquinas térmicas que as tracionam; medidores-de-massa-de-ar, turbo-compressores, sensores magnéticos, que vieram substituir vários modos de ligação ou interrupção eléctricos, cervo-freios e sistemas anti-derrapagem nos circuitos de freagem, direcções assistidas, etc.

A tecnologia aeronáutica, esteve e continua, na vanguarda dos sistemas tecnológicos, que primam pela segurança e pelo conforto, sendo parte dela irradiada para outras aplicações, incluindo as relacionadas com a saúde, no que diz respeito a materiais aplicados na cirurgia, imagiologia e outras, que de momento não me vêm à mente. 

Toda esta lengalenga, para quê?

Só para dizer que o A, E, I, O, U, que me concedeu os conhecimentos que me permitiram “voar” no hermetismo intricado do universo da tecnologia aeronáutica, foram, digo-o com orgulho, adquiridos na FORÇA AÉREA PORTUGUESA e complementados com todo o trajecto que me propus a seguir, graças a várias matérias que a minha obstinação e curiosidade natas me levaram a estudar com sustentada dedicação e inflexível entusiasmo.

Não posso também esquecer a DETA Linhas Aéreas de Moçambique - naquele tempo meu porto de abrigo - a Air Rhodesia em Salisbury, Rodésia, a TAP Transportes Aéreos Portugueses, (agora moribunda), em lisboa, Portugal) e a Fields Aviation, em Germiston, África do Sul.

A todas estas “escolas”, que naquela altura, através dos seus Centros de Formação Teórica e nos hangares, (prática), muito contribuíram para clivagem da minha formação tecnológica e para a acumulação de conhecimentos, que ainda hoje me permitem debater sobre a técnica aeronáutica, fiquei eternamente grato.

E, para rematar, acrescento: um Técnico da Aviação, não se faz com trinta horas de voo agarrado ao manche de um “papagaio”. Para ele, nem trinta anos a “mexer em parafusos, a torcer arames, a esticar cabos e fios eléctricos, ou a bulir em circuitos transistorizados”, são suficientes para atingir a perfeição absoluta. Para isso, é imprescindível acompanhar a desenvolvimento. A evolução está sempre presente, e, aquele ambiciona saber, não tem só de ler; tem de estudar e ampliar a profundidade dos seus conhecimentos a outras áreas da física, (Newtoniana), e até áreas da química. Não somente para memorizar, porém, para compreender.

Apesar da evolução da aeronáutica constituir uma proeza sem precedentes da invenção do Homem para realizar o seu sonho de voar, e ele se apetrechar de todos os cuidados e das mais sofisticadas tecnologias para esse efeito, o limite do perigo voa paralelamente à máquina, como o risco (red line) nos acompanha em todos os momentos da nossa existência.

Contudo, devo dizer que as aeronaves são seguras – quando inspeccionadas, reexaminadas, verificadas, corrigidas e testadas, com erudição e entendimento.

 

António Figueiredo e Silva

Coimbra, 16/08/2020

 

http://antoniofsilva.blogspot.com/

 

Nota:

Procuro não fazer uso do AO90

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