sexta-feira, 3 de julho de 2020

OLHA, É P'RA TI.


A verdadeira integridade não é uma opção;
todavia, um predicado do carácter.
Quem nasceu sem este sinete, jamais a terá.
(António Figueiredo e Silva)   

OLHA, É P‘RA TI.


Parece ser um frete, mas não é. Pelo apreço que tenho por ela, vou fazer a vontade à “velhinha”. Vou “encarnar” a sua voz trémula e revoltosa marcada por uma vida de sacrifício, num desalento, que, segundo revelou, só a tumba o curará. Ela, que sente esse desânimo pela desilusão e pela descrença em ti, pediu-me para, em linhas singelas, mas cristalinas, dar vida à combustão que lhe calcina a alma e lhe rói a paciência; tudo por tua causa. Sim, por tua causa. Por causa dos teus desmandos, da tua carência de moral, por não saberes ser gente – diz a “velhinha”.
Então:

“Olha bem p´ra mim e analisa a minha mimicada expressão, que, num ápice, ela dir-te-á tudo o que penso a teu respeito, seu traste ordinário; seu safardana.
É p‘ra ti, é. É mesmo a ti que quero dirigir-me, seu filho abastardado. Maldito, o útero que te concebeu e o alvo leite que assegurou a tua existência e te acostumou a ser mamão - vício que até hoje não conseguiste dissipar.
Fui sujeita a muitas agruras durante o meu trajecto de vida, p’ra que tu, meu mal-agradecido canalha, tivesses chegado aonde chegaste, graças aos contributos que ao longo da vida me foram extorquidos. Apesar de algumas reticências, sempre pensei que darias outra pessoa; mas, tão depressa abichaste uma posição de domínio ou de pseudo-influência, esqueceste-me. A mim, e a todos os que a mim se assemelham.
A vaidade e a ambição minaram-te e transformaram-te num ingrato e num bandalho, porque te esqueceste do auxílio que eu, e outros com eu, fomos obrigados a dar-te te, p’ra que tu fosses alguém de honra na puta desta vida; mas, afinal, por ironia do destino, tu transformaste-te num salafrário, lavrando a frio a sementeira do descontentamento, pela carência de injustiça, de moral e de ética.
Num vigarista, porque apontas o olhar p’ra a esquerda e as tuas intenções p’ra a direita, num ímpeto de ver qual dos lados melhor satisfaz os teus propósitos interesseiros e de sacanice.
Num ladrão de colarinho branco, porque te apoderaste-te injustamente, do que não te pertencia, com uma frieza que não consigo admitir.
Num deficiente governante, porque vês no teu umbigo o universo do qual te sentes senhor, com poder de” vida ou de morte”, atitude que tens gáudio em manifestar através tuas decisões, demitidas de qualquer moderação.
 Num péssimo “veterinário”, porque muitas vezes o pecúlio que cobras por uma consulta, não é justo, na medida em que nem sempre a tua erudição disso é merecedora, fazendo de ti, apenas um interesseiro caça-níqueis.
Num malévolo polícia, porque em certas ocasiões vês a lei com burricais antolhos e esqueces-te de conjugar a moral com a regra;
Num deplorável magistrado, por te deixares corromper pelos patacos e manipulares as regras, não a favor da razão, mas com vantagens para quem te paga subornadoras alvíssaras, por muito criminoso que tenha sido.
Num fracote jurista, porque também te dedicas a advogar, não só os inocentes, mas também aqueles que sabes de fonte limpa, serem infractores.
 Num malicioso fiscal, porque devias ver o lícito, e apenas examinas o que mais te convém para atafulhares o alforge que te permite levar a tua vida flauteada;
 Num frouxo leccionador, porque não foste talhado para isso, e, como tal, não passas de um “Esganarelo, Médico à Força”, a transmitir aos outros, em vez do saber, a essência da tua pretensiosa ignorância.
Num “sabido” bombeiro, porque, para te divertires ou para ganhares algum por detrás das carbonizações, até te dás ao trabalho imbecil, de, na canícula do verão, ateares alguns incêndiozitos.
Num malicioso funcionário, porque tens mania qu’és dono disto tudo, falas de cima da burra a quem solicita algo que é da tua obrigação, e, por um mísero cêntimo, deixas borrar o nome de quem contribui para o teu ordenado.
 Num convencido  “artista”, porque enquanto a vida te sorriu, andaste a “enganar” os outros com os teus malabarismos e piadas, encenando o que não eras, cantando alegremente como a cigarra no verão, p´ra investires carraspanas e “noitadas bem passadas, em tempos que já lá vão”, sem pôr tento ao teu futuro, e agora, com as brasas da velhice a queimar-te os calcanhares, com os queixos e o resto descaídos, lamentas-te da miserável reformita, com um “bailado” nervoso e tremelicado, ao som silencioso da desilusão, onde, agonizando, curtes o resto dos teus dias, a outra face da moeda do teu passado.
Resumindo: optaste por ser um indivíduo sem carácter; tornaste-te num verdadeiro “político”.
No meio de tudo, sei que não és feliz, porque o muito nunca te satisfaz.
Sim, isto que estou p’ráqui a dizer, é p’ra ti, seu casmurro - e p´ra todos os da tua igualha.
Fixa bem o teu olhar no meu dedo médio; se estivesses aqui, sabia bem o que te fazer; mas, se algum dia te apanho a jeito, enfio-to pelo esfíncter arriba, p’ra tu ficares a saber o que custa ser “sodomizado” por velhacos como tu, e da tua laia. E mais; com este machadito, velho e meio rombudo, deixo-te a salada num estado tal, que vais ficar incapacitado de aumentar a prole até à hora do teu arrefecimento.
É o que mereces, cá da velhota e encarquilhada, Aldina (?).

António Figueiredo e Silva
Coimbra, 03/07/2020

Nota:
Não faço uso do AO90  


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