quarta-feira, 10 de junho de 2020

PAI NOSSO


Em certas circunstâncias, um palavrão
 provoca um alívio inatingível até pela oração.

Pai Nosso
(Para os portugueses)

Pai Nosso que estais no Céu, enquanto nós estamos no Inferno, santificado seja o Vosso Nome, que o nosso já veio amaldiçoado pelo Pecado Original, por o nosso primeiro progenitor ter sido guloso e desobediente – vício que ainda hoje o persegue - e ter comido uma maçã, porque ambicionava saber demais – maldita serpente; venha a nós o vosso Reino, que deve ser bem melhor do que este que nos deixou o Centeno (Campainhas), em conivência com o Costa, que não presta, e entregaram-nos aos “leões”; seja feita a vossa vontade aqui nesta terra de alienados dromedários, assim como no Céu onde estais, que não faço ideia onde fica, mas, embora assistido de algum cepticismo, alimento a esperança de ser o destino de todos eles - e o meu; se mais não puder ser, o pão nosso de cada dia nos dai hoje, não sêco ou com uma mísera febra de bacalhau salgado, como antigamente, mas com um sabichinho fiambre, queijo, chouriço, salpicão ou presunto a servir de recheio, e, se possível, uma pingolêtazinha de tinto, para animar a tristeza da maior parte da burricada que não se sente feliz neste Reino de loucos, ladrões, vigaristas e imbecis, destituídos de quaisquer resquícios carácter, onde a justiça e a lei se transfiguraram em objecto de promiscuidade; perdoai-nos as nossas “canonizadas” ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido, não sem os deixarmos escapar incólumes às críticas, a uns murros na focinheira ou a umas pauladas, (ás vezes sem justeza), e não nos deixeis cair, em tentações fanáticas, como as corruptivas, libidinosas, cromáticas ou politiqueiras, apesar de serem dados estabelecidos, para se ser uma criatura vivente completa e “respeitada”; mas livrai-nos do Mal, (e desta cambada), mesmo que o façamos aos outros, por tolamente olvidarmos que esses outros podemos ser nós mesmos.
Ei! Man.

António Figueiredo e Silva
Coimbra, 10 de Junho de 2020
(Dia de Portugal)
 Nota:
O escriba recusou-se a usar o AO90


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