sexta-feira, 3 de abril de 2020

FALAR A SÉRIO


A melhor maneira de ser feliz,
é contribuir para a felicidade dos outros.
 (Confúcio)

FALAR A SÉRIO

Perante uma esta catástrofe de descomunal dimensão que assola todo o Globo, é compreensível a desorientação em que se encontram todos os governos dos países infectados, como é o caso de Portugal.
Este estado de espírito tem uma razão de causa, que atinge toda a gente, sem olhar às posições sociais distintas, que vão desde a mais miserável privação ao entronizado capitalismo. Todos comem pela medida grossa e com a devida igualdade, que nem a mais cristalina lei pode conter.
 O vírus, e então desta laia, é destituído de olhos e ouvidos, não integra a condescendência nem a moral, como também não é corrupto. Ele penetrou com fúria no Mundo Global, como a língua de um pangolim entra num formigueiro, sem se preocupar quem a ela fica agarrado.
Prevejo que este ácido venenoso possa vir liquidar um terço da massa populacional do globo; não esqueço que ele é um louco, com absoluto desprezo pela vida humana, a ele não escapando os fortes e os fracos, sem distinção crenças ou etnias.
Perante isto, é natural, humano, racional e compreensível, que todos estejamos apreensivos, e muitos até, em estado de pavor, desde o mais “ignorante” cavador, ao mais poderoso dignitário; desde o mais miserável morador de rua, que faz do papelão a sua enxerga, ao mais rico banqueiro que dorme refastelado sob o seu edredão de cambraia.
Todo o “formigueiro” humano anda em frenético reboliço, a labutar sob o olhar frio, ameaçador e mortífero, do perigo que espreita a todo estante.
São os profissionais de saúde, que, apesar de alguns atingirem os limites da exaustão, ainda conseguem algum alento, mesmo correndo risco de vida, para, numa tentativa de corajosa nobreza, por vezes assolada pela desilusão, arrancarem para a existência aqueles que se encontram em estado crítico, numa luta feroz contra o poder mortífero do COVID-19, a moléstia que está apostada em erradicar a humanidade deste planêta.
Estes entendidos na saúde têm sido uns heróis a quem a sociedade deve agradecer e venerar.
As forças de segurança, que em inúmeras circunstâncias têm sido achincalhadas, mal-agradecidas e injustamente criticadas, estão também metidas nas garras contagiantes deste vírus, para que os cidadãos mais relutantes no cumprimento dos deveres impostos e que a todos nós dizem respeito, se cheguem ao rêgo coercivamente. Não faz mal.  Estes elementos devem merecer a nossa maior consideração estima – não só agora; deviam ter sido agraciados sempre. Sem eles, a tranquilidade seria uma miragem; volatilizar-se-ia e a sociedade entrava em ressonância e acabava por desintegrar-se. É pena que os Governos não hajam reparado nisto.
Os bombeiros. No meu tempo, eram somente convocados para pagar fogos (também não havia muitos, porque os pirómanos eram menos, os interesses na celulose eram relativamente mais baixos e trabalhava a lei do cassetete); agora já são elementos especializados em diversas funções como salvamento, primeiros socorros e transporte de doentes, além de outros predicados que de momento mão me afluem à lembrança.
 São pessoas que também estão sob o risco de serem contagiados pela sua exposição ou contacto com possíveis infectados por esta moléstia contagiosa, na transferência e transporte destes, mas nunca negam a sua missão em prol do auxílio para a tranquilidade daqueles que deles necessitam.
Devem ser por isso dignos do apreço e do carinho de toda a comunidade, que infelizmente não é só constituída por pessoas de boa índole – há muita escória.
Existem muito mais criaturas que poucos consideram, no entanto, com o admissível risco de serem poluídos, continuam na sua luta diária para diligenciar na conservação salutar do nosso físico e pelo nosso conforto, com  a determinação de que “nada” nos falte, dentro das possibilidades de cado um, como é evidente; superes e hiper-mercados,  mercearias tradicionais, farmácias, padarias, restaurantes, equipas da higienização das cidades, vilas e aldeias; todos aqueles que fazem a manutenção e reparação nas instalações eléctricas, gás e água; transportes, de passageiros e mercadorias e ainda, os elementos que a maioria não se lembra, no entanto são eles que, também com algum sacrifício, mantêm todos os sistemas de saneamento a funcionar, para que nós não corramos o risco de sermos “afogados” pelo infecto e fedorento “sumo” que por eles escorrega.
Agora e por último, temos a Governação, com os elementos que a arquitectam; embora não tenha sido aquela que mais me tem agradado, para alguns dos seus integrantes, são meritórias algumas palavras, não direi de apreço, porém de espontânea compreensão, dada a complicada e perigosa situação em que todos nos encontramos, que pode levar a que alguma verdade deva ser oculta, no intuito de evitar o pior.
É sobejamente sabido que na política, quem quer poleiro tem de mentir e ser, o que os ingleses em tom sarcástico de apelidam de“yes man”; isso é mau. Porém, falar sobre determinadas medidas, como “estar tudo bem equipado para a recepção desta pandemia, que não falta nada, que o vírus não deve ser tão perigoso como se possa pensar, estar tudo controlado no que concerne a ventiladores, espaços e camas para esse fim, etc., estas patranhas tiveram e continuam a ter, uma razão de ser; evitar um apavoramento colectivo entre o aglomerado populacional. Se isso ocorresse, adicionado ao vírus, seria uma catástrofe sem precedentes. Não tenhamos incertezas acerca disso.
Considero, um dever, ainda que constringido, de poder, não digo mentir, contudo, camuflar uma situação nefasta como a que estamos a viver e que a todos aflige, para não entramos em degradação física e psicológica. As criaturas que integram a Governação, também são indivíduos como nós; são seres humanos; sofrem de cagaço como nós, estão sujeitos ao mesmo infortúnio e sabem muito bem o que se está a passar. Temos que ter em mente que em certas ocasiões, uma mentira pode encapotar uma realidade necessária. Sei que não é conveniente mentir, todavia, se uma realidade transportar uma desolação, esconder uma veracidade sob o manto de uma mentira, é remissível.

Neste caso ligado à pandemia, penso que tem sido essa forma de estratégia que tem vindo a suceder; com o Primeiro-ministro, com a Ministra da Saúde e com Directora-Geral da Saúde; aqueles que têm pegado o touro pelos cornos, e, com calma aparente, têm enfrentado, a seu modo, - “tropeçando” de vez em quando - as inquirições que lhe têm sido feitas pelos órgãos comunicação, que as transmite ao povo português – e ao Mundo.
Naturalmente que existe quem não veja as coisas desta forma; mas eu não oculto a minha perspectiva e divulgo-a, esperando serenamente pelas críticas, acintosas ou meritórias, às quais não me escusarei a responder.
 Porém, em relação aos comportamentos inerentes a este bicudo caso pandémico, serei condescendente e compreensivo, não evitando, contudo, de dar as minhas bicadas bem assentes; não sem reflectir, que todos merecem o meu (nosso) apreço, perante o esforça que têm feito para que tudo possa fluir sem atingir o caos.
Pena é que seja necessária uma catástrofe como esta guerra biológica sem fronteiras, para que todos saibamos atribui-lhes o seu devido valor.
Pela parte que me toca, o meu mais sincero reconhecimento e que todos sejam protegidos pela sorte, porque que se ela não sobrevém, pouco mais haverá a fazer.
Creio estar certo.
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António Figueiredo e Silva
Coimbra, 02/04/2020

Nota:
Sou avesso ao AO90



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