“Todas as pessoas
as pessoas são oportunistas,
mas nem todas
sabem sê-lo na oportunidade própria”.
A
DESGRAÇA E O OPORTUNISMO
É
verdade. O oportunismo é uma característica que povoa quase sempre, a mente das
pessoas de má fé e está intrinsecamente aliada à trafulhice, sendo usada com
mais esmero e despudor em tempo de fragilidade, individual ou colectiva.
Com o afloramento de uma desgraça, há
sempre quem tente esmifrar, sem pejo, às instituições de ajuda comunitária, não
escapando também aos mais diversificados estratagemas, as pessoas singulares,
em carência racional ou debilidade física. Os oportunistas são verdadeiros
especialistas no desenvolvimento e exploração dos filões do infortúnio, não
sendo por isso inverdadeira a afirmação, já com alvas barbelas, que diz que “há males que vêm por bem” – é evidente
que não é para todos.
A calamidade, sendo um flagelo para os
desventurados, não deixa de não ser também, uma muleta p´rós oportunistas onde
os escrúpulos não têm pousio. Em ocasiões de fatalidade, aparecem sempre
adivinhos que são hábeis em prever o que não acontece e cobram por isso, e
oportunistas sabidos que estavam enterrados na merda até ao pescoço, a valer-se
da situação, p’ra reivindicar umas “ajudazitas” monetárias sem razão de causa,
mas artisticamente bem fundamentadas, p’ra tirarem a cabeça da esterqueira – às
vezes nem assim conseguem.
Veja-se agora, com o aparecimento deste
surto pandémico, as consequências do oportunismo que dele têm pingado. É outra
peste; não igual à primeira, todavia, de intensidade e aproveitamento
equivalentes.
Os oportunistas a oferecerem auxílio em
troca de dissimuladas, mas chorudas pertinências, que corrupiam por trás da
boca de cena no teatro mundial, cujo cozinhado é feito num ambiente ignóbil e
de leviano secretismo; outros da mesma laia, porém com contornos diferentes, “exigem
o perdão de dívidas” imprudentemente
cometidas, por terem deixado que os seus sapatos andassem mais depressa do que
os seu pés; aparecem ainda aqueles, cujas empresas já se encontravam em
acentuado risco de insolvência devido a incompetência administrativa,
consequente da falta de “know how”, aliada a uma ostentação presunçosa
hipotecada, a justificar a sua derrocada com a crise, que, sob dissimulados e
artificiosos considerandos, se vão socorrer para “abicharem” algum a fundo
perdido, porque os bancos já estão na retranca; são também de mencionar aqueles
que se têm aproveitado da perturbação pandémica, para onerarem
indiscriminadamente as contrapartidas (custos), na razão directa da sua ambição
e inversa do grau de carência das diversas comunidades, até lhes sugar o último
pataco.
Vejo o oportunista como um falso valente,
covarde, que “galhofa” com individual cinismo a inocência dos incautos e
vale-se da miséria do seu semelhante em desumano proveito próprio.
Mas o oportunismo, não se resume somente à
normal “ralé”!? Não. Estende-se a todos os sectores comunitários, de cima
abaixo e espeta a choupa da sua ganância nos mais enfraquecidos. É ali que ele
vê o campo ideal onde viça a necessidade, que pode hastear com segurança a sua
bandeira timbrada com a falta de carácter, dominando dessa forma a fraqueza
alheia. É a segunda pandemia análoga ao COVID-19. Não é letal, mas os seus
estragos também irão incalculáveis e veio p’ra ficar.
É meu dever aqui ressalvar, que não vou
excluir a existência de oportunistas sensatos - que não serão muitos – e que
quando a oportunidade surge não a deixam escapar, mas estes têm uma diferença
dos outros; não se aproveitam da fragilidade de ninguém.
No entanto, é sempre bom alertar, que se
não houver quem ponha mão a esta cegada, com estas duas moléstias altamente
contagiantes, não sei onde o Mundo vai parar.
A inflação galopa, os rendimentos não
acompanham os níveis de vida, os impostos trepam, a larica cresce, as aflições
dilatam, comprimindo a honradez e o resto, o mais perigoso, virá por arrasto.
A míngua, a isso vai coagir.
António Figueiredo e Silva
Coimbra, 24/04/2020
Nota:
Não uso o AO90
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