sexta-feira, 24 de abril de 2020

A DESGRAÇA E O OPORTUNISMO



“Todas as pessoas as pessoas são oportunistas,
mas nem todas sabem sê-lo na oportunidade própria”.

A DESGRAÇA E O OPORTUNISMO

É verdade. O oportunismo é uma característica que povoa quase sempre, a mente das pessoas de má fé e está intrinsecamente aliada à trafulhice, sendo usada com mais esmero e despudor em tempo de fragilidade, individual ou colectiva.
Com o afloramento de uma desgraça, há sempre quem tente esmifrar, sem pejo, às instituições de ajuda comunitária, não escapando também aos mais diversificados estratagemas, as pessoas singulares, em carência racional ou debilidade física. Os oportunistas são verdadeiros especialistas no desenvolvimento e exploração dos filões do infortúnio, não sendo por isso inverdadeira a afirmação, já com alvas barbelas, que diz que “há males que vêm por bem” – é evidente que não é para todos.
A calamidade, sendo um flagelo para os desventurados, não deixa de não ser também, uma muleta p´rós oportunistas onde os escrúpulos não têm pousio. Em ocasiões de fatalidade, aparecem sempre adivinhos que são hábeis em prever o que não acontece e cobram por isso, e oportunistas sabidos que estavam enterrados na merda até ao pescoço, a valer-se da situação, p’ra reivindicar umas “ajudazitas” monetárias sem razão de causa, mas artisticamente bem fundamentadas, p’ra tirarem a cabeça da esterqueira – às vezes nem assim conseguem.
Veja-se agora, com o aparecimento deste surto pandémico, as consequências do oportunismo que dele têm pingado. É outra peste; não igual à primeira, todavia, de intensidade e aproveitamento equivalentes.
Os oportunistas a oferecerem auxílio em troca de dissimuladas, mas chorudas pertinências, que corrupiam por trás da boca de cena no teatro mundial, cujo cozinhado é feito num ambiente ignóbil e de leviano secretismo; outros da mesma laia, porém com contornos diferentes, “exigem o perdão de dívidas” imprudentemente cometidas, por terem deixado que os seus sapatos andassem mais depressa do que os seu pés; aparecem ainda aqueles, cujas empresas já se encontravam em acentuado risco de insolvência devido a incompetência administrativa, consequente da falta de  “know how”,  aliada a uma ostentação presunçosa hipotecada, a justificar a sua derrocada com a crise, que, sob dissimulados e artificiosos considerandos, se vão socorrer para “abicharem” algum a fundo perdido, porque os bancos já estão na retranca; são também de mencionar aqueles que se têm aproveitado da perturbação pandémica, para onerarem indiscriminadamente as contrapartidas (custos), na razão directa da sua ambição e inversa do grau de carência das diversas comunidades, até lhes sugar o último pataco.
Vejo o oportunista como um falso valente, covarde, que “galhofa” com individual cinismo a inocência dos incautos e vale-se da miséria do seu semelhante em desumano proveito próprio.
Mas o oportunismo, não se resume somente à normal “ralé”!? Não. Estende-se a todos os sectores comunitários, de cima abaixo e espeta a choupa da sua ganância nos mais enfraquecidos. É ali que ele vê o campo ideal onde viça a necessidade, que pode hastear com segurança a sua bandeira timbrada com a falta de carácter, dominando dessa forma a fraqueza alheia. É a segunda pandemia análoga ao COVID-19. Não é letal, mas os seus estragos também irão incalculáveis e veio p’ra ficar.
É meu dever aqui ressalvar, que não vou excluir a existência de oportunistas sensatos - que não serão muitos – e que quando a oportunidade surge não a deixam escapar, mas estes têm uma diferença dos outros; não se aproveitam da fragilidade de ninguém.
No entanto, é sempre bom alertar, que se não houver quem ponha mão a esta cegada, com estas duas moléstias altamente contagiantes, não sei onde o Mundo vai parar.
A inflação galopa, os rendimentos não acompanham os níveis de vida, os impostos trepam, a larica cresce, as aflições dilatam, comprimindo a honradez e o resto, o mais perigoso, virá por arrasto.
A míngua, a isso vai coagir.

António Figueiredo e Silva
Coimbra, 24/04/2020
Nota:
Não uso o AO90
     


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