domingo, 15 de março de 2020

FRUSTRAÇÃO


O pior tipo de pessoa que existe, 
 aquela que usa as suas dores,
frustrações e mágoas, para
 atrapalhar a alegria alheia.
 (Adrian Gras)

FRUSTRAÇÃO
(Como conhecer um falhado)

A frustração é a força reactiva que lavra no córtex cerebral do falhado e o impulsiona ao cometimento de determinadas posturas, sendo a arrogância, a força-fraca dominadora; apesar de apalermada, é uma das suas características primárias, da qual despontam outras atitudes menos convenientes e socialmente pouco louváveis; ou melhor dizendo, censuráveis. O mais caricato é que o falhado, conhece bem a justeza das condenações que lhe são feitas, porque elas existem e ele próprio as legitima para consigo; ele percebe que elas não carecem de veracidade, contudo, recusa-se no cinismo do seu silêncio, a reconhecê-las, recorrendo para isso, ao esvaziamento da culpa das imperfeições da sua conduta, para a sociedade onde se insere - como um masoquista que tira gozo da sua própria vitimização. Isto faz dele, um ser manifestamente prepotente, desconfiado e sem refrigério interior.
No plano comunitário, o fracassado faz tudo; o possível e o impossível, para obtenção de um plano de autoridade, como forma única de sentir-se “estimado”. Todavia, não lhe foge à intuição, que, se desabrocharem as circunstâncias propícias para lhe partirem o embuço da dissimulação, ele irá ficar monasticamente isolado; não irá restar “amigo” algum, para argumentar em sua defesa. Porque o caminho edificado pelo falido, é cheio de sulcos e a reputação que exibe após a recessão é apenas aparente.  
Ele sente obcecada necessidade de se evidenciar socialmente. No entanto, a constância emocional não existe dentro do seu ego, porque ela altera-se ciclicamente, alterando-se por fases, cujos espaços oscilam entre períodos de entusiasmo pueril excessivo, “acalmia” monótona e depressiva, seguidos de uma agressividade descontrolada.
No frustrado, a egolatria excessiva que o amortalha, acaba por destruir-lhe o que mais precisa para o equilíbrio salutar da sua existência; a família, os amigos e a credibilidade social, porque o coage a exibir o que não é, a fazer o que não deve e a proceder como não devia. A alienação mental crónica de que sofre, fá-lo perder a noção da realidade, afectando deste modo o seu desenvolvimento intelectual, no que respeita ao raciocínio, e, por este motivo, ao integral uso da razão.
O falhado, por norma converte-se em opressor, cujo predicado é imputar a sua frustração ou o fracasso das suas ambições, a uma injustificada falta de rigor de quem dele depende. Mas fá-lo. E fá-lo, com frio, mas consciente recurso à sujeição; o fracassado multiplica os esforços no sentido da aplicação de diversificadas desumanidades, que ele sabe assentarem numa crueldade impotente, que mina e fragiliza (e acaba por desmembrar), o seu intelecto.
É comum neste “doente”, o recurso a coação, assédio, perseguição, calúnia, impropério, falsidade, chantagem psicológica e intrujice, para aplacar o seu estado emocional revoltado, quando este se encontra sob descontrolada exaltação emocional. Depois, física e psiquicamente extenuado, cai num estado de “febril” letargia e introspecção que o induzem num revoltado arrependimento momentâneo isento contrição, que em vão tenta mitigar etilicamente, seguido de um fugaz, porém buliçoso adormecimento.
Aqui está o ligeiro retrato de um frustrado.

  
António Figueiredo e Silva
Coimbra, 15/03/2020

Obs:
Ainda não sou a favor do AO90

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