O
pior tipo de pessoa que existe,
aquela que usa as suas dores,
frustrações
e mágoas, para
atrapalhar a alegria alheia.
(Adrian Gras)
FRUSTRAÇÃO
(Como
conhecer um falhado)
A
frustração é a força reactiva que lavra no córtex cerebral do falhado e o
impulsiona ao cometimento de determinadas posturas, sendo a arrogância, a
força-fraca dominadora; apesar de apalermada, é uma das suas características
primárias, da qual despontam outras atitudes menos convenientes e socialmente
pouco louváveis; ou melhor dizendo, censuráveis. O mais caricato é que o
falhado, conhece bem a justeza das condenações que lhe são feitas, porque elas
existem e ele próprio as legitima para consigo; ele percebe que elas não
carecem de veracidade, contudo, recusa-se no cinismo do seu silêncio, a
reconhecê-las, recorrendo para isso, ao esvaziamento da culpa das imperfeições
da sua conduta, para a sociedade onde se insere - como um masoquista que tira
gozo da sua própria vitimização. Isto faz dele, um ser manifestamente
prepotente, desconfiado e sem refrigério interior.
No plano comunitário, o fracassado faz
tudo; o possível e o impossível, para obtenção de um plano de autoridade, como
forma única de sentir-se “estimado”. Todavia, não lhe foge à intuição, que, se
desabrocharem as circunstâncias propícias para lhe partirem o embuço da dissimulação,
ele irá ficar monasticamente isolado; não irá restar “amigo” algum, para
argumentar em sua defesa. Porque o caminho edificado pelo falido, é cheio de sulcos
e a reputação que exibe após a recessão é apenas aparente.
Ele sente obcecada necessidade de se
evidenciar socialmente. No entanto, a constância emocional não existe dentro do
seu ego, porque ela altera-se ciclicamente, alterando-se por fases, cujos
espaços oscilam entre períodos de entusiasmo pueril excessivo, “acalmia”
monótona e depressiva, seguidos de uma agressividade descontrolada.
No frustrado, a egolatria excessiva que o
amortalha, acaba por destruir-lhe o que mais precisa para o equilíbrio salutar
da sua existência; a família, os amigos e a credibilidade social, porque o
coage a exibir o que não é, a fazer o que não deve e a proceder como não devia.
A alienação mental crónica de que sofre, fá-lo perder a noção da realidade,
afectando deste modo o seu desenvolvimento intelectual, no que respeita ao
raciocínio, e, por este motivo, ao integral uso da razão.
O falhado, por norma converte-se em
opressor, cujo predicado é imputar a sua frustração ou o fracasso das suas ambições,
a uma injustificada falta de rigor de quem dele depende. Mas fá-lo. E fá-lo, com
frio, mas consciente recurso à sujeição; o fracassado multiplica os esforços no
sentido da aplicação de diversificadas desumanidades, que ele sabe assentarem
numa crueldade impotente, que mina e fragiliza (e acaba por desmembrar), o seu
intelecto.
É comum neste “doente”, o recurso a
coação, assédio, perseguição, calúnia, impropério, falsidade, chantagem
psicológica e intrujice, para aplacar o seu estado emocional revoltado, quando
este se encontra sob descontrolada exaltação emocional. Depois, física e
psiquicamente extenuado, cai num estado de “febril” letargia e introspecção que
o induzem num revoltado arrependimento momentâneo isento contrição, que em vão
tenta mitigar etilicamente, seguido de um fugaz, porém buliçoso adormecimento.
Aqui está o ligeiro retrato de um
frustrado.
António Figueiredo e Silva
Coimbra, 15/03/2020
Obs:
Ainda
não sou a favor do AO90
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