Esta
transmontana rija, que faleceu
aos 97 anos com os cinco sentidos
bem aferidos, costumava assim dizer:
“Morre o pobre e morre o rico;
um
e outro, cá deixam o pote e o penico”.
NÃO
É ILUSÃO.
E é por causa da usual frase desta Sra.,
que muito bem conheci, - paz à sua alma - que escrevo este texto.
Há argumentos que muito me custam a
compreender. Existem pessoas que dizem em tom lamurioso, estarem arrependidas
de terem nascido, como se tal possibilidade pudesse existir. Porém nunca ouvi
ninguém dizer que se tinha arrependido de ter morrido.
As primeiras, mesmo arqueadas sob rigorosas
espondiloses, bicos-de-papagaio, calos, joanetes, artroses, tendinites,
esporões no calcâneo, sistema vascular praticamente obstruído, labirinto
auditivo com cofose, visão astigmática, verrugas por todo o lado, caspa e um
sem número de mazelas, arranjam sempre alento e algum “gravêto” para depositar
nos médicos, fisioterapeutas, bruxos e adivinhos, cartomantes e medicinas
alternativas, na intenção de viverem mais uns tempitos neste mundo de canídeos,
sobre o qual afirmam estarem fartos até à raiz dos cabelos. Fartos, acredito,
mas obstinam em continuar.
Acho isto paradoxal. Porque há aqui uma
contradição de pensamentos, uma incoerência, para o mesmo conceito, que é:
continuar a viver, mesmo depois de ter-se arrependido de ter nascido - mesmo
sentindo que o corpo e o espírito se encontram todos lascados. Existe qualquer
coisa que fortalece essa vontade de viver, mesmo condicionados ao mais atroz
sofrimento. Paradoxal!
Eu sinto é que, com paradoxo ou sem ele,
cheguei à conclusão de que ninguém morre no tempo devido, mas sempre antes do
tempo ajuizadamente programado – quando a mioleira está em boas condições de
funcionamento. Engraçado, não é?
Tenha a idade que tiver, todos choram a
pessoa, porque entendem que ainda não era tempo de ela ter usado o fatal
bilhete de embarque para o desconhecido; isto independentemente da faixa
etária. São sempre novos para o fim.
No entrançado desta baralhada onde a esperança
– quem a alimenta - é o último factor a morrer, em que todos ambicionam viver
mais um tempito, aparece uma passarada, que fomenta essa expectativa cobrando o
máximo que pode ao desventurado, sem, contudo, garantirem a vitória na luta
contra a Natureza. Esmifram o que podem, sem nunca se lembrarem de que irão
percorrer o mesmo caminho, onde o dinheiro nada pode comprar.
Depois da renhida contenda, uns por uma
fusão da ganância com a subsistência - ambição materialista – outros pela
continuação da sua existência, - amor à vida simplesmente - ambos embarcam no
mesmo bote.
Porém, o mais espirituoso, é que aos
entendidos na matéria nunca lhes passou pela cabeça saberem realmente qual é a
principal causa da morte, apesar deste “mistério” se encontrar à frente dos
olhos de toda as criaturas. Nunca se lembraram de matutar sobre o assunto, mas
eu dei-me a essa “árdua “tarefa e vou divulgar o resultado:
a causa primeira da morte, é o nascimento; só após ser-se
contaminado por essa doença é que se morre.
Mas a vida é assim.
Quanto aos segundos, nem pio. De lá não
sente vivalma, não se ouve um queixume. O silêncio é absoluto. Assim sendo,
sobre isso nada se posso argumentar.
Sei apenas que é um mistério para
desvendar, - duvido que algum dia o seja - que transcende a capacidade de
entendimento Humano, por mais inteligente que ele possa considerar-se.
E tudo o que acabei de dissertar, não é
ilusão.
Por isso digo: “Se queres morrer, nasce primeiro” – mas tem juízo na tinêta,
porque não ficas cá p’ra semente.
António Figueiredo e Silva
Coimbra, 02/12/2019
www.antoniofsilva.blogspot.com
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