“PORTUGAL NÃO É OÁSIS”…


O político não tem que fazer promessas,
tem que fazer o que falta ser feito;
 porém, ele vive de promessas,
porque o povo não vive sem ilusões.
(Graça Leal)

 “PORTUGAL NÃO É OÁSIS”…
(Asserção de António Costa)


Não é verdade!
Portugal é um oásis fantástico, onde o sol, que devia ser para todos, tenta raiar por entre o denso nevoeiro de um democratismo aparente, construído sobre bases mal cimentadas de consciência, em que a igualdade de direitos e deveres não tem a mesma quilatagem para todos; a palha está tingida de verde para enganar a animalada; a areia com que nos tapam os olhos tem sido côr-de-rosa mesclada de vermelho, e até os camelos são mansos e deixam-se pintar de qualquer côr. Para mim, que tenho espírito de contradição, isto é mesmo um oásis.
Porém, falando a sério, perante tão categórica asseveração, não posso deixar de não estar de acordo com o que científica e convictamente discursa o nosso “notável” Primeiro-ministro António Costa, a figura que considero – se calhar arrendo-me de dizê-lo – a voz mais forte, mais sonante e mais cativadora, que configura o sinête mais emblemático do apogeu da oligarquia portuguesa.
Realmente, Portugal não é um oásis.
Mas, como todos vivemos melhor do que há quatro anos, é um oásis sim senhor. É um oásis, onde bandos de tuaregues modernos, de roupagens azul-anil e gravata de seda, fazem tudo para explorar a passividade dos camelos, que até agora têm sido de uma docilidade incomparável. Esses bandos de nómadas, cegos pela ambição, depois de uma travessia discursiva e prometedora, fizeram a sua andadura através da apática aridez desertificada e cega pelas tempestades de areia que volteiam nas cachimónias dos portugueses e acamparam neste oásis, para restabelecerem o seu poderio económico, enchendo os “alforges com tâmaras”, enquanto os camelos fatigados e desiludidos, fingem que descansam embalados pelo ramerrão do som grave e cadenciado propagado pelo ruminar do capim sêco, já meio paparicado, que regurgita da pança à sua dentição - em alguns já combalida, porque o seu tratamento é caro e não chega a todas as bolsas.
Mas nem por isso Portugal deixa de ser um oásis.
Tem muita razão o nosso Primeiro-ministro, quando diz que os “portugueses vivem melhor do que há quatro anos”, (talvez quisesse ter dito: “desde que fiz da política o meu emprego, sempre vivi bem, mas agora, eu tenho vivido muito melhor do que há quatro anos”). Isso também é verdade; só é de lamentar que não sejam todos, ou a sua maioria, razão pela qual, Portugal é tido como um país que ficou mais pobre em relação à Europa em 2018; o seu PIB por cabeça está agora 24% abaixo da média da União Europeia e o consumo per capita está estagnado pelo quarto ano.
Não obsta, no entanto, para que este país não seja considerado pelo nosso Primeiro-ministro António Costa, não um verdadeiro oásis, mas, modestamente, como um país onde se vive bem, para não dizer, à grande e à francesa – o pior é o resto.
 Uma ilusão, para a quem crê, ou finge acreditar, acaba por transformar-se numa realidade – claro está, efémera.
Penso que devemos deixar de viver na ilusão e reflectirmos com a cachimónia assente no travesseiro dos factos.
Contudo, se Portugal é um oásis ou não, brevemente, os portugueses irão manifestar a sua opinião.

António Figueiredo e Silva
Coimbra, 01/10/2019
www.antoniofsilva.blogspot.com






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