domingo, 16 de junho de 2019

FISCAIS DE PIRISCAS



“Somos todos iguais perante a lei, mas não
 perante os encarregados de fazê-las cumprir.
(S. Jerzy Lec)

FISCAIS DE PIRISCAS
(Um forte odor ao tão censurado salazarismo)

Antes de começar a matraquear, quero declarar que não fumo. Isto só para dizer que sou neutro quanto ao que vou a argumentar acerca da “beatice cigarrética”, sobre a qual foram agora aprovadas na Assembleia da República, medidas RÍGIDAS para varrer radicalmente as “beatas” de cigarro dos espaços públicos, por onde circulam ou tostam a epiderme esticados na areia, pacatos “cidadões” virtuosos e sem vícios; não só por causa disso, mas também para não contaminar o planêta, com metais pesados – mais pesados do que a consciência de quem legisla.
Porém, estas medidas não começam em um salamim, mas num alqueire, isto é, não de vinte ou trinta euros, mas de quinhentos euros, como fasquia mínima; em minha opinião, este episódio é “ridículo” e ultrapassa o bom senso, que devia ser evidenciado na mona de quem legisla e aprova.
Quer dizer que houve um regresso ao tempo de Salazar, (que no meio de muitos exageros, também tinha muitas coisas boas,), com a aplicação de fortes coimas, para infracções simples, como atirar uma “beata” de cigarro p’ra riba dos “imaculados” espaços públicos que temos.
Pasme-se! Quinhentos euros, multa mínima! Porra!? Quer dizer que qualquer cidadão que inadvertidamente arremesse uma pirisca para chão, está “desgraçado”; sujeito a ficar sem dinheiro para colocar comida na mesa da família se a tiver, evidenciando, com é inteligível, a fasquia do ordenado mínimo nacional.
Isto é de loucos. Eu não posso dizer que gosto. Apenas me limito a dizer, por entre um leonino ranger de dentes, que está “certo” - porque a lei a isso me obriga.
Quando se tomam medidas repressivas, estas devem ter em conta vários factores a ponderar que pelo “crime” cometido, para que as suas consequências não ultrapassem uma carga com a qual o “animal” não aguente.
E agora perguntarão, o que terá isto a ver com o antigo governo de António Salazar, que “todos” titulam de ditador. Não é difícil provar tal analogia; recorro às multas que na altura pagava quem não tinha a merdosa de uma LICENÇA DE ISQUEIRO.
Quer dizer, naquele tempo andavam os fiscais dos isqueiros, como felinos atrás dos incautos; agora uma fiscalização análoga vai passar a andar atrás das “beatas” (piriscas).
 Estas “cenas”, legalizadas é certo, fazem-me crer que está a haver uma repetição dos valores daquele tempo. Só que actualmente são criados os direitos e os deveres com uma filosofia diferente; os direitos para quem cria e os deveres para quem paga.
Eu bem digo que estamos perante uma democracia encapotada; aparentemente em letargia a ressonar, mas de vez em quando vai arreganhando a dentição num sonho onde flutua a aspiração de nos dar cabo da vida.
Por causa desta medida, venho sugerir ao Governo, liderado pelo “ilustre” Archiministro António Costa, que já pode diminuir o desemprego com a criação de mais postos de trabalho, na Administração Pública, com nomes sonantes como Inspectores Perseguidores de Piriscas – Fiscais é corriqueiro, e por isso desprezível.
É apenas uma ideia. Decerto um parecer bastante alienado, contudo, é-o na razão directa da grandeza mínima da multa a aplicar, por um crime que parece ser invocado como sendo de “lesa-majestade”.
“Nem tanto ó mar, nem tanto à serra”.

António Figueiredo e Silva
Coimbra, 16/06/2019
www.antoniofsilva.blogspot.com  

Nota: Não consigo atinar com o
Novo Acordo (des)Ortográfico.

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