sábado, 15 de junho de 2019

ERA SÓ O QUE FALTAVA


“Os ladrões de bens particulares, passam
 a vida na prisão e acorrentados;
 os de bens públicos, nas riquezas e nos honrarias”.
(Catão)

ERA SÓ O QUE FALTAVA

Até que em fim. Só decorridos onze anos é que a vaca pariu um grande vitelo. Foi muito tempo. Durante tão longo período e perante a gravidez de risco, muito me admiro não ter abortado, como tem sucedido com alguns.
 Se tivesse sido um cidadão qualquer, o parto ter-se-ia dado em menos tempo e o sistema punitivo teria sido mais célere e mais reforçado. E disso não duvido.
Este citadino é condenado a cinco anos de prisão efectiva, alegadamente por ter realizado “obras de misericórdia” com o dinheiro da algibeira dos outros; perante os factos comprovados, a justiça, de ôlho aberto e sem venda, não credibilizou os argumentos de defesa de réu, aplicando, a meu ver, uma punição bastante leve (mera opinião minha) para o caso em apreço; agora o encarcerado diz-se inocente. É natural; se a consciência dele o diz e ele divulga, é porque é “verdade”.
 Nesse caso, é absurdo; e mais do que isso, é uma “injustiça”, encafuarem um “inocente” numa cadeia, ainda que essa tenha sido já reabilitada há poucos anos, para receber outros “inocentes” que por lá passaram e hão-de continuar a passar, que fazem parte dos elementos constituintes da nossa apodrecida “elite”. Caramba, a justiça é cega, ou quê? – vou mais pelo “ou quê”.
Como tal, pelo “ou quê”, o que é que um presidiário pode esperar da hospedagem que lhe é “oferecida” gratuitamente, à custa da sociedade, a não ser um sacrifício com a privação da sua liberdade sob estrita regulamentação? Esta é apenas uma forma de pagar – parte – um preço simbólico das falcatruas reais que cometeu, com a imposição de determinadas limitações que não usufruiria do lado de fora. Se assim não fosse, todos gostariam de estar na “geleira”.
 Nem um computador pode ter – lamenta. É muito aborrecido, realmente, porque isso permitir-lhe-ia “comandar as tropas” no exterior. E mesmo que lhe fosse concedida essa regalia sem acesso à internet, havia sempre a possibilidade de passar umas “pen” para o exterior, com aulas de estratégia financeira obscura, o que não seria conveniente, porque já temos fardo que basta.
Que vá rabiscando à mão e lendo uns livritos de Agatha Christie, que são verdadeiras vitrinas de exposição criminal.
Isso dá para matar o tempo enquanto não aparece companhia –  que não deve ser cumprido integralmente por bom comportamento na sua merecida estadia.

António Figueiredo e Silva
Coimbra, 15/06/2019





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