A
sabedoria da vida consiste na
eliminação
do que não é essencial.
(Ling
Yutang)
Neste
caso, tudo,
menos uma garagem.
(A.
Figueiredo)
JOE
BERARDO
(A
figura do ano)
Admiro-o.
Apesar de apenas pagar à Autoridade
Tributária a coleta de “meia dúzia” de euros sobre o único imóvel que possui, e
que dá como garantia para tamponar um buraco de oitocentos milhões de euros,
uma garagem, não deixo de o admirar só porque é pobre – “materialmente (?)”, mas
não de espírito. Uma faceta que pela invulgaridade me surpreende, é a sua
humildade; não se opõe a poder vir a ser indigente ao argumentar, “Se eles quiserem levar a garagem, podem
levar”. Isto é um gesto de pessoa de palavra, que se responsabiliza pelos
seus actos (dívidas), até ao último vintém. Em Portugal já não existem pessoas
de semelhante calibre.
Com a sua “falhadura” titubeante e mal-enjorcada lá vai conseguindo dar a
volta ao texto, enrolando os seus inquiridores, que me parecem ser espertos,
mas não tão inteligentes como ele, apesar da sua extrema pobreza linguística e
aparentemente intelectual.
“Não
tenho nada, não devo nada”. A frontalidade e sinceridade das
suas palavras, coagem-me mesmo a crer que ele é podre de pobre. Coitado!
Larguem o homem.
“Não
me refugiei em ataques de amnésia selectiva no Parlamento”;
isso é verdade, eu vi e ouvi; só não se lembrou de quanto pagava de renda do “casebre”
onde ora habita, respondendo simplesmente “pago
um pouco, não sei!?” - É natural, puseram o “necessitado” homem nervoso e
fora de si.
Agora querem retirar-lhe a medalha da
Ordem da Comenda, que tem sido atribuída também a outras figuras de percurso
duvidoso, (que não é o dele, Deus me valha!?), acção, à qual categoricamente
responde: “Se quiserem levar as Comendas
que as levem. Até é um descanso.”
Quer dizer: submeteram o “pobre homem” a
uma “tortura inquisitorial” durante cinco horas e trinta minutos - penso que
ininterruptos e sem bucha - tão somente por causa de uma simples garagem, decerto
repleta de teias de aranha e alguns tarecos sem préstimo, a ocupar o pequeno
espaço onde se calhar nem uma réstia de sol consegue penetrar.
Quer-me parecer que aqui existe uma
tecelagem muito complexa na urdidura do caso, que em si não deixa de não ser uma
realidade; mas não foi ele sozinho a tecer esta mantilha monetária com o buraco
da dimensão que os entendidos dizem ter!? Juntamente com as pulgas muitos
outros parasitas chuparam do alimento que agora, ao que parece, querem atribuir
como herança de dívida para os portugueses liquidarem, o que não está certo. Os
que foram responsáveis pelos empréstimos, se não tiverem somente uma garagem –
que não devem ter – que paguem.
Antes de dar por terminada esta dissertação,
quero aqui fazer um reparo: não gostei de ver alguns inquiridores e também
interrogadoras, a falarem para o “homenzinho”, como é costume dizer-se, com duas
pedras na mão, a roçar a fasquia do cinismo aureolada de manifesto ralhete.
Penso que não seria necessário recorrer a essas formas, que considero “pidescas”
e pouco polidas, menos próprias para conceber uma interrogação objectiva e conclusiva
- a menos que o interrogado fosse incorrecto - que não foi o caso.
Não queria terminar sem dar uma sugestão: ordenem
mas é, a erecção de uma estátua a Joe Berardo e mandem gravar:
JOE BERARDO
“Um cromossoma de Artur Virgílio Alves dos
Reis.”
António Figueiredo e Silva
Coimbra, 25/05/2019
www.antoniofsilva.blogspot.com
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