sábado, 25 de maio de 2019

JOE BERARDO


A sabedoria da vida consiste na
eliminação do que não é essencial.
(Ling Yutang)

Neste caso, tudo,
 menos uma garagem.
(A. Figueiredo)

JOE BERARDO
(A figura do ano)

Admiro-o.
Apesar de apenas pagar à Autoridade Tributária a coleta de “meia dúzia” de euros sobre o único imóvel que possui, e que dá como garantia para tamponar um buraco de oitocentos milhões de euros, uma garagem, não deixo de o admirar só porque é pobre – “materialmente (?)”, mas não de espírito. Uma faceta que pela invulgaridade me surpreende, é a sua humildade; não se opõe a poder vir a ser indigente ao argumentar, “Se eles quiserem levar a garagem, podem levar”. Isto é um gesto de pessoa de palavra, que se responsabiliza pelos seus actos (dívidas), até ao último vintém. Em Portugal já não existem pessoas de semelhante calibre.
Com a sua “falhadura” titubeante e mal-enjorcada lá vai conseguindo dar a volta ao texto, enrolando os seus inquiridores, que me parecem ser espertos, mas não tão inteligentes como ele, apesar da sua extrema pobreza linguística e aparentemente intelectual.
“Não tenho nada, não devo nada”. A frontalidade e sinceridade das suas palavras, coagem-me mesmo a crer que ele é podre de pobre. Coitado! Larguem o homem.
“Não me refugiei em ataques de amnésia selectiva no Parlamento”; isso é verdade, eu vi e ouvi; só não se lembrou de quanto pagava de renda do “casebre” onde ora habita, respondendo simplesmente “pago um pouco, não sei!?” - É natural, puseram o “necessitado” homem nervoso e fora de si.
Agora querem retirar-lhe a medalha da Ordem da Comenda, que tem sido atribuída também a outras figuras de percurso duvidoso, (que não é o dele, Deus me valha!?), acção, à qual categoricamente responde: “Se quiserem levar as Comendas que as levem. Até é um descanso.”
Quer dizer: submeteram o “pobre homem” a uma “tortura inquisitorial” durante cinco horas e trinta minutos - penso que ininterruptos e sem bucha - tão somente por causa de uma simples garagem, decerto repleta de teias de aranha e alguns tarecos sem préstimo, a ocupar o pequeno espaço onde se calhar nem uma réstia de sol consegue penetrar.
Quer-me parecer que aqui existe uma tecelagem muito complexa na urdidura do caso, que em si não deixa de não ser uma realidade; mas não foi ele sozinho a tecer esta mantilha monetária com o buraco da dimensão que os entendidos dizem ter!? Juntamente com as pulgas muitos outros parasitas chuparam do alimento que agora, ao que parece, querem atribuir como herança de dívida para os portugueses liquidarem, o que não está certo. Os que foram responsáveis pelos empréstimos, se não tiverem somente uma garagem – que não devem ter – que paguem.
Antes de dar por terminada esta dissertação, quero aqui fazer um reparo: não gostei de ver alguns inquiridores e também interrogadoras, a falarem para o “homenzinho”, como é costume dizer-se, com duas pedras na mão, a roçar a fasquia do cinismo aureolada de manifesto ralhete. Penso que não seria necessário recorrer a essas formas, que considero “pidescas” e pouco polidas, menos próprias para conceber uma interrogação objectiva e conclusiva - a menos que o interrogado fosse incorrecto - que não foi o caso.
Não queria terminar sem dar uma sugestão: ordenem mas é, a erecção de uma estátua a Joe Berardo e mandem gravar:
JOE BERARDO
“Um cromossoma de Artur Virgílio Alves dos Reis.”

António Figueiredo e Silva
Coimbra, 25/05/2019
www.antoniofsilva.blogspot.com  



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