domingo, 10 de março de 2019

APARTIDARISMO


Não é possível discutir racionalmente
com alguém que prefere matar-nos, a ser
 convencido pelos nossos argumentos.
 (Karl Raimund Poppe)


APARTIDARISMO

Por uma questão de afirmação da minha liberdade de palrar e de ortografar, faço questão de manter-me o máximo possível, arredado de quaisquer ideologias ou sectarismos que proliferam na alma das diversas facções políticas do meu país. Só assim posso garantir a mim mesmo a independência indispensável para poder estilhaçar com imparcialidade, as teorias, ou mesmo as práticas, menos éticas daqueles que, no meu entender, merecem, ou, da mesma forma, louvar os que, elogios souberam granjear pela firmeza e rectidão do seu carácter perante a comunidade.
É deste modo que entendo a sabedoria da democracia e a razão da sua existência.
Espontaneamente, questionar-me-ão; “então, mas este desmiolado não tem voto na matéria”? Claro que tenho, não sou diferente dos de mais, e quando a mesa abre as pernas e a greta da urna fica à disposição da minha consciência, é evidente que lhe enfio o meu o meu parecer na forma de sufrágio, para a ajudar a encher o espaço interior onde pairam os mistérios de interrogação e da esperança, e, ao mesmo tempo, para descarregar a análise da minha percepção, já com longo tempo de amadurecimento, mas não livre, como é natural, de interrogações e reticências.
Não me considero diferente dos outros, só que, sou alérgico às lavagens cerebrais, não me constrangendo no entanto, que cada um se prontifique a recebê-las, segundo a sua maneira de ser, pensar e deslocar-se, no universo social onde está agregado, moldando-se à natureza do sopro que lhes balizou o norteamento aquando da sua concepção natural, ou a favor das pulsões ardilosamente geradas pelas conveniências pessoais.
De uma realidade tenho a certeza; quer uns quer outros, ambas as partes podem equivocar-se. Mas só erra quem é humano, e só volta a cair no mesmo engano, quem é maníaco-depressivo no pico da crise, ou geneticamente estúpido; no segundo parâmetro, cientificamente sabe-se que a “demência” genética é auto-imune; logo, não existe terapia possível para desenraizar o palerma da estupidez natural que o embrulha, com vista ser iluminado pela luz cintilante da razão, resultando daqui a maior fatia da inconstância, não só local, porém, global.
Nunca fui amante do espartilhamento à liberdade da minha consciência e tudo tenho feito nesse sentido para a manter sadia ao longo do trajeto da minha existência, mas reconheço, contudo, que não tem sido nada fácil.
O fundamentalismo, seja de que modelo for, atarraxa a liberdade de pensamento, condicionado dessa forma o valor opinativo do entendimento, porque é decorrente uma razão que pugna pela defesa intransigente e cega, de determinadas regras ou princípios, sem deixar espaço de manobra, deixando os seus “veneradores” sem vontade própria e muitas vezes usados no incitamento da desestabilização comunitária.
É precisamente pelos raciocínios aqui apontadas, que, com ou sem razão, - o tal benefício da dúvida -  faço questão em manter a minha própria independência, conquanto que prossiga a reverenciar a liberdade dos outros e a compreender as suas preferências, sejam elas construídas de olhos abertos ou mentes cerradas.
Ambiciono a autoridade própria para poder falar e redigir desafrontadamente, sem me sentir aperreado pelas camisas de forças doutrinárias.
Daí, o meu apartidarismo.

António Figueiredo e Silva
Coimbra, 10/03/2019











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