quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

CHATEAR






Se não importunares aqueles que te chateiam,
sublinhando-o com a tua presença, eles vão cogitar
que tu deixaste de existir; chateia.
(A. Figueiredo)

CHATEAR

Após a recuperação de uma razoável “gripalhada”, que me parece ter redundado num amolecimento do cérebro (que penso ainda possuir), há minutos que tenho andado a dar voltas de cão antes de se deitar, para saber sobre o que hei-de redigir. Entediado por um interregno quase sereno, sem ser importunado, vou escrever sobre o chatear; somente mesmo, pelo patológico prazer de chatear. Eu gosto de chatear e ao que parece, sou perito em fazê-lo quando a hidrofobia me afronta.
Sei que é chato (e o que é um chato), mas é o meu mau feitio; chatice que não consigo (nem devo), mudar, porque me dá extremo gozo, chatear aqueles que merecem ser chateados, porque nunca se ensaiaram nada, em chatear a comunidade, e, consequentemente, a mim.
Agora vou chatear quem?
Pensando bem, vou chatear os “benfeitores” que passaram pelo Hotel Correccional de Évora, ou aqueles que ainda lá se encontram a apanhar gratuitamente banhos de sol, à “sombra”, numas férias bem merecidas pagas por todos nós, em “honrosa” retribuição pelos seus actos de bem-fazer à comunidade, que em calma aparente espera que outros lhe vão fazer companhia, para jogarem umas suecadas.
Também quero chatear os outros “bandoleiros” devem andar na penumbra mas que há muito tempo têm uma suposta reserva para aquela instância hoteleira, mas que o desequilíbrio da nossa Justiça, no que respeita à coerência do ponteiro da balança judicial, que oscila entre as grandes e “amistosas” influências e o compadrio, não tem tido oportunidade de consolidar a sua imponderabilidade. São estas algumas das principais razões que me impelem a chatear, por estar chateado, uma vez que o que acho certo não funciona como tal, e se funciona, a sua celeridade é de tal maneira lenta, que os resultados acabam por se afogarem no esquecimento da conveniência.
Bolas, temos de chatear! Pelo menos eu, disso sou apologista; quando não, se nos mantivermos silentes, corremos o risco de nos catalogarem de ignorantes. Por isso, eu quero chatear porque estou chateado; chateado com o que vejo ser extorquido sem haver punições; chateado porque descortinam sempre as mais diversas merdices para justificar greves que emperram a economia, já de si debilitada, deste país; chateado porque não sinto que a governação esteja a ser feita com sensatez, equidade e desinteresse pelo “poleiro”; chateado, por vejo a nossa segurança comunitária a diminuir o seu efeito protector; chateado porque vejo que muitos espertos se dedicaram integralmente à política, não com a intenção de fazerem o país crescer, contudo, abraçando-a como profissão bem paga, de risco zero, com horizonte de enriquecimento ilimitado e isentada de quaisquer consequências penais por gestão deficiente e danosa
São estas coisas, e não só, que chateiam! Chateiam tanto, que me obrigam a chatear toda a cambada, cuja incompetência me faz revoltar o espírito, roubando-lhe a serenidade que por direito devia ter.
“Perdoa a quem te chateia”; é bom dizê-lo, isso é verdade… mas eu não estou na disposição de o fazer, por isso chateio. Se eu devo chatear e não chateio, ou sou covarde, acomodado ou ignorante; como não me identifico com nenhuma destas “virtudes”, escrevo só para chatear, mesmo que venha a ser chateado.
Esta mocada foi só p´ra chatear.

António Figueiredo e Silva
Coimbra, 19/02/2019


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