Se
não importunares aqueles que te chateiam,
sublinhando-o
com a tua presença, eles vão cogitar
que
tu deixaste de existir; chateia.
(A.
Figueiredo)
CHATEAR
Após
a recuperação de uma razoável “gripalhada”, que me parece ter redundado num
amolecimento do cérebro (que penso ainda possuir), há minutos que tenho andado
a dar voltas de cão antes de se deitar, para saber sobre o que hei-de redigir.
Entediado por um interregno quase sereno, sem ser importunado, vou escrever
sobre o chatear; somente mesmo, pelo patológico prazer de chatear. Eu gosto de
chatear e ao que parece, sou perito em fazê-lo quando a hidrofobia me afronta.
Sei que é chato (e o que é um chato),
mas é o meu mau feitio; chatice que não consigo (nem devo), mudar, porque me dá
extremo gozo, chatear aqueles que merecem ser chateados, porque nunca se
ensaiaram nada, em chatear a comunidade, e, consequentemente, a mim.
Agora vou chatear quem?
Pensando bem, vou chatear os
“benfeitores” que passaram pelo Hotel Correccional de Évora, ou aqueles que
ainda lá se encontram a apanhar gratuitamente banhos de sol, à “sombra”, numas
férias bem merecidas pagas por todos nós, em “honrosa” retribuição pelos seus
actos de bem-fazer à comunidade, que em calma aparente espera que outros lhe
vão fazer companhia, para jogarem umas suecadas.
Também quero chatear os outros
“bandoleiros” devem andar na penumbra mas que há muito tempo têm uma suposta
reserva para aquela instância hoteleira, mas que o desequilíbrio da nossa
Justiça, no que respeita à coerência do ponteiro da balança judicial, que
oscila entre as grandes e “amistosas” influências e o compadrio, não tem tido
oportunidade de consolidar a sua imponderabilidade. São estas algumas das principais
razões que me impelem a chatear, por estar chateado, uma vez que o que acho
certo não funciona como tal, e se funciona, a sua celeridade é de tal maneira
lenta, que os resultados acabam por se afogarem no esquecimento da
conveniência.
Bolas, temos de chatear! Pelo menos eu,
disso sou apologista; quando não, se nos mantivermos silentes, corremos o risco
de nos catalogarem de ignorantes. Por isso, eu quero chatear porque estou
chateado; chateado com o que vejo ser extorquido sem haver punições; chateado
porque descortinam sempre as mais diversas merdices para justificar greves que
emperram a economia, já de si debilitada, deste país; chateado porque não sinto
que a governação esteja a ser feita com sensatez, equidade e desinteresse pelo
“poleiro”; chateado, por vejo a nossa segurança comunitária a diminuir o seu
efeito protector; chateado porque vejo que muitos espertos se dedicaram
integralmente à política, não com a intenção de fazerem o país crescer, contudo,
abraçando-a como profissão bem paga, de risco zero, com horizonte de
enriquecimento ilimitado e isentada de quaisquer consequências penais por
gestão deficiente e danosa
São estas coisas, e não só, que
chateiam! Chateiam tanto, que me obrigam a chatear toda a cambada, cuja
incompetência me faz revoltar o espírito, roubando-lhe a serenidade que por
direito devia ter.
“Perdoa a quem te chateia”; é bom
dizê-lo, isso é verdade… mas eu não estou na disposição de o fazer, por isso
chateio. Se eu devo chatear e não chateio, ou sou covarde, acomodado ou
ignorante; como não me identifico com nenhuma destas “virtudes”, escrevo só
para chatear, mesmo que venha a ser chateado.
Esta mocada foi só p´ra chatear.
António Figueiredo e Silva
Coimbra, 19/02/2019
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