O TOINO ( biaige
à puridade do nosso léxico )*
Eu conheci
muitos. Eram aparvalhadamente alegres e estupidamente brejeiros, rodeando estes
atributos de uma certa timidez natural mal disfarçada sob a forma de excitada
descontracção, que não passava despercebida a quem tivesse um chisco de olho
clínico. Ainda hoje proliferam entre nós uma série desses modelos, que devemos
estimar e preservar, porque têm por finalidade uma função comparativista entre
o saber-se que se é toino por mera conveniência, e o sê-lo, e por patológica
ignorância não o reconhecer.
O toino!!!
Pedra amorfa e “podre” como o xisto, que podemos afirmar quase com toda a
infalibilidade ser um lorpa, embriagado em pretensões à esperteza, que ele
próprio, com uma convicção mole, firmada em alicerces sem fundo, confunde com erudição.
Não foi por
acaso que apareceu a palavra toino no nosso glossário
regionalista, que por conotação quer
dizer boçal, grosseiro, papalvo, ignorante, rude, estúpido, artolas, agreste,
camelo, asino, alabancioso, alpavardo, bem assim como outras palavras e
palavrões de foro contemporâneo ou arcaico, cunhadas de um timbre depreciativo que
por vezes tende a resvalar para o universo da obscenidade.
É muito usual
dizer-se, quando aparece algum espécime com estas características: “aquele ali,
é um
toino do…” ou; “o… parece que
tem a mania qu’é toino”.
O toino
não é feito pela sociedade, já nasce toino!?... Porém, tem um papel com
acentuada preponderância não só no nosso meio, como igualmente noutra sociedade
qualquer, porque ele está propagado por todo o globo.
Obviamente que
o toino
tem o seu préstimo e peso relativos às massas onde se insere, permitindo a que
sagazes espertalhões, muitas vezes identicamente toinos, mas menos do que ele, servirem-se das características
abascadas que lhe são inseparáveis, em proveito próprio e não da comunidade.
Ele é, por assim dizer, um capacho; é daqueles que servilmente se aninha
perante outros, de quem depende, e onde qualquer cão sarnento com movimentos
peristálticos uretrais acaba por mictar.
Os toino
é um ser cuja simbologia é subjectiva e só valoriza quem dela habilmente sabe
dispor – aqui já poderíamos entrar noutro capítulo. A sua valoração é a mesma
que a do zero. Contudo, apesar desta equivalência, que é por inerência
variável, pode produzir resultados puramente reais, com efeitos benéficos ou nefastos,
decorrentes da sua boa ou má aplicação; positivo, negativo ou zero absoluto,
consoante a necessidade do “matemático” que o usa, colocando-o à esquerda, à direita
ou ao centro, ou ainda, simplesmente eximi-lo.
Quer isto
dizer que o toino é pau para toda a colher, testo para qualquer panela,
batoque para qualquer pipa, ou penico para qualquer traseiro. Bem analisadas as
coisas não passa uma nitreira. É uma dádiva que a Natureza nos ofereceu, e dadas
as suas características moldáveis e também maneáveis, permite-nos a tapagem ou
planificação de qualquer falso buraco. É um ser de personalidade um tanto
peganhenta mas de falsa aderência. Com o avanço do progresso, direi mesmo que… O
toino é a plasticina social.
Não sou nenhum
linguista nem nada que se pareça, e é possível que nem saiba bem aquilo que
estou a argumentar, mas não me coíbo de dar a minha modesta opinião de que
devia ser criado um neologismo que viesse substituir a palavra
toino por “pantoino”, devido à sua proliferação global.
E mais!...
No que
respeita ao nosso idioma, que é rico em palavras e também tem sido “opulento”
em mudanças,** proceder similarmente à permutação de algumas palavras
portuguesas genuínas, tais como: congosta,
por “quingosta”, tacho por taicho, vaca por baca, concha (para tirar o caldo) por gadanho, ancinho por incinho,
demasia por desmasia, chocolate por chicolate, goma de mascar por chicla, desenjoar por desinjuar, disenteria por caganeira, gravata por garbata, soalho por sôlho, vejo por beijo, bolota
por bolêtra, azeitonas por zeitonas e muitas mais que se poderiam
enumerar, porque, por conjectura baseada em alguns dados, devem ser estas e
muitas outras que provavelmente o toino tem gravado na “ceratina”,
facultando-lhe assim uma interpretação mais clara para a sua débil compreensão.
Penso ser
nosso dever, num gesto de agradecimento e compaixão, aplainar os trilhos, quer
escritos quer verbais, à bitola do entendimento do toino, para que ele se
sinta feliz e ao mesmo tempo para que os seus reduzidos atributos não definhem,
pois são sempre utilizáveis… Se não mais, para gozo do pagode, que imoralmente
tem a mania de caçoar, rindo de qualquer infortúnio.
Seria ou não
seria melhor, para o toino?!...
António de Figueiredo
e Silva
*Esta é uma “veneração” ao vocábulo toino.
** Uma delas foi o acordo Luso-Brasileiro,
contra o qual
manifestei o meu desacordo
em alguns
periódicos de nível nacional.
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