terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

O TOINO ( biaige à puridade do nosso léxico )*


O TOINO ( biaige à puridade do nosso léxico )*


Eu conheci muitos. Eram aparvalhadamente alegres e estupidamente brejeiros, rodeando estes atributos de uma certa timidez natural mal disfarçada sob a forma de excitada descontracção, que não passava despercebida a quem tivesse um chisco de olho clínico. Ainda hoje proliferam entre nós uma série desses modelos, que devemos estimar e preservar, porque têm por finalidade uma função comparativista entre o saber-se que se é toino por mera conveniência, e o sê-lo, e por patológica ignorância não o reconhecer.
O toino!!! Pedra amorfa e “podre” como o xisto, que podemos afirmar quase com toda a infalibilidade ser um lorpa, embriagado em pretensões à esperteza, que ele próprio, com uma convicção mole, firmada em alicerces sem fundo, confunde com erudição.
Não foi por acaso que apareceu a palavra toino no nosso glossário regionalista, que por conotação quer dizer boçal, grosseiro, papalvo, ignorante, rude, estúpido, artolas, agreste, camelo, asino, alabancioso, alpavardo, bem assim como outras palavras e palavrões de foro contemporâneo ou arcaico, cunhadas de um timbre depreciativo que por vezes tende a resvalar para o universo da obscenidade.
É muito usual dizer-se, quando aparece algum espécime com estas características: “aquele ali, é um toino do” ou; “o… parece que tem a mania qu’é toino”.
O toino não é feito pela sociedade, já nasce toino!?... Porém, tem um papel com acentuada preponderância não só no nosso meio, como igualmente noutra sociedade qualquer, porque ele está propagado por todo o globo.
Obviamente que o toino tem o seu préstimo e peso relativos às massas onde se insere, permitindo a que sagazes espertalhões, muitas vezes identicamente toinos, mas menos do que ele, servirem-se das características abascadas que lhe são inseparáveis, em proveito próprio e não da comunidade. Ele é, por assim dizer, um capacho; é daqueles que servilmente se aninha perante outros, de quem depende, e onde qualquer cão sarnento com movimentos peristálticos uretrais acaba por mictar.
Os toino é um ser cuja simbologia é subjectiva e só valoriza quem dela habilmente sabe dispor – aqui já poderíamos entrar noutro capítulo. A sua valoração é a mesma que a do zero. Contudo, apesar desta equivalência, que é por inerência variável, pode produzir resultados puramente reais, com efeitos benéficos ou nefastos, decorrentes da sua boa ou má aplicação; positivo, negativo ou zero absoluto, consoante a necessidade do “matemático” que o usa, colocando-o à esquerda, à direita ou ao centro, ou ainda, simplesmente eximi-lo.
Quer isto dizer que o toino é pau para toda a colher, testo para qualquer panela, batoque para qualquer pipa, ou penico para qualquer traseiro. Bem analisadas as coisas não passa uma nitreira. É uma dádiva que a Natureza nos ofereceu, e dadas as suas características moldáveis e também maneáveis, permite-nos a tapagem ou planificação de qualquer falso buraco. É um ser de personalidade um tanto peganhenta mas de falsa aderência. Com o avanço do progresso, direi mesmo que… O toino é a plasticina social.
Não sou nenhum linguista nem nada que se pareça, e é possível que nem saiba bem aquilo que estou a argumentar, mas não me coíbo de dar a minha modesta opinião de que devia ser criado um neologismo que viesse substituir a palavra toino por “pantoino”, devido à sua proliferação global. E mais!...
No que respeita ao nosso idioma, que é rico em palavras e também tem sido “opulento” em mudanças,** proceder similarmente à permutação de algumas palavras portuguesas genuínas, tais como: congosta, por “quingosta”, tacho por taicho, vaca por baca, concha (para tirar o caldo) por gadanho, ancinho por incinho, demasia por desmasia, chocolate por chicolate, goma de mascar por chicla, desenjoar por desinjuar, disenteria por caganeira, gravata por garbata, soalho por sôlho, vejo por beijo, bolota por bolêtra, azeitonas por zeitonas e muitas mais que se poderiam enumerar, porque, por conjectura baseada em alguns dados, devem ser estas e muitas outras que provavelmente o toino tem gravado na “ceratina”, facultando-lhe assim uma interpretação mais clara para a sua débil compreensão.
Penso ser nosso dever, num gesto de agradecimento e compaixão, aplainar os trilhos, quer escritos quer verbais, à bitola do entendimento do toino, para que ele se sinta feliz e ao mesmo tempo para que os seus reduzidos atributos não definhem, pois são sempre utilizáveis… Se não mais, para gozo do pagode, que imoralmente tem a mania de caçoar, rindo de qualquer infortúnio.
Seria ou não seria melhor, para o toino?!...


António de Figueiredo e Silva


*Esta é uma “veneração” ao vocábulo toino.

** Uma delas foi o acordo Luso-Brasileiro,
contra  o qual manifestei o meu desacordo
 em alguns periódicos de nível nacional.

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