terça-feira, 25 de dezembro de 2018

PORQUE, É NATAL


Ao fazer uma lista de pessoas confiáveis,
 faça a lápis e nunca se esqueça da borracha.
(Gilton Guma)


PORQUE, É NATAL

É sempre assim.
Neste período anual, em que o branco e o preto se miscigenam para atribuir uma tonalidade pardacenta à temporada, a “confraternização” tornou-se rotineira, embora a enraizada malícia se possa transformar em “franca” - ou fingida - bondade, consoante o íntimo de cada indivíduo. Estou crente de não pertencer à parte negativa subentendida nesta “minúscula” narrativa para o período actual, porém, também não é minha intenção entrançar juízos de valor que podem ser certos ou errados, conquanto que e apesar de tudo, não sinto necessidade alguma de refrear o que realmente me vagabundeia na alma. Por isso, dou asas ao meu pensamento para ele possa esvoaçar desafrontadamente para onde a distância não tem fim, e dispersar por todos os cantos e esquinas o que muitos se coíbem de transmitir.
É nesta época do ano que o Homem descobre quão grande é a sua pobreza de espírito, depois de ter passado uma grande temporada a tentar sepultá-la, para nesta altura natalícia a “ressuscitar” sob a forma de dissimulado altruísmo. É, infelizmente é assim, e deste modo se pode constatar que a Natureza não escapa às imperfeições, - colossais, diga-se.
Mas estas dissimulações são temporárias; se assim não fosse, seria um facto a sua longa duração - que é sol de pouca dura - e não um mito, esse bode expiatório onde muitos elementos procuram diluir por momentos os seus descréditos de consciência perante a sociedade, para que esta admita na sua “bondade”, e não perante eles próprios.
Esta é uma época do ano em que todos gente anseiam a paz, conquanto que alimentem a guerra, cinicamente justificando-a como o único meio de conseguir essa tranquilidade, por todos desejada. Não vejo como o Homem irá conseguir, uma vez que é notório que ele nem consigo próprio alimenta o refrigério.
Porque o Homem tem espírito selvagem, sádico e masoquista. Selvagem, porque não pensa nas consequências das suas posturas, quer em relação aos outros, quer em relação e ele próprio; é sádico, porque gosta de ver sofrer os outros; masoquista, porque não obstante esse sofrimento também o atingir, continua a escarafunchar a ferida que o atormenta. Isso dá-lhe um certo gozo.
Estas características são decorrentes da sua cobiça, porque o muito para ele não existe, sendo esta a causa primeira da sua sofreguidão, que é chegar a rico, patamar que nunca será por ele atingido, na medida em que a riqueza é relativa e não absoluta; daí que alguém disse, que quem não se contenta com muito, é pobre; quem se contenta com pouco, é rico.
O Ser Humano engana-se ao desprezar a noção de que a maior fortuna que se pode ter, reside na parte espiritual e não na porção material. É aqui que reside a diferença entre um pobre inteligente e um burro rico. Apesar destas dissemelhanças ambos são aparentemente tratados socialmente da mesma maneira; um porque apesar de estúpido e burro, tem dinheiro; o outro, não obstante ser pobre, é rico de inteligência.
Na Comunidade Humana as coisas funcionam assim… e sempre assim será.
É nesta quadra que a hipocrisia e a benevolência se confundem.
Mas ponham isso de lado…
…PORQUE É NATAL!

António Figueiredo e Silva
Coimbra, 25/12/2018


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