faça a lápis e nunca se esqueça da borracha.
(Gilton
Guma)
PORQUE,
É NATAL
É
sempre assim.
Neste período anual, em que o branco e o
preto se miscigenam para atribuir uma tonalidade pardacenta à temporada, a “confraternização”
tornou-se rotineira, embora a enraizada malícia se possa transformar em “franca”
- ou fingida - bondade, consoante o íntimo de cada indivíduo. Estou crente de
não pertencer à parte negativa subentendida nesta “minúscula” narrativa para o período
actual, porém, também não é minha intenção entrançar juízos de valor que podem
ser certos ou errados, conquanto que e apesar de tudo, não sinto necessidade
alguma de refrear o que realmente me vagabundeia na alma. Por isso, dou asas ao
meu pensamento para ele possa esvoaçar desafrontadamente para onde a distância
não tem fim, e dispersar por todos os cantos e esquinas o que muitos se coíbem
de transmitir.
É nesta época do ano que o Homem descobre
quão grande é a sua pobreza de espírito, depois de ter passado uma grande
temporada a tentar sepultá-la, para nesta altura natalícia a “ressuscitar” sob
a forma de dissimulado altruísmo. É, infelizmente é assim, e deste modo se pode
constatar que a Natureza não escapa às imperfeições, - colossais, diga-se.
Mas estas dissimulações são temporárias;
se assim não fosse, seria um facto a sua longa duração - que é sol de pouca
dura - e não um mito, esse bode expiatório onde muitos elementos procuram
diluir por momentos os seus descréditos de consciência perante a sociedade,
para que esta admita na sua “bondade”, e não perante eles próprios.
Esta é uma época do ano em que todos gente
anseiam a paz, conquanto que alimentem a guerra, cinicamente justificando-a
como o único meio de conseguir essa tranquilidade, por todos desejada. Não vejo
como o Homem irá conseguir, uma vez que é notório que ele nem consigo próprio
alimenta o refrigério.
Porque o Homem tem espírito selvagem,
sádico e masoquista. Selvagem, porque não pensa nas consequências das suas
posturas, quer em relação aos outros, quer em relação e ele próprio; é sádico,
porque gosta de ver sofrer os outros; masoquista, porque não obstante esse
sofrimento também o atingir, continua a escarafunchar a ferida que o atormenta.
Isso dá-lhe um certo gozo.
Estas características são decorrentes da
sua cobiça, porque o muito para ele não existe, sendo esta a causa primeira da
sua sofreguidão, que é chegar a rico, patamar que nunca será por ele atingido,
na medida em que a riqueza é relativa e não absoluta; daí que alguém disse, que
quem não se contenta com muito, é pobre; quem se contenta com pouco, é rico.
O Ser Humano engana-se ao desprezar a
noção de que a maior fortuna que se pode ter, reside na parte espiritual e não
na porção material. É aqui que reside a diferença entre um pobre inteligente e
um burro rico. Apesar destas dissemelhanças ambos são aparentemente tratados
socialmente da mesma maneira; um porque apesar de estúpido e burro, tem
dinheiro; o outro, não obstante ser pobre, é rico de inteligência.
Na Comunidade Humana as coisas funcionam
assim… e sempre assim será.
É nesta quadra que a hipocrisia e a
benevolência se confundem.
Mas ponham isso de lado…
…PORQUE
É NATAL!
António Figueiredo e Silva
Coimbra, 25/12/2018
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