Aprendi que,
falar, pode aliviar
as minhas dores emocionais.
(William
Shakespear)
NAQUELE
TEMPO…
É
mais sonante e interrogativo, começar assim:
Naquele
tempo… período em que vacas raquíticas pachorrentamente
puxavam o carro certificado por uma matrícula camarária, não havia os meios
aéreos nem terrestres que hoje existem; os bombeiros, que eram mesmo
voluntários, não passavam de um triste “arremêdo” às potencialidades hoje
existentes; naquela época, a arborização do nosso país já existia, “podre de
velha”, pronta para a cremação, porém, apesar da existência de vários
artifícios incendiários, os instintos “piromaníacos” eram refreados pela lei
que, através organismos implacáveis tutelavam uma vigilância apertada.
Só
uma observação antes de continuar: não desejei ter vivido dessa altura, mas tive
de passar por lá. O mundo da procriação assim mo impôs.
Nesse tempo, eram os guardas florestais
e os cantoneiros, auxiliados pelas lições de “moral” da GNR de botas cardadas,
que eram explicadas no próprio local ou no interior seus postos de comando, que
mantinham Portugal relativamente limpo e à prova de incêndios; se bem que a
canícula também apertasse, as combustões nunca alcançaram as dimensões dramáticas
que actualmente têm atingido as nossas florestas.
Ai, ocorrem por causa calor. Conversa de
trampa. O brasido do astro-rei já vem de longe! Os aglomerados florestais
também remontam a muitos anos! Os únicos factores que mudaram, foram a
quantidade de incêndios, as várias frentes que os têm feito deflagrar e a mansidão
dos castigos aplicados quando os autores são caçados ou descobertos.
Todos sabemos porquê, menos quem nos
governa e dita as leis. Sabemos que é mais fácil atirar as culpas para o
passado do que “consertar” o que está roto ou desordenado no presente, com
vista a organizar o futuro. As “inteligências” vazias de conteúdo, assim o têm
provado.
Naquele tempo… cada um tinha a função
que lhe era distribuída e fazia por cumpri-la escrupulosamente; se por algum
motivo não conseguisse dar cumprimento ao estabelecido, teria de ser
justificado. Isto consagrava a ordem, indubitável procedência do progresso, que,
para infelicidade nossa, hoje está em vias de apagamento; isto porque ninguém é
responsável por nada. As palavras, função
e cumprimento, volatilizam-se no labirinto
desordenado do poder instituído, que protege os interesses dos seus elementos,
arredando para o lado os benefícios da comunidade, pelos quais deviam zelar. No
entanto, o empreendimento fundamental de quem governa é subjugar o caos à
ordem. Não obstante isso, recorrem a artifícios cujas dúvidas são persistentes
e engendram trinta por uma linha apenas para justificar a sua inépcia, enquanto
Portugal continua a arder, e as casas dos antigos cantoneiros e guardas
florestais são pasto das chamas ou a moradia para férias e reprodução de lesmas
e caracóis, cobras e lagartos e outras espécies da nossa “perigosa selva”.
Esta é que é a circunstância actual.
E se voltássemos àquele tempo?!
António Figueiredo e Silva
Coimbra, 11/08/2018
www.antoniofsilva.blogspot.com
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