sábado, 11 de agosto de 2018

NAQUELE TEMPO…


Aprendi que, falar, pode aliviar
as minhas dores emocionais.
(William Shakespear)

NAQUELE TEMPO…


É mais sonante e interrogativo, começar assim:
Naquele tempo… período em que vacas raquíticas pachorrentamente puxavam o carro certificado por uma matrícula camarária, não havia os meios aéreos nem terrestres que hoje existem; os bombeiros, que eram mesmo voluntários, não passavam de um triste “arremêdo” às potencialidades hoje existentes; naquela época, a arborização do nosso país já existia, “podre de velha”, pronta para a cremação, porém, apesar da existência de vários artifícios incendiários, os instintos “piromaníacos” eram refreados pela lei que, através organismos implacáveis tutelavam uma vigilância apertada.
 Só uma observação antes de continuar: não desejei ter vivido dessa altura, mas tive de passar por lá. O mundo da procriação assim mo impôs.
Nesse tempo, eram os guardas florestais e os cantoneiros, auxiliados pelas lições de “moral” da GNR de botas cardadas, que eram explicadas no próprio local ou no interior seus postos de comando, que mantinham Portugal relativamente limpo e à prova de incêndios; se bem que a canícula também apertasse, as combustões nunca alcançaram as dimensões dramáticas que actualmente têm atingido as nossas florestas.
Ai, ocorrem por causa calor. Conversa de trampa. O brasido do astro-rei já vem de longe! Os aglomerados florestais também remontam a muitos anos! Os únicos factores que mudaram, foram a quantidade de incêndios, as várias frentes que os têm feito deflagrar e a mansidão dos castigos aplicados quando os autores são caçados ou descobertos.
Todos sabemos porquê, menos quem nos governa e dita as leis. Sabemos que é mais fácil atirar as culpas para o passado do que “consertar” o que está roto ou desordenado no presente, com vista a organizar o futuro. As “inteligências” vazias de conteúdo, assim o têm provado.
Naquele tempo… cada um tinha a função que lhe era distribuída e fazia por cumpri-la escrupulosamente; se por algum motivo não conseguisse dar cumprimento ao estabelecido, teria de ser justificado. Isto consagrava a ordem, indubitável procedência do progresso, que, para infelicidade nossa, hoje está em vias de apagamento; isto porque ninguém é responsável por nada. As palavras, função e cumprimento, volatilizam-se no labirinto desordenado do poder instituído, que protege os interesses dos seus elementos, arredando para o lado os benefícios da comunidade, pelos quais deviam zelar. No entanto, o empreendimento fundamental de quem governa é subjugar o caos à ordem. Não obstante isso, recorrem a artifícios cujas dúvidas são persistentes e engendram trinta por uma linha apenas para justificar a sua inépcia, enquanto Portugal continua a arder, e as casas dos antigos cantoneiros e guardas florestais são pasto das chamas ou a moradia para férias e reprodução de lesmas e caracóis, cobras e lagartos e outras espécies da nossa “perigosa selva”.
Esta é que é a circunstância actual.
E se voltássemos àquele tempo?!

António Figueiredo e Silva
Coimbra, 11/08/2018
www.antoniofsilva.blogspot.com

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