A
ironia é uma forma educada
de ser mal-educado.
(Camila
Bill)
DIFERENÇAS
(Brutalidade
e falta de educação)
Há
quem argumente que a brutalidade equivale à falta de educação, ou seja à
incorrecção. Pessoalmente não estou convencido disso e à guisa dessa questão, ajuízo
que pode ser-se bruto mas saber o lugar que se ocupa na sociedade regida pelas
normas da ética, em que o comportamento relacional tem o seu valor implícito e
certamente pode não ser-se mal-educado. Há ocasiões em que, quando a verdade
está à vista e no-la querem extorquir, podemos naturalmente enveredar pela
resposta bruta, ciliciante, ácida e dilacerante, sem contudo enveredar pela
falta de educação.
O indecoro classifica negativamente a
pessoa que faz uso dele colocando-a no lado negro da crítica social, conquanto que
a brutalidade perante a realidade de um facto, provida de ética é censurável,
mas ao mesmo tempo desculpável e passível de correcção suportadas pela perseverança
e pelo diálogo.
Com a falta de educação já assim não
acontece; a interlocução deve ser imediatamente encurtada, ou radicalmente trinchada,
para evitar atingir o patamar máximo do desentendimento, que é a altercação.
Ao bruto, ainda se pode permitir falar;
é natural que a sua brutalidade seja consequência de uma razão aninhada no seu
interior, mas que pela forma como a expressa, se torna desagradável a sua
audição, não sendo porém de desprezar; ao mal-educado, que inicia de imediato o
seu paleio bafioso, quer seja de ataque, de resposta ou opinativo, recorrendo a
palavras menos próprias ou insultos, perde toda a razão logo à partida.
As pessoas que voluntariamente se deixam
devotamente orientar pela falta de educação, que há muita, acho que perdem um fragmento
bem abonado do conceito respeitante ao prazer de viver, onde a harmonia é uma
constante que elas deviam procurar conhecer e adaptar-se.
É apanágio destas pessoas desprovidas de
educação, criarem à sua volta um mundo pedregoso e inaceitável, sendo por isso comunitariamente
sentenciadas, por causa das suas solturas cerebrais.
Concluindo: os brutos ainda podem falar
verdades; os mal-educados, apenas irritantes baboseiras, com a perda de razão
logo ao iniciar a sua “comunicação”.
Toda esta dissertação é desnecessária às
pessoas educadas; apenas serve aos bactrianos mal-educados, sem formação
cívica, que fazem da falta de educação a sua profissão de fé.
Ouviste, ó camelo?
Tenho dito.
António Figueiredo e Silva
Coimbra, 21/08/2018
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