segunda-feira, 23 de julho de 2018

O MELRO DOS PENÊDOS


O MELRO DOS PENÊDOS
(Historieta para matar o tempo)

Bem aviado de uma penugem desgrenhada e empanzinada de grafite, esvoaçando em rasante por entre o arvoredo rasteiro e desviando-se dos pedregulhos - analogicamente seus parentes, por pertencerem a uma genealogia impensante - com o seu assobio desafinado, mais parecido com um chilrio, mas protegido por uma cambada de melros da sua igualha, lá conseguiu encetar a sua penetração no útero apodrecido da politicalha; “ocupação” onde se ganha bem sem nada se conceber. É um “ofício” destinado à chulice, ao ócio, ao malabarismo barato – que nos sai caro - porém lucrativo, e marginado por um benefício como “agravante”; uma imunidade incondicional que o tutela contra todas as parvoíces, tropelias e trampolinices, por muito velhacas ou inconvenientes que elas sejam. O melro, sente-se um pequeno marajá num reino de cegos, até que estes abram a pestana.
Foi deste modo pardacento, ninho mal feito em que a realidade é pouco clara, que o melro dos penêdos, esvoejando e mal sabendo gaitar, zarpou dos Montes Hermínios e atingiu a alcândora que, apesar de lhe ter granjeado um aparente estado social “elevado”, ele, na sua tacanha rusticidade, se sente agora um autêntico soberano, embora frustrado, que outrora fora um rei de causas perdidas. Foi arrancado à serrania, contudo, a serra não o abandonou.
Foi este passarôco – possivelmente, passarão – maila passarada de estrema rareza, que, por entre comezainas, “boîtes"e  compadrios, não isentando alguns xanaxs para lhe aliviar a atroada do martelar da incompetência genética que o distingue pela falta de intrepidez para triunfar, foi catapultado à força, pelos despenhadeiros serrania abaixo, como um burgau desprendido do alto de um rochêdo, rolando e fazendo tangenciais carambolas nos socalcos e penhascos da encosta, lá foi parar ao hemiciclo parlatorial, a celebérrima gamela leiteira de onde, a partir de enchumaçadas cátedras se decretam entre barrelas de lavagem de roupa encardida pela inaptidão, os estatutos, cujas consequências todos nós, considerados passarada de segunda classe, remuneramos, quer pertençamos às fatídicas Cólera-morbo, Febre-amarela, Peste Negra, ou à repudiada Peste Grisalha.
Acho que é hora de nós, considerados pardais dos telhados, nos unirmos e, juntos, promovermos uma chumbadazinha no melro dos penêdos e em toda a passarada negra que o suporta, para lhes chamuscarmos a lanugem e remetê-los à sua procedência, instalada no reino da incompetência, que jaz congelado muito abaixo do sopé do entendimento.

António Figueiredo e Silva
Coimbra, 23/07/2018

Nota: Qualquer parecença que possa existir com
 alguma figura da nossa “fauna” comunitária,
é pura coincidência
  


 


Sem comentários:

Enviar um comentário