O
“BOCÊ” (VOCÊ), E O… PÁ!
O
primeiro, não abandona o seu lugar gramatical, dado ser um termo que faz parte
do amplo léxico da língua portuguesa, e que, diga-se, está gramaticalmente
correcto, conquanto que a sua aplicação massiva tende a chancelar o
“palestrante”, por mais douto que ele seja, com uma aura de labreguice. Isto
porque em meu entender, um hábito, não direi mau, mas que reflecte uma falta de
polimento académico e pessoal – penso assim.
Poder-se-ia aplicar também o vossemecê ou
o vomecê; contudo, devido à evolução dos padrões linguísticos correntes, estes
dois termos vocabulares caíram em desuso, não obstante estarem correctos,
continuando como sobrevivente, embora “combalido”, o malsonante “bocê”. A sua utilização é de uma rudeza tão dilatada,
que até deu origem a uma frase que se tornou tradicional: “você é, estrebaria”.
Toda a gente sabe o que é uma estrebaria –
quem não souber que consulte o dicionário. O seu significado diz tudo.
Bem… e o, “pá”? Esse furúnculo, que é um
desgostoso arremêdo à linguística, não pela sua pequenez mas pelo seu
propósito, nem pelas interjeições é contemplado. É apenas mais, um gafanhoto
perdido a manchar a musicalidade e o decoro, não só de quem o usa, mas também
da linguagem rasteira. É um vocábulo nu e vazio; não tem significado, é
desprovido de interpretação, não usufrui de qualquer estrutura etimológica,
etc. Este apenas serve como saca-rolhas para o começo de uma prosa pobre, para
salitrar os intervalos respiratórios desse mesmo palratório, ou ainda como um reles
tampão para finalizar uma cavaqueira.
Olho o “pá,” como um condimento de mau
gosto, que muitos aplicam viciosamente, sem terem a percepção de que, com
acentuado ridiculismo, estão a empobrecer o seu cozinhado de dicção.
E então quando se juntam os dois à
esquina, o “você” e o “pá,” - sem tocarem a concertina, como é óbvio - é
suposto estarem a pedir um balde de água fria pela cabeça abaixo, para
refrescar os neurónios, se eles existirem, com vista a uma afinação mental do
prosador, useiro e vezeiro no recurso triste, destes ácaros “bucabulares”.
Ó “pá”, e “você gostou desta, “pá”?
António Figueiredo e Silva
Coimbra, 10/06/2017
www.antoniofsilva.blogspot.com
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