terça-feira, 6 de março de 2018

O PRECONCEITO


0 preconceito é uma opinião que
deixou de ser submetida à razão.
(Voltaire)


O PRECONCEITO

Conceitos mal arquitectados na vacuidade “opinativa” rebelde, geram preconceitos.
Toda a atitude decorrente da presunção vazia de conteúdo é nociva à sociedade, não obstando que, apesar disso, esta seja uma desvirtude que mina todo o ser Humano. Sem excepções – repito: sem exclusões.
Aquele que disser que não tem preconceitos, mente. Pode ter autodomínio (manha) suficiente para não o evidenciar, todavia, quando as condições se propiciam à sua soltura, não se fazem rogar. Isto é uma afirmação e não um pensamento linear.
Sei que o indivíduo, ao sujeitar-se religiosamente a juízos de valor divagados e expô-los abertamente sem qualquer sensatez, são a resultante de uma agnosia marcada, conquanto que também saiba que essa mesma ignorância foi criada no princípio da existência Humana.
A meu ver, esta enfermidade não se manifesta somente em não aceitar as ideias dos outros ou os seus sentimentos, mas sim em promover uma auto-demarcação, ainda que estúpida, de uma posição que o imbecil considera de cocuruto, onde ele se sente como primeira pessoa, digna e convencida de que toda a respeitabilidade e mesuras se vão vergar à sua parvoíce. Esta é a genuína falácia de uma realidade. Falácia, porque isso não sucede; realidade porque a pobreza de espírito faz assim faz pensar.
E não é imperativo o recurso à agressividade raivosa, como muitas pessoas pensam e argumentam, para se demonstrar a existência de tendências pré-concebidas no vazio do entendimento. As posturas e a linguagem corporal são o suficiente de falar mais alto do que o mais “belo” e extenso sermão. Um gesto, um olhar de cima da burra ou de esguelha, um empinar de nariz, um assobiar para o lado, etc. são sinais que pertencem ao cartilha do preconceito. As chefias, os mandões, os parvos, os prepotentes, e até mesmo aqueles que o não são, mas que do mesmo monte (humano) fazem parte - se não mais, entre si – não são imparciais. O preconceito ataca e corrói o ser Humano como a ferrugem agride e lentamente mastiga o ferro até o consumir.
Não sinto que o preconceito seja uma germinação consequente das mentes mais intolerantes, mas reconheço, contudo, que esta singularidade não devia fazer parte da construção do ser Humano. Mas faz, e ponto final.
As ideias pré-concebidas no espaço, com tijolos de aparente raciocínio, enganam quem as gera e escravizam aqueles que a elas se submetem ou dão crédito, por serem obrigadas a isso, por força das circunstâncias – a coacção anda sempre de mãos dadas com a imposição; são duas armas forjadas na pira do conceito desarmado.
É do juízo pré-concebido (mal procriado) que vêm todas, mas todas as manias separatistas, ou melhor, discriminatórias, que impunemente vagueiam na comunidade global, empeçonhando-a de tudo o que de pior existe. Ele impede que um ser seja julgado em função da sua capacidade intelectiva, porque no pré-julgamento, a firmeza não reside na crítica, uma vez que esta tem que ter por base o conhecimento, mas o errado juízo de valor nada mais faz do que escarafunchar víctimas, ao agigantar-lhes as “incorrecções”, físicas ou morais, as tendências ou pulsões, as crenças, a sua genética etc., castrando-lhes em grande parte a sua ascensão ao universo da igualdade a que as mesmas indubitavelmente deviam e devem ter direito.
Se a existência Diabólica é tida como um facto - místico mas é - como o é o da existência Divina, é o mesmo que dizer que o Bem e o Mal sempre coexistiram desde a “origem”; logo, uma das forças deixou-se dominar pela outra e o produto de “olaria” – entenda-se Criação - saiu com um defeito que somente pode ter sido soprado pela força Diabólica; o preconceito.
Posso afirmar, sem quaisquer obscuridades duvidosas, que o preconceito é o factor principal da instabilidade mundial; é a força motriz da ambição; é o gerador de quezílias e conflitos que mais tarde ou mais cedo, acabarão por dizimar a vida neste pontinho minúsculo do universo, onde todos poderíamos viver na paz dos deuses; naquele fantasiado e seráfico empíreo, onde, por caminhos diferentes, todas as crenças vão dessedentar-se.
Assim o entendo, assim o digo.

António Figueiredo e Silva
Coimbra, 06/02/2018

Obs: Ainda não sou a favor
 do novo acordo ortográfico.
 







Sem comentários:

Enviar um comentário