sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

EUTANÁSIA AMEAÇA PORTUGAL


A miséria de uma criança interessa a uma mãe,
 a miséria de um rapaz interessa a uma rapariga,
a miséria de um velho não interessa a ninguém.
(Victor Hugo)


EUTANÁSIA AMEAÇA PORTUGAL

Estou velho. Reconhecê-lo é um acto de coragem, mas não deixa de ser, ao mesmo tempo, um acto de orgulho. Audácia porque é frequente recusarmo-nos a legitimar o privilégio que a natureza nos dá e que infelizmente não cabe a todos; regozijo, porque cheguei até aqui, com os miolos talvez um pouco desmembrados, contudo, ainda com capacidade suficiente para analisar o que se passa ao meu redor, e, num arrojado alento, cuspir cá para fora o que corrói a alma a mim, e a muitos portugueses.
Isto ainda me vai sendo possível, porque a robustez do meu espírito combativo ainda não resolveu entabular negociações com nenhum cangalheiro, apesar de já começar a sentir a proximidade do paladar amargo, periclitante e felino, da capitulação.
Porém, mesmo espremido sob a pressão de alguns contratempos ainda resisto; não sei por quanto tempo, porque é difícil adivinhar até quando o governo continua a “cortar as pernas” a mim e a muitos portugueses que se abrigam à sombra irreal do guarda-chuva governamental rôto, que tutela desumana e ardentemente a legislação engendrada para acelerar o destino fatal de muita gente, com mais incidência nos “imprestáveis”; os “Peste Grisalha” - recordam-se? Devo dizer que este estado de coisas já não é de agora, pois a planta para a sua nociva germinação já foi encetada há muito tempo.
“Velhos”, já são um estorvilho e não têm peso na sociedade, a não ser de quatro em quatro anos, quando abre a época de “caça” ao sufrágio, onde toda a moleirinha “tem valor”, mesmo a mais “escavacada”, - mas isso é só no momento; passada a “refrega”, os próprios governos instituídos compactuam em todo o ritual, para a acelerada exterminação dos “imprestáveis”, convencidos de que, graças ao seu desaparecimento, vão untar e estabilizar a emperrada economia desta nação, cuja responsabilidade não deve ser imputada aos “velhos”, mas sim, aos ladrões e aos corruptos deste país, para os quais a visão cega e a espada da justiça não ousam alcançar – por enquanto. Isto ocorre, porque os elementos da teia governativa são os cozinheiros de toda a “caldeirada” estatutária, podendo por isso confeccioná-la ao “gosto” que mais lhes convêm.
Com as incisões paridas pelo recente orçamento no que refere aos serviços de saúde, é bem pressentido que a sombra da eutanásia encapotada surge no horizonte sombrio da desventura, à qual estamos compulsivamente condenados.
Os quadros clínicos têm diminuído na razão directa do aperto do arrôcho, não permitindo por isso dar vazão à súplica dos cuidados necessários para uma prestação de serviços com qualidade e celeridade; as listas de espera para consultas e intervenções adensam-se; o seu movimento lá vai tartarugando, para dar tempo a que muitos fiquem pelo caminho, inertes, frios, de a expressão vazia e pálpebras cerradas, até que os “abutres” os desnudem, lhes enfiem uma rolha no traseiro e “devorem” antes de serem enterrados ou consumidos pelas chamas.
Nota-se que existe uma forte pressão exercida nas direcções dos serviços de saúde, que é transmitida a toda a estructura piramidal, no sentido de que os “hotéis” hospitalares retenham por tempo mínimo os “hóspedes” nas suas instalações (dias virão que vêm para casa com algum bisturi para remover da “carcaça) e que os médicos de família sejam ligeiros nos tempos aplicados às consultas.
Com todas estas condicionantes e outras que lhe são subjacentes, o padecimento e a consequente volatilização são um facto, e que se reflecte com mais incidencia naqueles que atingiram a debilidade etária e se encontram num estado de, monetariamente combalidos – no final todos terão o mesmo destino, porém, ainda há quem não admita esta “fatalidade”, ou libertação.   
Não será necessário argumentar mais, para justificar que nas mais ôcas cabeças de topo da nossa governação, está engastado que o desaparecimento da “Peste Grisalha” fará ressurgir o esplendor da nossa economia, sendo necessário como tal, promover a sua extinção.
É por este cisma que A EUTANÁSIA AMEAÇA PORTUGAL.

António Figueiredo e Silva
Coimbra, 09/02/2018





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