Querem
conduzir um camião,
quando
só têm carta de ligeiros.
(Paula
Silva)
ENTREGUES
À BICHARADA
Num
país onde a semeadura de doutorice híbrida é um facto incontestável, girando,
por analogia, à volta da enxertadura copulativa entre cavalo e burra, raríssimas vezes os resultados finais
podem ser benignos e a justiça emperra.
O gado muar, que não é aquilo que parece,
nem parece aquilo que é, nunca possibilita saber ao certo para que lado pende a
sua constituição genética, ao mesmo tempo que nos deixam confusos e irritadiços
porque se consagram a surpreender-nos sempre com tomadas de posição que não são
mais do que o resultado de pensamentos burricais ou cavalares, ou ainda
miscigenados, que a sua pobre cabeça matuta e sentencia.
Tanto zurram, como relincham, como são
toldados de uma mudez infinita, todavia portadores de uma cobiçada manigância
que lhes permite passar pelo meio da restante animalada atropelando tudo,
inclusive o seu carácter defeituoso e atingirem um lugar privilegiado no topo
da manjedoura.
Aí, é-lhes concedida autoridade
decisória com poderes de regulamentação e controlo de toda a savana social, mas
resguardado por uma impunidade sem limites, que lhes granjeia a possibilidade de
escoicinharem à vontade e quem lhes apetecer, sem que sejam responsabilizados
por quaisquer aleijões decorrentes das parelhas mal dadas.
E colocam animais desta estirpe, meio-acéfalos,
cujo saber nem para uma regedoria servia, a desgovernar toda a bicharada deste serengueti nacional, onde todo o
ambiente é pardacento e hostil, com grande odor a corrupção, ladroeira e
favoritismos, anteriormente encapotadas e hoje com arreganhado descaramento.
Não percebo?!
Se têm carta de condução de ligeiros –
se calhar mal adquirida – porque hão-de teimar em guiar um camião?
Aqui, ou estes híbridos são teimosos ou
a animalada que pseudo-comandam não passa de um enorme amontoado de récuas
genuínas, que em costumeiro lamento vão zurrando a sua sorte, sem dar um pinote
que seja, para mudar a situação.
Estamos mesmo, entregues à bicharada.
António Figueiredo e Silva
Coimbra,16/12/2017
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