domingo, 17 de dezembro de 2017

A MINHA PRENDA DE NATAL

A MINHA PRENDA DE NATAL
(Carta aberta ao Primeiro-ministro de Portugal)

Exmo Sr. Primeiro-ministro
António Costa


Serei breve na minha dissertação.
Sei que esta não será provavelmente uma prenda adequada à época que, na conservação dos meus usos e costumes, eu deveria oferecer a V. Exa., mas também não quero perder a oportunidade de usar esta quadra natalícia, um período festivo, como uma demarcação do meu estado de espírito, quiçá um pouco turbulento, em face de todos os acontecimentos que têm saltado fora do pote preservador do secretismo proteccionista das mazelas que assolam o meu país, que a negligência ou os interesses a elas subjacentes, têm parido. Isto está como um queijo repleto de buracos e em cada buraco mora um rato mai’la sua prol.
Sinto que a situação deste retalho irrigado pelo Oceano Atlântico se está a “afundar nas próprias águas que o banham” por razões diversas; tantas, que a minha pobre cabeça já não permite enumerar a sua totalidade, contudo, estou consciente de que são do conhecimento de V. Exa. e que elas estão a anquilosar sobre todos os aspectos, o bom andamento deste pequeno território - que já foi grande - económica e financeiramente.
A carga fiscal inflacionada, o desemprego um fantasma, a segurança à integridade do cidadão está doente, a justiça é amblíope, o sistema de saúde anda periclitante, o ensino ineficiente… mas ainda há mais, que devido à santa senilidade que nesta idade me amortalha, não permite ao meu caco espirrar. Mas V- Exa. sabe!? E isso é o bastante para encaixar o meu desabafo.
Quem vai pagar isto com língua de palmo?
É a actual juventude trabalhadora – quando tem sorte em ter “trabalho”- que nas grandes empresas onde não se sabe quem é o patrão, é explorada até á medula; são os que agora “gozam” de uma ancianidade pouco sossegada porque se apercebem da delapidagem dos seus direitos outrora conquistados; serão os mais pequeninos, esses tenros rebentos virados para o futuro, que amanhã encontrarão aqui um alfobre estéril, no lugar onde existia um chão que há muito tempo já deu uvas; um curral outrora abarrotado de vacas gordas, que agora se apresentam esqueléticas, com a queratina dos cornos enrijecida pela míngua e as mamas sem úbere, de onde sobressai apenas uma pele flácida e encarquilhada, consequência da falta de “untadura”.
É meu desejo instar a V. Exa. que faça algo mais por este país artriticamente desengonçado, que não seja somente oferecer o seu peculiar sorriso descontraído e a meu ver – só a meu ver - de essência maliciosa.
Estas palavras são a minha prenda de Natal que faço questão de fazer chegar a V. Exa., isto é, se no trajecto, por acidente propositado, ela não for parar ao alcofa dos sabichos de papéis imprestáveis ou remetida para o arquivo dos perdidos e achados, onde o endereçado nunca aparece e a resposta não se sabe onde mora.
Contudo, se ela chegar a bom porto gostaria de saber se gostou.
Não vai ser por estas razões onde a realidade está implícita e a minha revolta também, que não vou desejar um Feliz Natal a V. Exa.
FELIZ NATAL!
Atentamente

António Figueiredo e Silva.

Obs: Esta carta foi enviada ao
Sr. Primeiro-ministro, através do
Email:  sec-geral@sg.pcm.gov.pt





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