A MINHA PRENDA DE NATAL
A
MINHA PRENDA DE NATAL
(Carta
aberta ao Primeiro-ministro de Portugal)
Exmo Sr. Primeiro-ministro
António Costa
Serei
breve na minha dissertação.

Sinto
que a situação deste retalho irrigado pelo Oceano Atlântico se está a “afundar
nas próprias águas que o banham” por razões diversas; tantas, que a minha pobre
cabeça já não permite enumerar a sua totalidade, contudo, estou consciente de
que são do conhecimento de V. Exa. e que elas estão a anquilosar sobre todos os
aspectos, o bom andamento deste pequeno território - que já foi grande - económica
e financeiramente.
A
carga fiscal inflacionada, o desemprego um fantasma, a segurança à integridade
do cidadão está doente, a justiça é amblíope, o sistema de saúde anda
periclitante, o ensino ineficiente… mas ainda há mais, que devido à santa senilidade
que nesta idade me amortalha, não permite ao meu caco espirrar. Mas V- Exa.
sabe!? E isso é o bastante para encaixar o meu desabafo.
Quem
vai pagar isto com língua de palmo?
É
a actual juventude trabalhadora – quando tem sorte em ter “trabalho”- que nas
grandes empresas onde não se sabe quem é o patrão, é explorada até á medula;
são os que agora “gozam” de uma ancianidade pouco sossegada porque se apercebem
da delapidagem dos seus direitos outrora conquistados; serão os mais
pequeninos, esses tenros rebentos virados para o futuro, que amanhã encontrarão
aqui um alfobre estéril, no lugar onde existia um chão que há muito tempo já
deu uvas; um curral outrora abarrotado de vacas gordas, que agora se apresentam
esqueléticas, com a queratina dos cornos enrijecida pela míngua e as mamas sem
úbere, de onde sobressai apenas uma pele flácida e encarquilhada, consequência
da falta de “untadura”.
É
meu desejo instar a V. Exa. que faça algo mais por este país artriticamente desengonçado,
que não seja somente oferecer o seu peculiar sorriso descontraído e a meu ver –
só a meu ver - de essência maliciosa.
Estas
palavras são a minha prenda de Natal que faço questão de fazer chegar a V.
Exa., isto é, se no trajecto, por acidente propositado, ela não for parar ao alcofa
dos sabichos de papéis imprestáveis
ou remetida para o arquivo dos perdidos e achados, onde o endereçado nunca
aparece e a resposta não se sabe onde mora.
Contudo,
se ela chegar a bom porto gostaria de saber se gostou.
Não
vai ser por estas razões onde a realidade está implícita e a minha revolta
também, que não vou desejar um Feliz Natal a V. Exa.
FELIZ NATAL!
Atentamente
António
Figueiredo e Silva.
Obs: Esta carta foi enviada ao
Sr.
Primeiro-ministro, através do
Email: sec-geral@sg.pcm.gov.pt
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