quarta-feira, 27 de setembro de 2017

AGRICULTURA BIOLÓGICA

AGRICULTURA BIOLÓGICA


Tanto suei a cavar o terreno de composição geológica forte em húmus e logicamente produtivo, tanto me doeram as costas por ter andado curvado a arrancar as ervas daninhas, tanto avivei os meus calos com o cabo da enxada na esperança de que um dia iria colher daquele sítio uma bela produção de batatas isentas de pesticidas e outros poluentes da saúde humana!
A borboleta atacou, e foi um fiasco; a minha agricultura biológica pifou, a minha esperança desvaneceu-se.
No meu modesto pomar, que apesar da sua simplicidade, tem diversos frutos, desde peras de várias qualidades, maçãs suculentas, ameixas diferentes com características também diferenciadas, pêssegos carecas e outros lãzudos, algumas diversidades de laranjeiras, tangerineiras e outras árvores. Na primavera, quando tudo floresce, aos primeiros raios da aurora sob um leve cortinado de nevoeiro, até parece o lugar paradisíaco onde Deus criou Adão e Eva.
Já optei por métodos diferentes; envenenar e ter alguma coisa, ou não contaminar e ter praticamente nada. Mas, mesmo envenenando, este ano o resultado foi desastroso; a maior parte dos frutos apodreceram nas árvores ou nasceram raquíticos - “producção biológica” - e foram depositados junto aos troncos árvores para reciclagem biológica, servindo-lhes de alimento.
Se reparamos na minúscula fauna que faz parte da cadeia do equilíbrio natural, muita bicharada desapareceu, mudou de poiso ou rareou. As borboletas, viciadas sugadoras de doçura e laboriosas polinizadoras rarearam; as joaninhas, predadoras implacáveis e insaciáveis comedoras de pulgões, destes coleópteros poucos se vêm, quase desapareceram, deixando o caminho livre à proliferação dos pulgões que são as “vacas-leiteiras” das formigas, porque deles extraem, à laia de políticos, a glucose que faz parte do seu alimento.
Já não se ouve o catarrótico cantar da cigarra; até o cri-cri dos grilos, resultante do seu sistema de refrigeração nas noites cálidas de verão, tem diminuído; o grasnar das rãs nos charcos é um milagre ouvi-los etc.; até o coaxar dos sapos em época de acasalamento, quase que desapareceu.
Não aprofundando muito o tema, houve uma modificação no equilíbrio natural, pela qual o Homem é o principal responsável, que deu como consequência a infestação de pragas que ele tem de combater para poder viver; por isso, ou o homem ou envenena e tem comida, ou não envenena e morre à fome.
Quero com isto dizer que a agricultura biológica é um mito e ao mesmo tempo uma oportunidade comercial que floresce à custa dos lorpas.

António figueiredo e Silva
Coimbra, 27/09/2017
www.antoniofsilva.blogspot.com

     







Sem comentários:

Enviar um comentário