sábado, 1 de abril de 2017

AS ALCATEIAS

Um político divide os seres humanos em
 duas classes: instrumentos e inimigos.
(Friedrich Nietzche)

AS ALCATEIAS


Povo do meu país… ainda que me sinta entristecido em dizê-lo, sinto-me no dever de o fazer. Com a idade que tenho e a caminho do nunca mais voltar, faço-o porque o meu alforge está pejado. Está cheio de ouvir mentiras e de ver injustiças.
Estamos entregues aos lobos! Em comunhão de propósitos lupinos, rosnado ou uivando, eles caminham paulatinamente pelas ladeiras gélidas e complicadas da governação; olham-nos como presas fáceis e suculentas; cercam os horizontes da liberdade à nossa volta, com os dentes arreganhados e a saliva da avidez a escorrer-lhes da boca, prontas para nos derriçar a carne que ainda resta e roer-nos os ossos até ao tutano.
Os abastados estão cada vez mais opulentos e os necessitados cada vez mais carentes, face à imperfeita administração com que as alcateias, à sombra da impunidade nos têm presenteado.
Pautam-se por mudar diariamente a regulamentação – que o digam os juristas - que bastante nos consome, infernizando a nossa cubicagem emocional, por jamais sabermos o que se irá passar no dia seguinte.
Enrolaram-nos numa trama de tal maneira complexa que nos custou a nossa independência pessoal e territorial, porque, no seu todo, deixámos de nos autogerir e passámos a ser administrados, dependentes da vontade de outros e das esmolas que eles nos querem dar; que não são óbolos, mas créditos com usuras especulativas, onde a penhora são o físico e a mente, deste povo que, “ladrando” com sentimento de repulsa, no seu íntimo é pacato.
Malditas alcateias que nos infernizam a vida e não nos deixam dormir descansados.  
Face às promessas feitas em todas as campanhas eleitorais e por todos os elementos das alcateias que se propuseram a administrar-nos, a degradação social continua incólume, com o seu avanço devastador, irredutível e irrefreável.
As frases-chave de predilecção usadas em toda a propaganda das campanhas para chegar ao tacho são: “vamos dar o melhor de nós, erradicar a pobreza, diminuir os impostos, aumentar as pensões, melhorar o sistema de saúde, acabar com a precariedade no trabalho” etc. só lhes faltou dizer que andariam connosco ao colo.
As encenações usadas têm sido idênticas em todos os membros das alcateias: as mesmas doutrinas, os mesmos tons, e as mesmas lutas “amigáveis” entre os seus constituintes. No final de contas, a mesma ladainha politicamente universalizada e os mesmos propósitos, subsidiam todos os elementos concorrentes à destruição da estabilidade existente em Portugal, que nos transportou à indigência e ao afundamento, que estou crente não subsistirmos.
Responsáveis? Não existem.
E não existem porquê? Porque as leis são manipuláveis, as investigações são refreadas e a justiça parece ser imparcial - só para o cidadão comum. Os elementos grandes das alcateias continuam à solta, de boa compleição física e no seu manhoso silêncio à procura de mais carne, como se a sua avidez seja insaciável.
Até quando resistirá este estado de coisas?!

António Figueiredo e Silva
Coimbra, 01/04/2017


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