segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

A LIBERDADE (II)


Sonha e serás livre de espírito…
…luta e serás livre na vida.
(Che Guevara)


A LIBERDADE (II)


A sensação de liberdade é uma das realidades que, não sendo palpável, muito engrandece o nosso espírito, posto que, a sua fruição não seja mestiçada com devassidão ou desordem por aqueles que por erro mental, atentam que a liberdade só é domínio exclusivamente seu.
Ela existe sim, sempre que o empenhamento de cada um de nós se mantenha com abertura suficiente para caber o respeito pela independência espiritual dos outros. Por vezes custa um pouco quando verificamos que os outros estão a subestimar a nossa. São os “artistas” da nossa sociedade combalida, os cabouqueiros da nossa instabilidade. Eles vêm a liberdade pela parte que mais lhes convém, porque ela pode apresentar-se de duas maneiras abissalmente opostas, segundo a percepção e a formação cívica e intelectual de cada um: uma que não passa de uma velhacaria, um embuste, encenados por fingimentos calculistas, talhados à dimensão das conveniências onde jazem as ideologias ferrenhas e  ambições pessoais; outra, que consiste na independência da pessoa em si, e lhe outorga a possibilidade de gozar de autonomia e naturalidade no que concerne aos seus pensamentos, e expô-los, sem temor de consequências nocivas à sua linha cognitiva, ou mesmo, à sua integridade física. Apesar da noção de liberdade ser de concepção idealista, ela existe; acontece porém, que as suas limitações variam consoante a cultura intelectual e tradicional de cada povo não excluindo o bolor intragável da loucura sectária, que consegue contaminar as mentes mais fracas.
Acontece por vezes que os frutos decorrentes de determinadas maneiras de pensar, quando expostos, não são bem aceites por alguns elementos da comunidade que, com todo o direito que os comtempla, podem ou não aceitá-los; mas isso já é uma questão de opção e ao mesmo tempo, uma forma de liberdade também.
Não contemplo por isso razão alguma, a não ser a pateguice, para não se gostar, ou mesmo odiar, quem não comunga dos nossos ideais.
A liberdade, para além de nos permitir a aquisição de uma visão geral do mundo que nos rodeia, sob a forma de doutrinas, concepções e ideias, dá-nos também a possibilidade da exposição dos mesmos à luz brilhante do conhecimento, arrancando-nos desta forma, do mundo cinzento da ignorância e da solidão espiritual e colectiva.
É natural que esta independência, se não for autocontrolada, pode acarretar muitos dissabores; pode cindir a firmeza social e a estima entre pessoas, se ela entrar na crítica negativa ou for considerada como um instrumento de manipulação ou de subjugação, onde o convencimento patente tem como objectivo primeiro, a dominação da mente em favor de interesses ideológicos determinados.
A liberdade pode considerar-se como o sol que dá vida ao nosso pensamento, orienta as nossas emoções e alimenta a nossa estabilidade emocional e social.
Para isso, é fundamental que ela seja isenta de intolerâncias de quaisquer espécies, porque estas afugentam a realidade dos nossos sentidos; assim sendo, não nos permitem ter debates abertos onde possam existir trocas de conceitos, sem altercações, com vista à limagem do que poderá ser o ideal para o nosso bem, e consequentemente para o bem da comunidade em que estamos incluídos.
Muito gostava eu de ser livre!

António Figueiredo e Silva
Coimbra, 31/01/2017
    






   




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