domingo, 22 de janeiro de 2017

O MATERIALISMO E A MORTE







Não ambicioneis o demais e desejai o suficiente;
com o que sobra debelai a pobreza e
o Mundo ficará mais humanizado.
(A. Figueiredo)

O MATERIALISMO E A MORTE

Mesmo para aqueles que sabem que a morte marca o fim da existência de um determinado estado de matéria; mesmo para aqueles que acreditam no juízo final e na ressurreição dos mortos; até mesmo para aqueles que acreditam num paraíso no al di la; ninguém deseja a morte, a não ser por insuportável insanidade mental ou fanatismo religioso, que também não deixa de não ser uma forma de oligofrenia.
Para a queles que assentam e constroem o seu comportamento nos critérios que se podem considerar normais, ninguém quer bater a caçoleta por muito azeda que a vida se lhe apresente. Quando a aflição aperta, todos recorrem ao médico,  - que por vezes sai veterinário, mas paciência; quando a lógica desmembra e o tino bloqueia, recorrem às mais duvidosas “ciências” místicas; desde os bruxos às “taralhólogas”, - notáveis mineiros e aproveitadores da fraqueza humana -, às mezinhas escrituradas em velhos alfarrábios e passando até, pelas irrisórias máquinas da verdade – autênticos sismógrafos da mente humana onde a idiotice é bem escabulhada e aproveitada como grosso filão aurífero; deslocam-se aos lugares mais recônditos do mundo – assim tenham posses para isso. São capazes de atravessar tempestades, calcorrear por caminhos e carreiros de mau piso, ladeados de ervas e pedras que ciliciam as solas dos pés, tudo para chegar a um destino ilusório, mas no qual acreditam – sim porque ter fé é acreditar no incrível; tudo pela sobrevivência, na esperança de continuar uma vida, se a sorte o permitir, que de antemão reconhecem ser árdua, mas sentem-se grudados à vertente material onde todas as sensações lhe aguçam o prazer de sentir que, mesmo sofrendo ainda existem.
O que os levará a isso?!
A meu olhar, o ser é gerado, nasce e cresce dentro de um meio ao qual se habitua e considera fazer parte integrante dele próprio. É facto que a pessoa vive nele, porém, esse meio não a integra mas alimenta-lhe o prazer cósmico no interior do seu ser; aqui, começa por existir uma relação quase que umbilical, sendo esta efectiva e meio afectiva, que eu considero materialista. É precisamente esse sentimento materialista um dos principais geradores do sofrimento e da angústia perante a ameaça da morte, por nos trazer à luz “negra” da razão, a imperatividade do abandono do mesmo.
O materialismo, ao condicionar-nos a vida, ao mesmo tempo impele-nos a querer vivê-la. É uma realidade embutida num paradoxo.
É certo que este entrosamento entre a realidade e o paradoxo com os quais nos habituámos a viver, nos criam um sentimento de existência cuja realidade experimentámos e não queremos abandonar por não conhecermos em absoluto o outro lado do Universo.
Milhares de cérebros férteis em imaginação, se têm debruçado sobre estas questões, e têm dado origem a teorias que só a imaginação pode contemplar, mas que não levam a nenhures.
O ciclo cósmico da destruição, versus renovação, continuará incólume o seu caminho; a massa da matéria universal continuará invariável e não serão as transformações entre massa e energia que a vão fazer variar, mas promover a criação de tudo o que nele existe, incutindo no ser humano o prazer de viver, e portanto, a luta renhida por esse fim.
Para concluir que: sem o materialismo, a vida não existia, tal como a conhecemos; sem a renovação da vida através de uma transformação imposta pela natureza, a morte, o Universo seria uma utopia.

António Figueiredo e Silva
Coimbra, 22/01/2017
   



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