sábado, 23 de abril de 2016

O DINO

O DINO
(Histórias reais da minha terra)

Estava eu a tomar um frugal pequeno-almoço ao balcão de um café e como é meu costume, a matutar nas asneiras que fiz no dia anterior, enquanto a minha meditação não é cortada pela voz esganiçada de uma cliente que fala alto e bem p´ra burro, pensando certamente que os outros são moucos. Feitios!... À minha frente, depois do balcão, havia uma porta com uma parte de vidro semi-fosco, que dava acesso à divisão industrial de fabrico alimentar, neste caso padaria e pastelaria.
Quando ia a encetar a primeira dentada na sandes de fiambre, a porta abre-se, e qual não é o meu espanto aparece um rapaz novo, de aspecto limpo, touca na cabeça, com uma “farda” cuja alvura lhe cobria as pernas que dentro da normalidade deviam existir, aninhado numa cadeira de rodas mas com agilidade, pergunta qualquer coisa que agora não me lembro, à empregada que estava de serviço à cafetaria. Obtida a resposta rodopiou rapidamente, a porta cerrou-se mas a minha curiosidade não se acomodou.
Sem tom crítico, nem interesse coscuvilheiro, perguntei à empregada como é que aquele Sr. podia fazer o pão ou os pastéis, ao que ela respondeu que, “ele trabalha na linha de embalamento dos produtos e nós temos bancas adaptadas para as suas condições de mobilidade”; e olhe que é muito bom empregado. Aqui todos gostamos dele. O seu nome é Bernardino Marques Dias, mas nós chamamos-lhe Dino”.
No dia seguinte, ia eu a sair, vi-o quando ele vinha a entrar no veículo que o “locomove”; cumprimentei-o com afabilidade e disse-lhe que gostaria de ter uma conversa com ele; se não se incomodava que lhe tirasse uma fotografia - vai sem ela, porque não surgiu a oportinidade de lha tirar - e depois dir-lhe-ia quem era e qual o papel da minha interpelação, ao que ele simpática e descontraidamente respondeu com aberta anuência.
Não sabem quem é, pois não? No decorrer da estrutura vocabular que se segue, eu irei descrevê-lo em meia dúzia de palavras.
O Dino é uma daquelas pessoas, que tive o prazer de conhecer e muito admiro.
Antecipadamente, devo dizer que é um exemplo para muitos polidores-de-esquinas, raspadores de sebo, que, alapados em qualquer canto desentulham as garras, caçadores de moncos no nariz que fingem meditar mas não pensam em coisa alguma e também para outros que teimam em nada fazer e passam a vida a lamentarem-se da puta da vida, e ainda para outros a quem a cegueira governamental permite chuparem o rendimento mínimo garantido à nossa custa e de outros corajosos Dino/s, sem fazerem a ponta d’um corno.
Este Homem, o Dino, é uma lição que nos leva a crer que quando o intelecto e tenacidade superam a fraqueza física, a resignação desaparece e o seu lugar é ocupado pela indomável vontade de vencer. Temos assim uma criatura pronta para vencer na vida, que, com absoluto desprezo pelos defeitos congénitos, vai à liça e conquista mesmo.
Aqui estou por isso a revelar a vida de um herói, normal trabalhador da Padaria Nova Freixo, em Loureiro, cuja força interior a muitos pode servir de exemplo de que com perseverança, resistência e querer, se pode vencer na vida, sem andar p’raí a tocar concertina pelos sórdidos becos da urbe, ou de chapéu no chão e mão estendida à porta das igrejas, para muitas vezes gastarem o pecúlio em “capelas” enfeitadas com um pau de loureiro à porta.
Fraco não é aquele que não vence, mas aquele que não faz nada para vencer.
Entre muitos que conheço, o Dino disso é prova inquestionável.

A minha admiração por isso, DINO!

António Figueiredo e Silva
Coimbra
21/04/2016

Obs: Certamente que esta história não ficará
por aqui, porque ainda há muito que versar
sobre este assunto, que também é fruto da
intervenção de pessoas de bom íntimo.

ou,
www.antoniofigueiredo.pt.vu  

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