uns anitos, inda arrebunha!
MEGALOMANIA
Enterramo-nos
por sermos parvos e imbecis. Porque olhamos demasiado para o espelho sem sequer
termos o discernimento para nos lembrarmos de que a sua última prestação ainda
não foi paga, nem reparamos na triste figura que ele nos reflecte. Sei que
estas são palavras duras e cínicas, porém, devo acrescentar que se mais o não
são, é porque as não encontro mais aguçadas para o efeito, e não porque a
vontade de aguilhoar me haja abandonado. Sempre primei por ser irreverente –
não mal-educado - e, para descanso da minha consciência, incomodar a de muita
gente que anda com ela pesada e oprimida, por querer pensar ser aquilo que
sobejamente sabe que não é.
- Olha aquele
é limpa-chaminés! – Dizem em tom irónico e depreciativo. Mal sabe quem o diz,
que a mancha negra que lhe tapa a visão, é mais escura do aquela que cobre o
corpo daquele humilde trabalhador. Esquecem-se que a ignorância está latente em
todas as cabeças, desde o mais ilustre Pedreiro até ao mais pequeno Dr.. Como
condição natural, todos somos ignorantes em alguma coisa e mais cegos são aqueles
que o não reconhecem.
Quanto ao conceito
de trabalho e sua filosofia no nosso meio social, este tem que ser “limpo”, se
não, não é trabalho mas sim javardice; por outro lado, é da nossa miserável
compreensão que ele só deve ser executado por quem precisa, ou ignobilmente se
supõe que assim seja; o que por si nos coloca numa situação de normal igualdade
- anormal e nada inteligente
É muito vulgar
ouvir-se de bocarras mais linguareiras e menos esclarecidas ética e
culturalmente, em palavras de sarcástico tom, “bocê trabalha porquê? Já não precisa!?”,
dando-nos a nítida impressão de sabem de cor e salteado a nossa conta bancária
– e não só - e até a nossa maneira de gerirmos o tempo enquanto por cá andamos
a “empeçar”.
“Eu não faria
aquilo que ele faz. Que porcaria de serviço”! Também se ouve disto.
E para ajudar a manter a mentalidade dos
portugueses nesta linha de pensamento, dizem muitos dos nossos políticos, que,
como todos sabemos, não deixam de ser trabalhadores a sério, “necessitamos de
imigração”.
Eu pergunto.
Para o quê? Para fazerem os serviços que nós, por endémica mania, não queremos
fazer?
Não vejo que
no nosso país o trabalho tenha mérito algum. É preferível e mais cómodo, deixar
que ele azede e continuarmos com a mania das grandezas.
António
Figueiredo e Silva
Coimbra, 20/05/2005
www.antoniofigueiredo.pt.vu
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