“Porcos ressurgidos
bandidos banidos,
magoados, falidos por dinheiro,
libido
caçoam, surgindo, dos fossos,
pervertidos
macabros, banidos, mau sonho
revivido
pedante, frustrante, justiça
mendicante
de pratas, pedintes, asquerosos
purgantes
suplante sufrágio, prepotentes
mandantes
agouro sonante, dos sonhos
meliantes”
(Filipe Belotto)
...assustador o registo da Direção-Geral da Saúde (DGS) de ocorrência de 700 mortos nos primeiros20 dias de Janeiro nas urgências dos hospitais públicos.
(Lusa)
LAMENTÁVEL
Seja qual for o patamar que ocupa na comunidade e
mesmo que essa situação seja causa de inúmeros privilégios na vida, há um facto
que é imutável: o carimbo genético. Deste, o indivíduo não pode dispor segundo
a sua vontade; apenas tem que resignar-se a ser aquilo que é. É daquele nano-universo
que germina o bem e o mal, em quantidades equilibradas ou desiguais,
outorgantes da faceta de cada pessoa. É esta chancela que autentica a
personalidade onde residem os benignos e as malévolos atributos que, por muitas
voltas que a criatura tente dar para se desamarrar daquilo que ela não gosta de
ser na realidade, nunca o conseguirá, mesmo fingindo. Isto porque, deparam-se
sempre uma ou várias circunstâncias em que o ser, abre o sarcófago do íntimo e
mostra as vísceras genéticas do espírito, como aconteceu com o Ministro da
Saúde, Paulo Macêdo.
Setecentos
mortos em 20 dias, nas urgências dos
hospitais públicos, “não tem nada de assustador”.
Sim, o Sr. Ministro tem razão! Nada tem de assustador.
Assustador porquê? O que tem - de inconveniente - é ser lamentável.
Lamentável, porque o Sr. Ministro da Saúde
jamais deveria ter articulado estas palavras, cujo conteúdo é susceptível de
ser interpretado como um frio e desprezível desinteresse – se calhar verdadeiro
– pela colmatagem do deficiente atendimento às mazelas das pessoas que dependem
do apoio do Ministério que dirige, e consequentemente, da sua protecção.
Lamentável, porque seres humanos deixaram de
ver para sempre, a parte bela, ainda que materialista, que a Natureza lhes podia
oferecer aos sentidos, talvez por não terem sido socorridos em devido tempo e
nas mais convenientes condições.
Lamentável, porque é sabido que estas nefastas
ocorrências se reflectem mais em pessoas de avançada idade, que ainda se
encontram, bem ou mal, no gozo de uma situação para a qual trabalharam durante
a sua vida.
Lamentável, porque o governo, através do
ministério da saúde, tem procurado conter os “esbanjamentos” com a mesma
(saúde), colocando em causa a saúde da toda a população nacional, cuja
incidência afecta mais os reformados, inválidos e outros doentes sofredores,
com o finamento no horizonte sombrio da eternidade.
Lamentável, por sentir que é necessário deixar
que corações deixem de bater e palatos arrefeçam, para o equilíbrio das contas
públicas que, mercê da sua contabilidade e fiscalização patologicamente
infectadas pela incúria, permitiram toda uma série de situações, desde o
esbanjamento e ao que parece, roubo.
E continuará a ser lamentável, enquanto alguns dos governantes ou familiares não
sentirem a necessidade imperativa de recorrer aos serviços de urgência e
tiverem que sujeitar ao atendimento comum, bem instalados numa maca durante uma
séria de horas e acabarem por sair de lá frios, esticados e com a rolha enfiada
no esfíncter anal.
Se alguma vez isto acontecer, que é improvável,
certamente que muita coisa deixa de ser
lamentável.
Lamentável é também eu lamentar ter que dizer,
que é LAMENTÁVEL…Mas não consigo ficar silente a remoer reflexões de indignação
para alimentar uma quietude dissimulada.
Se o fizesse, seria também… LAMENTÁVEL!
António Figueiredo e Silva
Coimbra, 26/012015
Ou:
www.antoniofsilva.blogspot.pt
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