terça-feira, 1 de julho de 2014

A MINHA TERRA



 A MINHA TERRA


Localiza-se na orla de numa zona geográfica ribeirinha, daí a sua planura.
Esta terra ainda hoje mantém vestígios da cultura mourisca, apesar da abrasividade do tempo lhe haver lambido parte do passado. Pode ver-se, pelas suas casas antigas, que apesar de já não serem muitas, ainda são algumas, comumente têm um recinto (pátio ou quinteiro) aconchegado e resguardado da curiosidade de quem passa; a esta chancela se devendo alguma da cultura sarracena.
  
Era eu uma criança e a minha memória não estava carcomida pela idade, quando gravei momentos, alguns dos quais ainda hoje me recordo; aquelas velhinhas veladas, de lenço preto pela cabeça e velando a face, seguro sobre a ponta do nariz e encimado por um chapéu de veludo negro azeviche com umas penas pretas e umas bolinhas de vidro da mesma cor a adornar o centro circular do seu feitio.

Ainda usavam uma cinta de avantajado comprimento, com a qual atavam a saia, construindo, abaixo da barriga, uma espécie de regueifa - era a moda de então; também não me esqueceu do hábito ou vício, que algumas delas tinham de inalar rapé, justificando todo o ritual e o acto em si, com o facto do gozo que sentiam em espirrar – até hoje ainda não percebi bem porquê. Na altura contavam-me que a moda tinha vindo do Brasil, o que ainda agora acredito, uma vez que, da minha terra houve bastante emigração para as terras de Vera Cruz, onde alguns singraram e outros por lá ficaram amortalhados na enxerga da miséria, capitulando ao apodrecimento corpóreo e ao esquecimento eterno. 

O que outrora foi uma região agrícola de sobrevivência, causa principal da emigração, pode actualmente considerar-se um espaço subsistência – a actual crise, mais não consente; predomina presentemente a agro-pecuária e alguma indústria, que possibilita uma quase cabal ocupação para todos os que desejam trabalhar; para não fugir à regra, também lá existem “meia dúzia” polidores-de-esquinas, alguns deles subsidiados pelo estado, uma maneira airosa e “inteligente” de incentivar à produtividade zero, paga pelo contribuinte.

A banda filarmónica fundada há cento e quinze anos, que ainda hoje se mantém firme, sustentada pela carolice e orgulho das pessoas que dela fazem parte, é por assim dizer, um ex libris concernente ao historial da minha terra. Para falar sobre ela (banda), aqui já a música é outra, porque não percebo nada de harmonia, limitando-me apenas a comentar que, por tudo o que me tem chegado aos ouvidos, é uma banda bastante conceituada e já com sólida reputação.

A terra onde nasci tem condições para uma óptima vivência, porém, neste aspecto há qualquer coisa que não tem operado devidamente, mas espero que “um dia” os escolhidos se ajustem às realidades prementes solicitadas pela população mais desfavorecida. A meu ver, e não só, a autarquia vigente não tem aplicado a imparcialidade justa e devida a todo este cantinho com a área aproximada de 17km2.

Torna-se incomodativo, contudo necessário, dizê-lo:
“A humildade fingida venceu a arrogância sincera”.

A minha terra é Loureiro, uma freguesia pertencente ao conselho de Oliveira de Azeméis, distrito de Aveiro.

Muito mais haveria para contar mas… Ficará para uma próxima.


António Figueiredo e Silva
30/06/2014
www.antoniofigueiredo.pt.vu

  

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