terça-feira, 16 de junho de 2009

AS PIRANHAS

AS PIRANHAS


Se observarmos com atenção, alguns políticos, provavelmente a maioria, são muito parecidos com as piranhas; quando lhes aparece o isco, num frenético e incontrolável redemoinho de águas turvas, atiram-se a ele com unhas e dentes a ver quem come o maior quinhão.
Desta vez o isco foi as eleições para Deputados à União Europeia, que realmente se me afigurou ser um isco de boa qualidade, pelo que, mesmo em turbulência, valeu a pena lutar.
Atropelaram-se uns aos outros e presentearam-se mutuamente com palavras ou metáforas depreciativas. Poluíram as ruas com a sua enxameada presença, uns mais do que outros, ora atropelando ora interpelando quem passava abstraído da confusão ou quem trabalhava para ganhar o seu pão, não sem ter que descontar algum que virá a ser distribuído por aqueles zumbidores.
De facto até verbalizaram algo que se podia aproveitar, evidentemente, com alguma cautela. Uns apenas arranhavam meia dúzia de vocábulos sem nexo, muitos deles já desgastados pelo seu uso, que de tamanha persistência se tornavam fastidiosos.
Deram sacos, camisolas, esferográficas, cuspiram gafanhotos com fios de baba à mistura, mas nenhum se lembrou ainda de distribuir preservativos, para os portugueses poderem fazer a cópula sem ficarem copulados, como tem vindo a suceder. E porque não fazê-lo, se toda aquela festança foi de cariz carnavalesco, com foguetes à mistura e tudo?
Num arraial destes alguns tiveram o condão de se sobressaírem mais do que outros; ou pela sua lábia na retórica, ou pelo seu pragmatismo contundente mas fingido, ou ainda da pior maneira que à laia de um papagaio de papel preso por uma guita se deixa levar ao sabor do vento, sem vontade própria. Tudo isto foram episódios que puderam presenciar todos os que a esse trabalho se deram.
O delicadinho do cidadão Vital Moreira parecia mais uma marioneta do que um concorrente a Deputado à União Europeia.
Lá ia, tadinho, nervoso e obsequioso, em segundo plano, levado pela mão do seu tutor, exibindo sempre um fingido sorriso, como um verdadeiro yes man*.
Em minha opinião, Vital Moreira foi o capacho onde José Sócrates firmou os pés para fazer campanha a si próprio e a ele arrastando-o na sua auto-propaganda e oferecendo-lhe um rebuçado do Dr. Bayard, ao apresentá-lo como:
Este é o meu delfim!... Mas a figura de proeminência sou eu!? Afiguração que não resultou.
Claro que os portugueses são bastante passivos, mas também se embucham da prosa repetitiva e da falácia rotineira, cujos resultados ficaram claramente evidenciados. Apesar disso estou convicto de que a lição não acabou por ali!?
Contudo, se esse sinal (resultados da votação) não passou de uma fútil ameaça, os portugueses granjearam o “mérito” de virem a ficar numa posição muito mais abaixo daquela em que actualmente se encontram.
Assim, se tal vier a acontecer, para meu mal e de muitos, o engodo mais uma vez resultou, prova manifesta de que os portugueses sofrem indubitavelmente de uma maleita chamada masoquismo, que se resume no prazer resultante do sofrimento, um dos sintomas indicativos de oligofrenia.


António Figueiredo e Silva
Coimbra

Blog: www.antoniofigueiredo.pt.vu

*Pessoa que a tudo diz amen,
em todas as circunstâncias.

Sem comentários:

Enviar um comentário