domingo, 8 de fevereiro de 2009

RUMINAÇÃO

Pensava eu ser uma acção natural que concernia apenas aos animais de pança. Actualmente uma americanice que se estendeu a um grande número de animais “pensantes”, isto é, se o “bicho” em causa não usa dentadura postiça ou só tem dois ou três irrisórios dentes a abanar numa reles e descalcificada estrutura mandibular. Isto porque no primeiro caso a pasta cola-se entre os postiços artefactos e arranca-lhe a cremalheira; no segundo já não possui trinca palha para remoer o que lhe pode acarretar sérios problemas gengivais.
Deslocamo-nos a uma repartição pública, a um escritório ou gabinete qualquer há sempre um alguém que nos atende a ruminar “ilusões”, e não raramente o gesto lhe imprime uma cara de imbecil. Somos perseguidos na rua, nos autocarros, nos comboios, nos aviões, nos barcos, nas filas e até nos mortórios, por esse nham, nham, sórdido e melancólico, a roubar a César o que é de César, com grande revolta e indignação para os animais de pança, trejeito somente sua pertença ingénita.
Alguns, animados de indecorosa veia artística, até conseguem fazer um repugnante balãozinho e rebentá-lo com um pum!.., como se fosse um peido com casca que confundiu a saída e ficam todos contentes ao mostrarem um pluvioso sorriso embutido numa deslavada cara de cú. É engraçado não é?...
A chicola, chuinga, chicla, chicléte, na ilha Terceira (Açores) gamas ou para os mais eruditos shwingum, (tudo menos goma de mascar) tem servido para fortalecer os músculos maxilofaciais; com a desculpa de uns, de que ajuda a lavar (chafurdar) os dentes, enquanto é ruminada; escusa de outros, porque é um coadjuvante para a minorar o nervosismo enquanto ruminam; por outros tantos, e, os mais pessimistas, aludem a uma questão de precaução, pois será mais que evidente que o mundo vai acabar à dentada, e ganha quem mais força tiver, pelo menos nos caninos, que são os dentes que mais se adaptam à crise dos nossos dias, porque a carne já outros andam a comê-la há muito tempo.
A “proeza” de ruminar sem ter direito a isso, não tem nada a ver com a índole de quem o faz. O indivíduo pode ser bom ou mau, de alta ou baixa classe, futrica ou doutor, camelo ou inteligente, que os camelos me desculpem, mas inteligente não é com certeza; se o fosse não ruminaria. E não o faria porquê?... Porque, sem ser necessário meditar muito, chegaria à conclusão de que o ruminar chiclas ou lá o que lhe queira chamar, activa-lhe uma digestão simulada, que congrega todos os componentes do ácido gástrico ou estomacal, podendo deste modo contemplá-lo com umas ulcerazinhas que até podem degenerar e virem a dar maus resultados.
Por outro lado, se esta moda se normaliza completamente até se tornar impositiva por lei, - já vi coisas mais aberrantes - adeus ò médicos!... Vamos é carecer de muitos veterinários, apesar de já não haverem poucos!?... Ainda que uma catrefada deles com os diplomas trocados.
Abaixo a chícola!...


António Figueiredo e Silva
Coimbra

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