CORNO MANSO
Estou firmemente convencido de que só se
perde a liberdade por culpa da própria
fraqueza.
(Mahatma Gandhi)
CORNO
MANSO
O corneado é sempre o último a saber.
Mas entendo que só o será de facto, se após ter conhecimento da “matéria”,
aceita com complacência o capacete de protecção com que foi ilustremente
coroado, sem esboçar qualquer reacção de repulsa ou agressividade, puxando a
carroça da vida com extrema pacatez e resignação.
Logo pela
manhã, depois de se levantar com alguma dificuldade devido ao aumento da queratina
cabeçal, mira-se ao espelho e vê nele reflectida uma cara murcha com expressão
condescendente, mas repleta de fingida felicidade. É este o verdadeiro corno. O
corno-manso. O corno paciente e contente consigo próprio que aceita tudo o que
lhe carregam e devora as sobras, se as houver.
Comparo o povo
português ao o corno-manso. Depois de tantas vezes copulado, sodomizado,
enganado e roubado, tem permitido que toda a espécie a sacanice continue, no o
seu andamento uniforme, com total desprezo pelas massas. Não reage. Se reage, é
com uma reacção de “cão que ladra não morde”. Aceita todas as agruras que lhe
são impostas com uma passividade fora do normal. Ainda que sobrecarregado por
sacrifícios que lhe tiram o sono, afectam a saúde, a vida familiar e lhe castram
deste modo vivência, ainda arranja alento para mostrar alegria; um júbilo
murcho, estúpido e descabido, que com toda a imponência de pobreza de espírito
e néscio aparato, se resume ao som de cuicas
e pandeiros. Saltam, riem (ou fingem),
mesmo debaixo do toldo negro da crise que ele sabe, o arrasta para o abismo. É
esta a postura do verdadeiro corno. O corno-manso! O cornipelas.
Não penso que
seja um problema de masoquismo; encaro antes, como um conflito sério no grémio
da mentalidade que por razões desconhecidas nos faz conter a vontade de
sublevação e amochar com incondicional submissão, colaborando na construção de
uma maltrapilha alcatifa humana, por onde passam de peito inchado e com
insolente desprezo, umas centenas de milhar de ladrões, aldrabões, corruptos,
inábeis, trapaceiros e outras pestes semelhantes, que nós, vergando a coluna
vertebral da vontade própria, docilmente permitimos… com esquálido sorriso e
extrema resignação.
Somos ou não somos como o corno-manso?...
António Figueiredo
e Silva
Coimbra, 09/03/2013
www.antoniofigueiredo.pt.vu
Bom dia Sr. Figueiredo,
ResponderEliminarA traves da colega Luciana, cheguei ao seu blogue...Devo dizer que fiquei encantada e quero dar-lhe os meus parabéns e o meu obrigada...é tão bem ler um texto bem escrito, com palavras que já ninguém usa (e nem sequer conhece...) com uma riqueza de expressividade... só me resta dizer que passo a segui-lo e ler estas cronicas, já agora com um diccionario ao lado, para poder enriquecer cada vez mais o meu português...embora a minha língua materna seja o castelhano...
Novamente, parabens ! Vou recomendar!
Muito grato pelas suas palavras. Já agora aproveito para dizer-lhe que também conheço o castelhano. Acho muito bonito. E mais, consigo traduzir o leonês (antigo idioma do Reino de Leão.
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