25 DE ABRIL?!
"Teimosia é firmeza de carácter
adulterada pela estupidez."
(Friedrich Nietzsche)
(Friedrich Nietzsche)
25 DE ABRIL?!
Com todo o
ressentimento que aguilhoa a minha sensibilidade consensual vezes sem fim, em
inúmeras ocasiões dou comigo a meditar sobre o que leva o ser humano a promover
a auto-flagelação anímica, da qual sobrevêm profundas e gravíssimas sequelas materiais.
Só pode ser por pura alienação mental.
Hoje dou com o
meu pensamento fora do cabresto a “rebulir” sobre sombras do passado que o
tempo em vão tentou amarfanhar e a analisar realidades presentes, grossos fios
de água brutados (é mesmo brutados
que quero dizer) das fontes de
incúria e falta de juízo, como se os calos nunca houvessem doído. Perante isto,
forçado a recordar e a ver quão falha e ridícula é a mente humana, não consigo
ficar silente com o mundo em geral, nem comigo próprio, porque existe dentro de
mim uma ebulição revoltosa, que, como um cancro, está firmemente presa pelas
amarras de amargas recordações do pretérito, – eu não esqueci – pelas correntes
da trama destruidoras do presente e pelas barras fortes da ( in)certeza no
futuro, que apesar da virtualidade que encerra, terá mais de real do que de
incerto. O caos!
Certamente que
os pretensiosos neo-filósofos que ora clamam por um novo 25 de Abril, nunca
devem ter vivido na pele o verdadeiro ponto escaldante dessa sublevação e penso
também que ainda não terão sentido, por pastosa incapacidade analítica, o
aperto decorrente dessa “façanha” histórica, que a uma consistente maioria implacavelmente
aflige.
Esse
acontecimento foi e continua a ser considerado o dia da liberdade! É verdade, mas para quem? Espero que por falta de
sensatez e outras falhas sensoriais quaisquer, não hajam alguns macambúzios que
queiram condicionar essa liberdade ao eu estar para aqui a escrever esta meia
dúzia de baboseiras.
Estes
lunáticos videntes e atiçadores, que a esmo difundem essa ideia de liberdade,
algum dia ficaram sem emprego ou viram a sua família em campo de refugiados,
com a sobrevivência amparada pela caridade alheia?
Algum dia
estes kamikazes da politiquice, em
nome desse efémero acontecimento foram obrigados a abandonar ou viram os seus
bens ser-lhes arrancados pela força, ficando eles reduzidos a uma encolhida
miséria? Não, certamente que não viram, nem pareceram sobre o clima tórrido das
consequências resultantes daquele dia. Se tivessem enxergado e torrado bem, não
iriam reclamar novamente o ponto de partida para o afundamento de todos nós.
Eu, como
tantos outros, vivi no antes e no depois, sendo-me possível por isso justapor
ambos os ângulos e fundamentar as minhas ilações.
O 25 de Abril
permitiu abrir uma frincha no seu odre, donde saiu todo o bambúrrio de
bicharada poluente, que ainda hoje continua a infectar a nossa harmonia e
bem-estar; despontou a ambição sem limites onde não há meta de papo cheio;
emergiu do seu ventre a corrupção venenosa e o abuso de poder, a atmosfera
criadora de um maior sulco entre a pobreza e a riqueza; cavalgando em burro
coxo, saiu a libertinagem mascarada de liberdade, moléstia que a todos tem
abrangido sem olhar a princípios; a honra, essa ficou completamente decepada e
já poucos “anormais” existem que não sintam vergonha em tê-la; a legislação é
elaborada por alguém que talvez até saiba da poda, contudo a espada que a aplica
ficou romba e não consegue cortar a direito por deficiência nas mãos que a
manobram tolhidas por interesses exógenos e alheios ao nosso conhecimento; os
miseráveis aumentaram consideravelmente e muitos, ainda que revestidos por
razoável farpela, desfrutam duas orelhas que constituem apenas os marcos
limitadores dum espaço vazio; a delinquência tem vindo a sobrepor-se à
tranquilidade; torna-se cada vez mais difícil dar alimento à saúde, pois já não
está ao alcance de todas as algibeiras; a vontade de vencer está a dar lugar à
apatia e ao desinteresse porque não há futuro risonho à vista, etc.
Entre prejuízos
e benefícios, mesmo remando contra a loucura de algumas correntes, seria
preferível um 24 de Abril.
António
Figueiredo e Silva
Coimbra,
14/03/2013
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