VENENO "SILENCIOSO"
Suporto mais, que me espicaces com a
pureza de uma verdade,
do que tentes iludir-me com a
intransparência de uma mentira.
(A. Figueiredo)
VENENO
“SILENCIOSO”
Não
será bem “silente”, porém esparrinhado em impercetível surdina, por aqueles
para quem o trabalho não azeda e consagram o seu tempo de lazer para fazerem uns
ajustes intencionalmente mal calculados, na fatiota do seu semelhante, quando
este não está presente, cerceando deste modo a sua contestação, se fosse caso
disso.
É
nas esquinas, nos caminhos, encostados às ombreiras das portas, debruçadas
sobre o muro, nos tanques de lavagem, nas mercearias de bairro, nas tascas da
santa terrinha e fora dela, ou nos considerados “elegantes” cafés, nos adros
das igrejas, nos mortórios, e até no espaço dos campos-santos, onde os falecidos,
por deficiência auditiva definitiva e eterna, são completamente moucos.
É
neste pegajoso venêno lingual com o sabor a maldade, contudo, sem fundamentos
de verdade, que germina e cresce o boato. Estou convicto de que todo o povo
sabe o que é um boato. Mas, por via das dúvidas, faço questão de esclarecer: é
um zumzum informativo incógnito, que, muito embora sejam desconhecidos os seus
progenitores, é propagado por pessoas que também desconhecem os seus
ascendentes, com o firme intuito de prejudicar o seu semelhante. É, é verdade.
A
natureza do boato reside no desvio inicial de uma verdade suportada por uma realidade
aparente, que se fundamenta numa mentira deliberadamente pensada por criaturas
de má-índole.
Esta
peçonha que tem a faculdade de fazer “badalar” muitas línguas “bífidas”, passa
de boca em boca, espalha-se com velocidade alucinante a coberto de esfarrapadas
desculpas, tais como, “diz que disse, ouvi dizer ou dizem p’raí”, e, num ápice
atinge a idade adulta. O seu acelerado crescimento deve-se à mama que o
alimenta, chamada fantasia plebeia, cujo úbere é descomunal magnitude. Esta
maléfica peçonha, que reflecte os pensamentos tendenciosos de alguns seres
humanos, com recurso a uma particularidade que é o orgasmo da língua. Esta só pára
e relaxa, após haver difundido a polémica novidade há algum tempo em
maquinação.
O
boato, é a ferramenta preferida dos pobres de espírito, dos fracassados e dos
insatisfeitos, que a usam, como uma moeda atirada ao ar, para deturpar a
realidade, porque aqui só há duas condicionantes; ser verdade ou ser mentira.
Este
venêno “mudo”, para aqueles não se encontrem imunizados, pode causar-lhes graves
danos psicológicos e até físicos. Porque ele é aproveitado para a deformação da
verdade, entronizando em seu lugar a autenticidade da impostura.
O
vírus da alcovitice corre tão depressa, que quando a verdade consegue fazer a
sua triunfal emersão (quando consegue) e se apresenta como facto indesmentível,
já ele deixou para atrás de si um descomunal e tentacular rasto de destruição diversificada.
Desconhece-se,
no entanto, o antídoto contra essa peste lingual, que tem vindo apavorar meio mundo.
CUIDADO.
António
Figueiredo e Silva
Coimbra,
04/10/2020
http://antoniofsilva.blogspot.com/
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