O PRECONCEITO
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preconceito é uma opinião que
deixou
de ser submetida à razão.
(Voltaire)
O
PRECONCEITO
Conceitos
mal arquitectados na vacuidade “opinativa” rebelde, geram preconceitos.
Toda a atitude decorrente da presunção
vazia de conteúdo é nociva à sociedade, não obstando que, apesar disso, esta
seja uma desvirtude que mina todo o ser Humano. Sem excepções – repito: sem
exclusões.
Aquele que disser que não tem
preconceitos, mente. Pode ter autodomínio (manha) suficiente para não o
evidenciar, todavia, quando as condições se propiciam à sua soltura, não se
fazem rogar. Isto é uma afirmação e não um pensamento linear.
Sei que o indivíduo, ao sujeitar-se religiosamente
a juízos de valor divagados e expô-los abertamente sem qualquer sensatez, são a
resultante de uma agnosia marcada, conquanto que também saiba que essa mesma
ignorância foi criada no princípio da existência Humana.
A meu ver, esta enfermidade não se
manifesta somente em não aceitar as ideias dos outros ou os seus sentimentos,
mas sim em promover uma auto-demarcação, ainda que estúpida, de uma posição que
o imbecil considera de cocuruto, onde ele se sente como primeira pessoa, digna
e convencida de que toda a respeitabilidade e mesuras se vão vergar à sua
parvoíce. Esta é a genuína falácia de uma realidade. Falácia, porque isso não
sucede; realidade porque a pobreza de espírito faz assim faz pensar.
E não é
imperativo o recurso à agressividade raivosa, como muitas pessoas pensam e
argumentam, para se demonstrar a existência de tendências pré-concebidas no
vazio do entendimento. As posturas e a linguagem corporal são o suficiente de
falar mais alto do que o mais “belo” e extenso sermão. Um gesto, um olhar de
cima da burra ou de esguelha, um empinar de nariz, um assobiar para o lado,
etc. são sinais que pertencem ao cartilha do preconceito. As chefias, os
mandões, os parvos, os prepotentes, e até mesmo aqueles que o não são, mas que
do mesmo monte (humano) fazem parte - se não mais, entre si – não são
imparciais. O preconceito ataca e corrói o ser Humano como a ferrugem agride e
lentamente mastiga o ferro até o consumir.
Não sinto que o preconceito seja uma
germinação consequente das mentes mais intolerantes, mas reconheço, contudo,
que esta singularidade não devia fazer parte da construção do ser Humano. Mas
faz, e ponto final.
As ideias pré-concebidas no espaço, com
tijolos de aparente raciocínio, enganam quem as gera e escravizam aqueles que a
elas se submetem ou dão crédito, por serem obrigadas a isso, por força das
circunstâncias – a coacção anda sempre de mãos dadas com a imposição; são duas
armas forjadas na pira do conceito desarmado.
É do juízo pré-concebido (mal procriado)
que vêm todas, mas todas as manias separatistas, ou melhor, discriminatórias,
que impunemente vagueiam na comunidade global, empeçonhando-a de tudo o que de
pior existe. Ele impede que um ser seja julgado em função da sua capacidade
intelectiva, porque no pré-julgamento, a firmeza não reside na crítica, uma vez
que esta tem que ter por base o conhecimento, mas o errado juízo de valor nada
mais faz do que escarafunchar víctimas, ao agigantar-lhes as “incorrecções”,
físicas ou morais, as tendências ou pulsões, as crenças, a sua genética etc.,
castrando-lhes em grande parte a sua ascensão ao universo da igualdade a que as
mesmas indubitavelmente deviam e devem ter direito.
Se a existência Diabólica é tida como um
facto - místico mas é - como o é o da existência Divina, é o mesmo que dizer
que o Bem e o Mal sempre coexistiram desde a “origem”; logo, uma das forças deixou-se
dominar pela outra e o produto de “olaria” – entenda-se Criação - saiu com um
defeito que somente pode ter sido soprado pela força Diabólica; o preconceito.
Posso afirmar, sem quaisquer obscuridades
duvidosas, que o preconceito é o factor principal da instabilidade mundial; é a
força motriz da ambição; é o gerador de quezílias e conflitos que mais tarde ou
mais cedo, acabarão por dizimar a vida neste pontinho minúsculo do universo,
onde todos poderíamos viver na paz dos deuses; naquele fantasiado e seráfico
empíreo, onde, por caminhos diferentes, todas as crenças vão dessedentar-se.
Assim o entendo, assim o digo.
António Figueiredo e Silva
Coimbra, 06/02/2018
Obs: Ainda não sou a favor
do novo acordo ortográfico.
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