O PRECONCEITO (II)
Ainda há dias o meu filho
me acusou de preconceito, e com razão. Deu a notícia de que 2 enfermeiros e um
polícia tinham sido agredidos no H S João por 4 acompanhantes de 1 doente. E
saiu-me: são ciganos de certeza. E levei um sermão. A verdade é que veio a
saber-se que eram. A minha associação foi por experiência (infelizmente muita)
das urgências dos hospitais. Ele vai
gostar deste texto, tenho a certeza. Só não sei se ele será capaz de admitir
que também o faz.
(De
um comentário; ipsis verbis)
O
PRECONCEITO (II)
Como
se pode observar, um preconceito, quando exteriorizado, fez germinar outro que
se encontrava oculto em sepulcral latência no inconsciente, e por razões
endógenas – neste caso: «são ciganos de
certeza» - assomou à flor da palavra, montado no burrico da apreciação dum preconceito.
É hipotético que a observação em causa,
nem houvesse sido pronunciada com sentimento desapreço rácico ou desprestigiante,
mas, quiçá por haver tidos como factos inegáveis algumas repetições de “barbaridades”
análogas, praticadas por indivíduos dessa comunidade, que, posso afirmar,
também possui pessoas honestas, respeitadoras e amigas do seu amigo.
Esta “resenha”, se assim se pode chamar,
faz-nos chegar à conclusão de que o mundo Humano rodopia em torno do preconceito.
É certo que as ideias com fundamentos na incerteza, não flutuam à superfície,
mas estão bem grudadas na essência do próprio ser, organizadas nos recantos da
genética, onde a ciência do Homem ainda não é capaz de chegar. É um dado cuja
existência é reconhecidamente aceite, porém que muitos seres, de “puritana
condescendência”, se “recusam” em concordar.
Se fazemos uma advertência a alguém por
via de um preconceito, é porque possuímos outro para contrapor o primeiro. Isto
é, perante a minha maneiro de pensar – que até pode estar errada - o criticado
é que está imbuído no erro e não nós. É nesta duplicidade que consiste a
realidade do preconceito que, por muito que o deseje, jamais o ser Humano se
conseguirá libertar, e continuará eternamente, sob sujeição da inconsciência, “o
rôto a julgar o esfarrapado”; não porque não lhe assista a razão no instante,
mas porque não pausou para olhar o seu interior; quando não, não ajuizaria.
O preconceito é um sentimento nocivo, por
alguns disfarçado sob a penumbra do manto negro do fingimento. Hei o
preconceito como a alma negra do conceito, porque permite presumir ideias sem averiguar
factos, e arguir sem fundamentos.
É essa alma negra que sustenta a afirmação
de ouvirmos os “puritanos” declararem somos todos iguais. E somos. Porém, só nos componentes
estructurais e na parte anímica - que não está eximida do preconceito; de resto
não somos todos iguais nas restantes características que nos complementam e fazem
de cada um de nós um ser diferente. Como tal, porque não dizê-lo abertamente?
O existirmos, não é só pelo facto de
possuirmos a capacidade de raciocinar, pois tem de haver uma outra ponte de
relação que comprove essa existência. Se fossemos todos iguais com certeza que
nem dávamos conta da nossa própria entidade, porque careceríamos de medidas de
aferição que na realidade não existiriam.
Concluindo: ainda hoje, depois do avanço –
relativo - da ciência, não é só pelo pensar que podemos afirmar a nossa
entidade, pois tem de haver outros pontos de analogia que o comprovem; a confirmar
esta minha linha de pensamento, que até pode cair no erro, o ser humano ainda
não sabe quem é, de onde veio e qual o seu papel no universo cosmológico em que
está inserido.
Uma coisa é certa: existimos casados com
preconceito que, apesar de ser uma característica Humana, não é nada celestial.
Entenda quem souber, e proteste quem
quiser.
António Figueiredo e Silva
Coimbra, 08/03/2018
Obs: Ainda não sou a favor
do
novo acordo ortográfico.
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