A CONTROVÉRSIA


“Jamais devemos considerar-nos como o umbigo do Mundo.
Além de ser um paralogismo, é também, pura ficção.
(António Figueiredo e Silva)

A CONTROVÉRSIA
Die Kontroverse
ПРОТИВОРЕЧИЕ
THE CONTROVERSY
די קאָנטראָווערסיאַל

É um dos factores, senão o de maior peso, para a promoção de muitas aversões, porque existem criaturas que não conseguem admitir qualquer opinião que esteja no sentido inverso de uma razão, que com encegueirada consideração, secamente acalentam dentro de si. O convencimento imperativista que lhes norteia o pensamento, deixa-as sob condição amargurada, quando se sentem confrontadas com opiniões, que à priori julgam ser para lhes surripiar a razão – e às vezes não é verdade.
 Não ponho em causa a existência da RAZÃO, como sendo um complemento da verdade. Ela existe, mas, se não for sobre controlo, é suceptível de afectar a intelecção emocional e causar sérias mazelas no encéfalo do mais iluminado pensador.
A CONTROVÉRSIA existe precisamente para a busca da RAZÃO. No entanto, muitos têm relutância em aceitar a polémica quando a verdade da sua razão é posta em causa e apresentam uma felina repulsa quando são contestadas, em vez de continuarem o debate na defesa dos seus pontos de vista, que, apesar de aguerridamente fundamentados, não devem ser generalizados. Assim não sendo, - isto é mais do que sabido - que paga o justo pelo pecador, com o risco de mácula para a razão, mesmo perante a sua existência, por transformá-la em relativa e não absoluta.
Neste trajecto comunicativo, quando a oponência transpõe os limites da interlocução dialogante, deixa de estar encaixada nos princípios do decoro e do entendimento, onde tolerância, que num diálogo deve ser tida como a virtude, a pedra moderadora da compreensão, com o fim de ser atingida a verdadeira essência da razão, não existe.
Numa discussão salutar, não pode haver teimosia - “só porque”!? - e tão pouco deve generalizado o “um” ou umas “dúzias” por um   todo, no seu absoluto.
É com bastante frequência que isto acontece, devido à falta de franqueza e compreensão, nas pessoas que são doentiamente emotivas e austeras, não sei se por natureza, ou por lapidação da intolerância social, que resulta em que a sua forma ser, seja concavada num espírito maniqueísta.
Quando isto acontece, os resultados não se fazem esperar, e, no alfobre social, vai abrolhando um vazio, com a perda “voluntária” das amizades que lhes deram algum trabalho a edificar.
Esta situação, após uma introspecção racional da parte pensante, acaba por intrometer-se com o lado emocional, restringindo-as a um auto-isolamento social e psicológico, que lhes cilicia e martiriza o espírito, transformando-lhes a existência, num purgatório ambulante.
A POLÉMICA, com franqueza e sem recurso à altercação, é o meio mais fino, mais sublime e mais inteligente, para que o SER HUMANO possa atingir a magnitude da RAZÃO – quando ela existe, como é inteligível.
Saibam dialogar. Analisem as diversas razões que vos são expostas e confrontem-nas com as que possuis em mente, porque, “há razões que a RAZÃO desconhece”, sem ficardes magoados.
 Ninguém se julgue dono absoluto da RAZÃO. Essa é uma posição idealista, e, como tal, descartável.
A controvérsia, além de um meio, é uma necessidade, da qual nos devemos socorrer para atingirmos a perfeição, uma vez que Deus nos cavacou com defeitos barrentos; o que em nada me espanta, ao comtemplar o trabalhão que Ele deve ter tido para conceber toda esta cainça.

António Figueiredo e Silva
Coimbra, 05/05(2020


Nota:
Sou avesso ao AO90.


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