A AZEITONA


“Todas as *pessoas são oportunistas, mas nem
 todas sabem sê-lo na oportunidade própria”.
(Maurice Chapelan)

A AZEITONA

Seja prêta, acastanhada, verde-clara, arroxeada ou verde-escura, é um fruto grandemente apreciado, principalmente pelos povos do Continente Europeu. Serve de petisco ou como entrada antes das principais refeições, para estimular as glândulas salivares ou durante o repasto, ampliar a voracidade pantagruélica à lateirice.
 No seu estado selvagem é um fruto amargo e intragável, porém, o “Homo Sapienes”, desconheço como, achou a maneira engenhosa de a desacidificar, tornando-a comestível e soberbamente apetecível.
Este fruto, depois de “pisado, repisado” e espremido, dá origem a um óleo conhecido por azeite. É um dos produtos mais adulterados no mundo, graças à esperteza química dos candongueiros, p’ra fazer render mais o peixe; assim como de água também se faz vinho, de óleo vulgar também se faz azeite – os azeiteiros digam se não é verdade.
Depois desta dissertação, que pode ser considerada como um preâmbulo, apesar de eu não ser ornitólogo, quero aqui mantear algumas palavras sobre um passareco que é um exímio guloso apreciador (na gíria “rústica”, é pelado) deste fruto; é o tordo comum, tordo-pinto ou tordo-músico com o nome científico de “Turdus philomelos”.
Este “indivíduo” alado, muito bem enfarpelado com um “casaco” castanho-creme e camisa de branca plumagem sarapintada no peito; quando aterra mai’lo seu bando, faz uma razia nos olivais que lesa os proprietários nuns futuros potes de azeite. Estes, por sua vez, socorrem-se da lei do contrapeso, e são “obrigados” a copular esta untadura angelical, com óleo de amendoim, girassol, avelã ou outro óleo comível, para com alguma mestria e sagacidade, antes que a ASAE apareça, arrancar-lhe a castidade e poderem vendê-lo como “azeite virgem”, - que já foi - arrecadando deste ardiloso tratamento “boticário”, mais uns euros à margem da lei – até tenho dó deles, coitados!
Bem, os problemas não são só estes; é que este tordo-músico, tordo pinto, ou lá o que os entendidos queiram chamar-lhe, é arquitecto em arrastar atrás de si, outras espécies de papões, que também fazem uma chinfrineira danada e são peritos na devoração das colheitas da época hibernal. É outra passarada com mesma orientação partidária, que vem sempre de olho vivo, sem fastio e de bico aberto e afiado para lixar o parceiro, se ele não estiver de escopeta na mão, pronta para lhes fazer uma espera camuflada com manha, claro, e, na altura própria, poder atingi-los a sério, ou pelo menos arrancar-lhes algumas penas do seu farsante casaco pintalgado.
Outro bico-de-obra, é que atrás desta ave de arribação e dos seus bandos, vêm outros, que embora possam não gostar de azeitona, outras “benesses” levam no “papo” sem trabalho algum. São os passarinhos, passarões, pêgas e passarêtas, que ajudam ao “divertimento”, dando cabo da produção dos olivais portugueses. Muitos deles são peritos em embucharem a azeitona e o caroço, para depois, em presunçoso chinfrim emplumado, irem cagando postas-de-pescada sem fundamento.
Se o “productor” não for mais esperto do que estas “aves destruidoras” e análogas, vai-se abaixo das canetas. Eu vejo assim!?
Contudo, sei que está predestinado no Velho Testamento: Olhem as aves do céu; não semeiam nem colhem, nem armazenam e não lhes falta o alimento”. 
Pois é, mas alguém tem de trabalhar p’ra elas, e… “quem o seu não vê, o Diabo o leva” (ditado popular).
E a “azeitona” é um dos frutos que os “passarões” apreciam muito. Com maior destaque para os tordos, que também são bastantes e matreiros.
Saia lá uma chumbadazita!

António Figueiredo e Silva
Coimbra, 12/04/2020

*Leia-se: “passaradas”.
Nota:
Não uso o AO90

     

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