VENDE-SE A "TIRA"
Exmo. Sr. Primeiro-ministro António Costa.
Esta abébia
já foi escrita e publicada em 2007, porém, como à época o então Sr.
Primeiro-ministro José Sócrates não passou cartuxo à minha sugestão, passados
dez anos e porque ainda estou vivo, faço questão em repetir a dose, crente de que Vexa. algo fará para dar
algum refrigério ao povo português, já estafado de tanto padecimento, ao que
parece, motivado pelo terrífico vírus da má gestão.
VENDE-SE A “TIRA”
(SUGESTÃO AO
PRIMEIRO MINISTRO)
Não alvitro a Vexa. um
trespasse, porque a economia está tão rastejante que ninguém vai pegar a isca.
Haveria ainda a ponderar sobre uma cedência à exploração, mas não vale a pena
falar sobre isso, porque tudo me leva a crer que esse sistema já se encontra cá
mais ou menos instalado e com gavinhas bem entrelaçadas. Analisando bem as
coisas, Sr. Primeiro-ministro, resta
apenas, em minha apreciação, a venda do imóvel, que apesar da crise com grande
evidência ser esquelética e por quase todos reconhecida, sempre vale alguma
coisita mesmo que seja ao desbarato e se a Comissão Europeia autorizar. Digo
isto porque nós já fomos independentes e “orgulhosamente sós”. É sempre bom
recordar! É que quem não se lembra do passado, está sujeito a voltar ao ponto
de partida. Até sou capaz de não estar muito enganado!
Poderá
contudo, V. Excelência imaginar:
- Porra!... Qu'este
gajo é mesmo um imbecil e um tapado!!! Até serei, quem sabe?!
Porém, se
analisar com frieza e imparcialidade o que está a suceder à vivência da maioria
dos portugueses, acabará por reconhecer que não sou tanto aquilo que possa ter
pensado, se é que pensou mesmo.
No que
respeita ao imóvel a mercadejar, a “tira”
é bastante comprida e bem atapetada por uma abundância arenosa numa das suas
bordas. No Estio, essa orla marítima possibilita àqueles que não vão para
“Bebe-e-Dorme” ou outro lado qualquer, um descanso mal merecido por um trabalho
pouco produtivo e malfeito, que de papo para o ar e de olhos e mente cerrados contemplando
o azul do céu, siderem o maior órgão do seu canastro, com grande incidência nos
seus sacos testiculares ou na sua tez mamária, amulatando-o em psicótica e
perigosa imodéstia, ruminando numa calma aparente o peso das dívidas ao
merceeiro, ao leiteiro, ao stand e à
loja de cremes e lingeries, que no
fim das férias terão de solver, custe o que custar - queira saber V. Exa. que
agora já é uso hipotecarem-se os salários aos bancos muito antes de serem
recebidos - só faltava que a Natureza lhes achatasse o nariz e lhes alargasse
as narinas de modo a poderem embutir o dedo indicador, se não forem manetas,
permitindo-lhe mudar de ideias manualmente, porque o “automatismo” intelectivo
há muito tempo que deixou de funcionar convenientemente.
A “tira”, por azar do destino, é de
largura reduzida e não tem por onde se estique; no seu interior e p’rás bordas
de lá, é uma manta de retalhos mal remendada e escanzelada pelo desmazelo, onde
há populações que enquanto ganham rugas no cérebro e na face, “resignadamente” se
vão desenrascando, graças à força de coesão da boa vizinhança, que resulta numa
entreajuda que não é usual nos grandes centros urbanos.
Dentro dos
limites da mesma “tira”, estão a
passar-se uma sucessão de acontecimentos que pela sua gravidade e aceleração,
colocam a maioria das populações numa situação de permanente insegurança e
incredulidade, que lhes inferniza o espírito e lhes castra a vontade de dormir
descansadas.
A criminalidade aumenta, à medida que a
autoridade policial diminui; o crescimento desmesurado de parasitas e malandros
são também uma chaga bem visível do nosso tempo, porque para esses há subsídios
para tudo.
Encerram maternidades,
urgências, postos de saúde e escolas; das grandes, médias e pequenas indústrias,
umas diluem-se por má gestão e consequente falência, outras levantam ferro
desta “tira”, zarpam e vão pastar
para outra banda onde possam existir melhores condições de segurança económica,
mão-de-obra mais barata e tranquilidade legislativa; em consequência deste
conjunto de situações, o desemprego é notoriamente crescente.
Diminuem as comparticipações no sector da saúde;
aumentam os impostos e as taxas moderadoras; aperta-se o arrocho através dos
braços musculosos e benevolentes dos elementos do fisco, facto que
provavelmente não se aplica a todos com absoluta imparcialidade. Tudo isto, na
miragem de um restabelecimento da economia, que cada vez está mais deficitária
e igualmente longínqua.
Por isso, uma
grande maioria se interroga: o que será que o futuro reserva, já não digo para
nós, mas para os nossos filhos, netos, etc.?...
É por toda
esta “trovoada” de acontecimentos que tem vindo a conturbar os ânimos de todos
nós, que eu, Sr. Primeiro-ministro
António Costa, venho sugerir a V. Exa., no mais fino, respeitável e
requintado trato de que é merecedor, (?) que proponha aos Parlamentares a venda
desta “tira”, que mesmo com todos os
buracos que a minam e deformam, há sempre a possibilidade de aparecer um lorpa
que lhe pegue e talvez nos governe melhor - não quero com isto dizer que V.
Exa. tenha vindo a governar mal, mas talvez não o suficiente - ainda temos na
cilha mais alguns furitos para
apertar!
Para tal
efeito penso ser condição essencial colocar nas fronteiras, que apesar de não
existirem ainda subsistem marcas geológicas que atestam a sua demarcação, umas
dúzias de tituleiros brancos, com as palavras nitidamente gravadas a preto: VENDE-SE A “TIRA”. E por baixo, em
pequenos caracteres, como quem não quer a coisa: por motivo de saúde –
sem dizer a causa da maleita, claro.
Com esta dica,
que é dada de boa vontade, pode suceder que um dia V. Exa. se lembre de me
nomear conselheiro de Estado ou por generosidade democrática, me ofereça uma
penitênciazinha de clausura.
Com tanta
coisa que já vi, sei lá?!
António de
Figueiredo e Silva
Coimbra,
26/04/2007
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