DESPOTISMO

Partindo de uma liberdade ilimitada
chega-se a um despotismo sem limites.
(Fiódor Mikhail Dostoiévski)


DESPOTISMO
      

Pode parecer que não, todavia, as componentes filosóficas que rodeiam o despotismo são tangenciais, senão convergentes, às linhas ditatoriais. Existe aqui um entrosamento paramétrico que torna difícil a separação de valores, pela sua real equivalência.
Um déspota, certamente jamais o seria, se não tivesse recalcamentos de personalidade provocados por ordem vária, que o auto-pressionam a tomar esta posição, como uma afirmação fraudulenta daquilo que na realidade não é, mas apenas porque o seu carácter exige para manter em equilíbrio o seu egocentrismo. No entanto, devido à sua maneira de ser, ainda que fingida, advêm situações perigosas e aflitivas para ele, que está debaixo da sua própria alçada e para os outros que comanda, piorando a situação se ele se encontra numa posição de indubitável proeminência mandatária.
O déspota comporta-se como um cavalo com o freio nos dentes; só descontinua subjugado pela falta de oxigenação encefálica, pelo entorpecimento dos tendões que o movem, ou pela flacidez das suas ou das “patas” dos burros, que num gesto de gratidão por lhes ser permitido poderem comer à vontade à mesma manjedoura e da mesma palha, suportam o alvalade onde ele galopa.
Ele, porém, só manifesta as suas soberanas tendências, quando se sente convenientemente apoiado por uma maioria absoluta, sendo que de burro não tem muito!… Mas tem a sua quota-parte. E a consolidar esta teoria, muitos, com inteligência diminuída mas com esperteza apurada, sabem servir-se convenientemente da parte asnada do déspota, para levar a cabo os seus intentos perniciosos e “amealharem” consideráveis fortunas, que lhes permite viverem a grande e à francesa como autênticos pachás, cuja genuinidade não tem deixado dúvidas.
A sede de ostentação e afirmação do tirano são notoriamente visíveis e a sua filosofia de governar, seja o que for, é baseada num autoritarismo cego, sem ponderação e de dúbia consistência, que não oferece qualquer réstia confiança a nível social, económico e financeiro a todos quantos dele dependem, excepto às rémoras que em imune inutilidade o rodeiam, e à deficiente esperteza da cáfila de tendências masoquistas que, blaterando, o apoia, apotentando-o.
O despotismo é o predicado do indivíduo cuja estabilidade emocional se encontra num estado de debilidade salutar e baseia todas as suas decisões numa pequenina frase que não deixa dúvidas quanto à sua imperactividade, onde a hipoactividade espiritual é evidente:
 - “Se queres, queres; se não queres, queres mesmo”!
Um déspota ou um ditador navegam lado a lado pouco diferindo nos azimutes, não obstante a existência de determinada germinação de aprasmo entre si.

António de Figueiredo e Silva
Coimbra, 14/05/2017


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