A ARTE DE BEM MONTAR
Porque amanhã
vão ser inaugurados os túneis da serra do Marão onde este “saca-rolhas” irá
estar presente, gostaria de brindá-lo mais uma vez com este articulado, que
apesar de ter sido difundido em alguns periódicos – na época – e já com algumas
teias de aranha, demonstra bem a certeza de um vaticínio que se tem vindo a consumar,
graças à sua péssima governação.
A demonstrar
isso, nas PPP/s, o último “P” nunca tem prejuízo.
Se o houver,
paga o “Zé”.
ARTE DE BEM MONTAR…
(Carta aberta ao Primeiro-ministro)
Exmo. Sr.
Enquanto estou embalado
pela “convicção” transmitida através dos falamentos de alento e confiança que
V. Exa. tem dado aos portugueses no decurso das palestras televisivas, eu quase
me sinto verdadeiramente como um peixe na água, por sinal bastante poluída para
o meu gosto. Oxalá que não me arrependa e não venha a sentir-me como o boi na
bosta, remoendo a pensativa palha proveniente do campo da incompetência. Não
colocando à margem esta circunstância, provavelmente será a mais certa. Mas
longe de mim tal ideia!? Isto é apenas uma divagação e penso que não me irá
levar a mal por isso.
A governação
tem sido boa, isto é, à maneira de V. Exa.. Os portugueses, apesar de um
macilento sorriso, até tiveram mais dinheiro para gastar em prendas neste
Natal, segundo as resenhas levadas a efeito pelas diversas emissoras de
televisão, que gravitam à roda do sensacionalismo, principal objectivo da sua
caça às audições, que de boca aberta e mente cerrada, ouvem verdades e mentiras
sem saberem destrinçar o trigo do joio.
Saiba V. Exa.
que eu nunca acreditei no pai natal, razão essa que me leva a ser apreensivo,
não acreditando com excitado fanatismo em tudo o que ausculto. Por tal razão,
penso que os portugueses foram “salvos” pelos cartões de crédito generosamente
oferecidos pelas instituições bancárias, cujo gesto de falso altruísmo irá ser
pago com língua de palmo e meio.
Estamos a viver
à fartazana, não estamos? Comidinha não nos falta; louvado seja Deus e aos
fiados; temos muito futebol, onde até se usam corruptos apitos dourados;
demo-nos ao luxo de perdoar as dívidas a alguns países africanos e injectamos
uns trocados noutros, sem qualquer exigência; democracia também não nos falta,
senão eu não poderia estar aqui a dizer estas “bacoradas”; no entanto, devo
dizer que até estava a precisar de um “hotel” à custa do contribuinte, pois já
não sou de tenra idade e sinto mais necessidade de meditar do que de trabalhar.
Mais agora, com o encerramento de Urgências Hospitalares, abaixamento da
comparticipação medicamentosa, quinhão hoteleiro no alojamento hospitalar e nas
intervenções bistúricas, subida de 6% na energia eléctrica, uma bicadazinha na
H2O, “pequenino” ajustamento no preço dos inflamáveis provenientes do ouro
negro, acerto previsto nas indústrias de panificação que ronda os 20%,
subidazinha no preço dos transportes e irrisório aumento das reformas, confesso
que, abraseado como ando, tenho muito medo de andar à solta!?... O que acha V.
Exa. deste meu pavor? Será por acaso esta pergunta inconveniente?... Ou
pertinente?
Apesar de eu
ser bastante “pessimista”, como pode verificar, tenho gostado das palavras
sabiamente articuladas por V. Exa. e sei que são imbuídas de uma facundidade
fora do normal, o que mostra ser um verdadeiro aldrete, cuja oratória é
convincente na sua forma e, sem sombra de dúvida, apodíticas de uma boa
governichação. E muito mais o serão, para aqueles que “sabem” o que é política,
que não eu, e para todos os outros cuja miopia cerebral alterou a densidade
intelectual da sua massa encefálica.
Sabe Sr.
Primeiro-ministro, quando uma pessoa passa dos sessenta, aquela fasquia que
muitos parvalhões intitulam de terceira idade, já não diz coisa com coisa; mas
deixe-me lá desarrolhar o meu gargalo um bocadinho, porque entendo que já
baixei as “calças” demais, e daqui a pouco...!
Até agora
versei, suponho eu, sobre a parte socio-económica, desenfreada peste negra que
está assolando impiedosamente os portugueses, sobretudo os mais desfavorecidos
– o que lhes vale são as Bem-Aventuranças, mas que não dão comer a ninguém.
Sem me alongar
demasiado, gostaria de dissertar somente um pouco sobre a parte unicamente
social, começando pela segurança que não temos. Ah, pois não!?... V.
Exa. não sabia? Então se à própria polícia não é concedido o poder de
defender-se das agressões físicas e verbais de que muitas vezes é vítima, como
pode ela defender-nos? Seria um contra-senso fazê-lo. Se o professorado é tão
depreciado e desautorizado, como pode conceder uma cabal educação, quer
científica quer cívica? Actualmente, eu não gostaria de ser professor, Sr.
Primeiro-ministro! E sei que muitos o são, devido à carência que têm de um
salário, porque por motivação, certamente que o ensino desertificaria e
ficaríamos com uma superfície territorial pejada de camelos. Agora, devido à
abastança de iliteracia no nosso país, já é permitido ou está em vias disso, o
professor ser aquilatado por qualquer asino ou desensinado, que pode não dizer
duas p’rá caixa, mas faz barulho… E por vezes vence. Sobre a justiça, não é
necessário dizer nada, porque é cógnita a sua “indubitável” credibilidade e
rectidão, isto é, quando não aparece nenhum “pedregulho” pelo caminho e os
nossos são muito pedrosos, como certamente V. Exa. já se deve ter
inteirado.
Olhe Sr.
Primeiro-minisro José Sócrates; já deve estar fartinho de padecer ao ouvir
o asneirêdo deste velho ranhoso e iletrado, porém como ainda não ervilhei, não
vou terminar sem antes sugerir uma coisa a V. Exa.: muito eu gostaria, que à
semelhança do nosso rei D. Duarte de Bragança, mui entendido na arte de
cavalear, que até escreveu um livro intitulado”Arte de Bem Cavalgar Toda a
Sela”, V. Exa. escrevesse também um, que similarmente ficaria para a história,
porém, que tivesse por título, “Arte de Bem Montar Todo o Asno”.
Não seria
despropositado, pois não!? Eu penso que devia ser fantástico!
António
Figueiredo e Silva
Coimbra
17/042007
ou:
www.antoniofigueiredo.pt.vu
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