A PENEIRA
A
PENEIRA
Sempre
que ingloriamente uma peneira tente
tapar o sol, apenas o consegue se as mentes forem cegas de nascença ou sofram
de outra enfermidade que lhes altere os critérios visuais. No entanto, é
justamente por causa do prática abusiva da peneira,
que nós estamos no estado deplorável em que nos encontramos, no qual a corpulência
não para de medrar.
Essa condição lastimável deve-se à
podridão que tem existido nos órgãos do poder, criador de mecanismos
complacentes, que, untados pela corrupção margeada pela impunidade, têm possibilitado
o seu desmesurado alastramento que nos tem encaminhado para a indigência de
quase tudo, com a consequente perda da nossa identidade como nação
independente.
Na política, o uso da peneira transformou-se num hábito cretino
e mentiroso, por onde só passa a sonância das doutrinas e promessas desprovidas
de senso, porém, que agradam às perspectivas mais malucas que vagabundeiam nas
mentes bloqueadas pela boa-fé ou pela ignorância. Todavia, aqueles que vêem a
manha e a avelhacaria por detrás da peneira,
também fazem parte das massas coagidas às imolações impostas, graças aos
crédulos que beatificamente olham a peneira
pela frente serem em maior número, permitindo por isso, que os verdugos subam
ao patíbulo e delapidem impunemente toda uma população, pagando deste modo, o
justo pelo pecador.
A peneira
só deixa passar os argumentos do sonho, retendo do outro lado o amargor da
realidade, sendo por isso o instrumento mais antigo usado na política, onde
todos os elementos têm andado a peneirar para dentro dos seus interesses e não
para interesse dos seus vassalos, que somos todos nós.
Este instrumento de apertada malha, tem
sido usado com mestria por peneiradores sem escrúpulos que se consideram uma
elite, - sem qualquer centelha de ética – que constituem grupos de interesses,
apadrinhamentos, corrupção e ladroeira emolduradas no desprezo pelo próximo,
falta de honra e sensatez, numa verdadeira podridão oligárquica que o povo, sob
uma ditadura encapotada, é obrigado a sustentar.
E
assim vai andando a nossa “elite” opaca, desprovida de quaisquer virtudes de
elitismo, a conceber privilégios à nossa custa, tapando o
sol com uma peneira que a labreguice
não deixa ver o lado de lá.
É deste modo singelo e matreiro, que nos
vêm tapando o sol com uma peneira.
António Figueiredo e Silva
Coimbra, 06/08/2015
www.antoniofigueiredo.pt.vu
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