O SÓSIA
O SÓSIA (Divagações)
Ele anda por
aí!
Sede dignos
das vossas afirmações, mantendo uma coerência uniforme, elegantes na postura, -
de boçalidade está o povo farto - limpos na imagem, ponderados nas decisões e
seguros nas vossas tomadas de posição!
Refreai a
endemia gananciosa que vos persegue, e não queirais mais do que a razoabilidade
permite! Confeccionai a justiça justamente, para que a pedra não possa furar a
teia de aranha como tem vindo a acontecer! Sede austeros nos vossos gastos e
modestos na cobrança dos impostos, porque isso castiga o espírito e aleija o
corpo da arraia-miúda.
Antes de
continuardes a delapidar com os de fora o pecúlio que não existe, lembrai-vos
dos de dentro, que têm de o solver, empenhando o seu suor, dando o seu corpo ao
manifesto! Não deixais que a corrupção vos mine a moral, se acaso ainda a
tiverdes, porque esta virtude está em vias de extinção mas ainda pode ser
recriada! Restituí aos cofres as barras de ouro que perdulária e
inconscientemente foram dizimadas ou penhoradas por pançudos hipócritas e
apátridas, que ainda hoje sobrevivem à sua sombra, a coçar, com ar de estúpido
deleite, a sua bem anafada barbela! Acabai com os oportunistas sem pejo, que
são um carcoma nocivo à economia e à sociedade e incentivai ao trabalho dando
exemplos concretos que até agora não tendes exibido! Retirai o direito à
filosofia dos Direitos Humanos, àqueles que se esqueceram de os aplicar ao seu
próximo! Adaptai a Lei das Sesmarias aos parasitas, ácaros, bactérias,
salmonelas e vírus, essa cáfila merdosa que cada vez mais apeçonhenta o cerne
da nossa sociedade!
Quando
comerdes lagosta, lembrai-vos daqueles que nem uma reles sardinha têm para lhes
estancar a saliva; quando vos deitardes num colchão de penas, recordai-vos
daqueles que dormem o sono dos justos numa caixa de cartão, numa estação do Metro, debaixo de uma árvore, ou ao
relento, no ladrilho “lêvedo” da calçada portuguesa, ao lado de uma untuosa
garrafa vazia, cujo fluido lhes serviu de cobertor. Quando empanzinardes o
vosso bucho com iguarias, lembrai-vos daqueles que nem um caldo têm para
mitigar a larica que lhes aperreia a resignação e lhes faz derramar lágrimas de
raiva com que regam os pensamentos amargosos e por certo, com veios de
vingança.
Quando por
motivos de emergência e com as vossas avantajadas capacidades económicas,
entrardes numa clínica privada, ou apadrinhados por algum “tubarão”, num
hospital público, se ainda tiverdes discernimento para pensar, lembrai-vos
daqueles que por terem sido insensatamente encerradas algumas urgências, têm
grandes possibilidades de chegarem ao destino feitos cadáveres, habilitados a
serem enfiados num esquife.
Quando as
vossas mulheres ou filhas tiverem que dar à luz, não vos esqueçais daquelas,
que por terem sido irresponsavelmente fechadas algumas maternidades, se vêm
obrigadas a engendrar como local de nascimento, uma ambulância ou um monte
qualquer, nem que seja de palha.
Lembrai-vos
sempre, quando passardes pelas ruas com a vossa comitiva a rolar alta
velocidade, a compor “musicalmente” um irritante e poluente chinfrim, de que o
povo também reclama segurança; tem direito a dormitar descansado. Confiram
poder à autoridade para que ela possa promover a ordem, em vez pensarem na
liquidação de alguns dos seus postos de difusão.
Fazei por serdes
dignos dos votos confiança, que muitos, numa expectativa cega vos concederam.
Sede patriotas
por dentro e por fora e responsáveis pela incumbência a que vos propusestes
perante o eleitorado.
Era isto que
ele teria continuado a fazer, se não tivesse sido traído pela instabilidade de
uma cadeira de conivência com a força da gravidade. Os bois continuariam dentro
do rego.
Mas,
corrigi-vos enquanto é tempo!
Tende siso na
vossa tinêta, olhem que ele anda por aí! Eu vi-o!...
Se não é ele,
é um SÓSIA.
António de
Figueiredo e Silva
Coimbra
www.antóniofigueiredo.pt.vu
Comentários
Enviar um comentário