EU DEMITIA-ME


EU DEMITIA-ME

Se à minha volta rodopiassem intempestivamente acentuados rumores de desconfiança que colocassem em causa a minha integridade e a minha capacidade intelectual, ai… Eu demitir-me-ia, com toda a firmeza.
Depois de tantas manifestações e comentários de achincalhamento, suspeição, revolta e contestação, derramadas sobre a ministerial cabeça, que colocam em causa a sua capacidade e a fidelidade para superintender o papel de que foi incumbido, não sei porque Miguel Relvas ainda o não fez!?
Ista atitude leva-me a pensar que a verticalidade da sua personalidade não existe, rondando contudo, uma inconsistente direcção hiperbólica. Mantém-se com requintada teimosia aglutinado ao poder, da mesma forma que uma lampreia se agarra ao seu estalajadeiro, não se importunando com as variações da maré.
Pessoalmente, não considero a caturrice um acto de coragem, nem tão pouco a justificação ilibatória de qualquer acto menos próprio, ainda que os tribunais considerem o contraditório.
Pelos dados que têm emergido e andado à tona nas ondas hertezianas ou circulado na fibra óptica da nossa informação, quer-me parecer que a “formatura-à-bolonhesa” de Miguel Relvas, concedida através de créditos, afinal não conferiram crédito algum.
A mente humana, na sua viagem ampla e ilimitada, foge radicalmente à objectividade das regras e envereda por outros caminhos que não os estipulados pelo “consenso” da lei. Esta (lei) pode desacertar, como muitas vezes tem acontecido, pela interveniência de fortes e tentaculares interesses exógenos, cujas ventosas agarram e entortam a sua filosofia aplicativa. Bem sabemos que assim é.
E é precisamente pela fuga à objectividade das regras que a mente sensível se embrenha no fumo; este, pela sua orientação, denuncia o fogo, que em princípio pode não ser visto, mas da sua existência não haverá incertezas, porque são companheiros indivisíveis.
Se me cheirasse a fumaça, mesmo que não tivesse sido eu o autor do labarêda, arrumar-me-ia imediatamente, não por cobardia, mas por fidelidade a mim próprio e aos princípios pelos quais me oriento. Não compreendo como Miguel Relvas não o faz!? Se calhar até cometia um acto de grande benevolência para com Passos Coelho e consequentemente para com o governo.
A época e a coragem de Martim Moniz foram postas à prova noutros tempos e segundo uma firme e sentida maneira de pensar: o puro patriotismo. Actualmente esta virtude, se assim podemos apelidar, passou para segundo plano.
EU DEMITIA-ME.


António Figueiredo e Silva
Coimbra
12/07/2012

www.antoniofigueiredo.pt.vu


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