Sonha e serás livre de espírito…
…luta e serás livre na vida.
(Che Guevara)
A LIBERDADE
(II)
Ela existe sim,
sempre que o empenhamento de cada um de nós se mantenha com abertura suficiente
para caber o respeito pela independência espiritual dos outros. Por vezes custa
um pouco quando verificamos que os outros estão a subestimar a nossa. São os
“artistas” da nossa sociedade combalida, os cabouqueiros da nossa
instabilidade. Eles vêm a liberdade pela parte que mais lhes convém, porque ela
pode apresentar-se de duas maneiras abissalmente opostas, segundo a percepção e
a formação cívica e intelectual de cada um: uma que não passa de uma velhacaria,
um embuste, encenados por fingimentos calculistas, talhados à dimensão das
conveniências onde jazem as ideologias ferrenhas e ambições pessoais; outra, que consiste na
independência da pessoa em si, e lhe outorga a possibilidade de gozar de
autonomia e naturalidade no que concerne aos seus pensamentos, e expô-los, sem
temor de consequências nocivas à sua linha cognitiva, ou mesmo, à sua
integridade física. Apesar da noção de liberdade ser de concepção idealista,
ela existe; acontece porém, que as suas limitações variam consoante a cultura
intelectual e tradicional de cada povo não excluindo o bolor intragável da
loucura sectária, que consegue contaminar as mentes mais fracas.
Acontece por
vezes que os frutos decorrentes de determinadas maneiras de pensar, quando expostos,
não são bem aceites por alguns elementos da comunidade que, com todo o direito
que os comtempla, podem ou não aceitá-los; mas isso já é uma questão de opção e
ao mesmo tempo, uma forma de liberdade também.
Não contemplo
por isso razão alguma, a não ser a pateguice, para não se gostar, ou mesmo
odiar, quem não comunga dos nossos ideais.
A liberdade,
para além de nos permitir a aquisição de uma visão geral do mundo que nos
rodeia, sob a forma de doutrinas, concepções e ideias, dá-nos também a
possibilidade da exposição dos mesmos à luz brilhante do conhecimento,
arrancando-nos desta forma, do mundo cinzento da ignorância e da solidão espiritual
e colectiva.
É natural que
esta independência, se não for autocontrolada, pode acarretar muitos
dissabores; pode cindir a firmeza social e a estima entre pessoas, se ela entrar
na crítica negativa ou for considerada como um instrumento de manipulação ou de
subjugação, onde o convencimento patente tem como objectivo primeiro, a
dominação da mente em favor de interesses ideológicos determinados.
A liberdade
pode considerar-se como o sol que dá vida ao nosso pensamento, orienta as
nossas emoções e alimenta a nossa estabilidade emocional e social.
Para isso, é
fundamental que ela seja isenta de intolerâncias de quaisquer espécies, porque
estas afugentam a realidade dos nossos sentidos; assim sendo, não nos permitem
ter debates abertos onde possam existir trocas de conceitos, sem altercações,
com vista à limagem do que poderá ser o ideal para o nosso bem, e consequentemente
para o bem da comunidade em que estamos incluídos.
Muito gostava
eu de ser livre!
António
Figueiredo e Silva
Coimbra,
31/01/2017
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