A educação é um
processo social, é desenvolvimento.
Não é a
preparação para a vida, é a própria vida.
(John
Dewey)
A DEGRADAÇÃO SOCIAL…
…Decorre da existência
de muitos pais que têm filhos e poucos filhos que têm pais, dando como
resultado que uma parte da sociedade aja sem pensar e outra pense sem agir.
É na realidade
desta dicotomia que o tempo se vai volatilizando, apesar de ser uma das maiores
perdas da neo-sociedade, e esta, sem dar por isso, se vai afundando cada vez
mais.
A meu ver,
actualmente sufoca-se o espírito da criança com conhecimentos inúteis, fazendo
delas uns seres insalinizados, cujas características mantêm pela vida fora; e
nós, os seus mentores, não temos autoridade moral para nos queixarmos.
São raras as
crianças que hoje nascem e crescem sob a noção dos valores que devem compor uma
sociedade normal, que são a ética e a moral, alicerces sobre os quais se
constrói um mundo civilizado. Sem estes conceitos, tornam-se seres egoístas e
prepotentes, verdadeiros blocos do puro despotismo.
De há uns anos
para cá, a criança nasce e é entregue a instituições que têm por missão tomar
conta delas, alimentá-las, distrai-las mas não educá-las. A educação tem outras
componentes que são a afectividade familiar e o seu comportamento, para os
quais a criança dispõe de escasso tempo para os compreender, apreender e
analisar à sua pueril maneira. No parco tempo que tem para estar com a família,
esta dá-lhe tudo e em tanta demasia, que o excesso inconsciente acabará por
deformar a maneira de ser da criança, fazendo dela um ser descaracterizado,
resultado de uma vontade subdesenvolvida.
Não são os
tempos que são maus. A sociedade é que os torna maus, porque a sua ambição
materialista se tem sobreposto cada vez mais à afectiva.
É por isso que
a sociedade está miserável, porque não sabe ver, nem tão pouco entender os bens
que estão ao seu alcance.
Hoje vive-se
num lago com peixes em que a água quase se evaporou, mas muitos não vão ser
capazes de encetar diligências quando novos, sujeitando-se depois a uma velhice
amarga e melancólica, como resultado dessa educação deficiente. Sim, porque a
educação consiste em saber dar à criança, nem de mais nem de menos, porém a
dose certa de amor, condimento inexistente nas instituições que delas tomam
conta ou nas amas sêcas.
É precisamente
neste doseamento que se imprime na criança a dureza do betão na vontade própria
que mais tarde ela poderá impor aos diversos problemas que eventualmente lhe
possam surgir, para não ser dominada por eles.
E é também
pelo negligente doseamento desse betão, que a sociedade está a entrar numa
degradação já bastante acentuada, que eu presumo sem possibilidades de
regressão, apontando mais para um calamitoso colapso social e consequentemente
da vida.
António
Figueiredo e Silva
Coimbra
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