APURAR (Investigar)



A punição certa para os corruptos e vigaristas,
seria retirar-lhes o que têm, no valor directamente
 proporcional às suas falcatruas.
(A. Figueiredo)

APURAR
(Investigar)

Vamos apurar, vai ser apurado, estamos a apurar, está a ser apurado, vai-se apurar, tem de se apurar, estão a apurar, etc.
Foi o vocábulo escrito e verbalizado mais exercitado em Portugal, no século XXI, e o Sr. Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, foi a figura de proa que mais esfrega lhe deu.
 O verbo apurar.
Apurou-se Tancos, apurou-se o Bairro da Jamaica, apurou-se “tudo” – mau, mau! - sobre as falcatruas bancárias, apurou-se ou por outra, continua a apurar-se sobre os donativos de Pedrógão Grande, apurou-se sobre o enriquecimento rápido de alguns membros - ou ex. - do Governo, apurou-se sobre a enigmática metamorfose dos CTT, apurou-se sobre as causas criminosas das combustões que incineram grande parte da floresta e fauna portuguesas, não apartando como é evidente o “corte de cabelo” ao Pinhal de Leiria, apurou-se também sobre algumas “bastonadas” que elementos da autoridade “amistosamente” distribuíram àqueles que andavam a pedi-las, acabando os primeiros por ficar mal na fotografia e por causa dessa imagem “defeituosa” terem levado com processos em cima, etc.
Mesmo com o “sacrifício” de muitos, hipotecado em todo esse trabalho de “sapa”, que é o de apurar, é bem provável que não possam ter apurado muito, ou nada, faltando por isso, ainda muito mais para apurar, não é verdade?!
Até mesmo apurar, se houve ou não um verdadeiro apuramento – não é duvidar de ninguém, porém não estará fora das probabilidades.
Decorrente da celeridade e da desenvoltura das nossas instituições ligadas à matéria, as questões a apurar fazem uma bicha de tal grandeza, que as investigações em vez de correrem vão-se arrastando, arrastando, arrastando, até que a perturbação noticiosa passe e o povo, exausto de inquietação à espera da conclusão sebastianista, acabe por se deslembrar.  
Isto do apurar, tem muito que se lhe diga e não adianta andarmos a apurar as razões para não nos metermos em apuros, porque a água onde os apuramentos se movimentam está bastante barrenta e repleta de bicharada possuidora de perigosa ferradela.
Não duvido que não estejamos a habitar numa nacionalidade onde os apuramentos são o pão nosso de cada dia; o que geralmente acontece é que os desfechos dos esquadrinhamentos se dilatam no tempo e acabam por se perderem pelo percurso, que é sinuoso e bastante complexo. Acontece muitas vezes o seu trilho ser obstruído ou desviado por “calhaus” influentes, cujo objectivo é abrandar, ou mesmo, incapacitar a andadura das averiguações, com vista ao apurar.
Sempre a apurar, sempre a apurar, sempre a apurar, sem se contemplarem os resultados dos apuramentos, resta-nos apenas a realidade de que nós é que ficámos em verdadeiros apuros, por causa dos “apuros” dos outros, ficaram por apurar.
  Foi a “porcaria” desta análise que acabei de apurar.

António Figueiredo e Silva
Coimbra, 04/03/2019

Obs: o Acordo Ortográfico,
 ainda não me cheirou.

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